terça-feira, 7 de julho de 2009

Nostalgia eletrônica, pt II.

Cá está o nerd novamente. Primeiramente, deixe-me estabelecer uma errata sobre o post de ontem: ontem não foi segunda 13, como muitos perceberam - ou não. É que meu estado semi-letárgico em que me encontrava ontem me tornou um ser desatento, que adiantou em uma semana seu calendário. Enfim, é um pequeno deslize, que a ninguém irá incomodar, não é mesmo.

Continuando a narrativa de ontem, e voltando à linha do tempo, creio eu que Krondor foi decisivo para me definir como aficionado do gênero RPG, e como disse, eu me dediquei àquele jogo de maneira quase insana: joguei e joguei e aprimorei-me tanto naquilo que ouso afirmar que fui o melhor jogador daquele jogo do mundo inteiro. Ehehehe, hoje em dia sei que não podemos afirmar tais coisas, pois sempre, sempre haverá alguém mais louco ou melhor que você, não importa o que você faça.

Enfim, eu continuei explorando a linha dos compurtadores, meio que abandonando jogos de consoles, mesmo porque jogos de computador poderiam ser pirateados, enquanto cartuchos de videogames não. E não me arrependo de ter pirateado nada, não me importo com isso. Então, ao longo dos anos, joguei muito Ultima VII, que resolvi quase todo sozinho, sendo um dos jogos mais difíceis e rico em detalhes. Adorava quebrar o protocolo de ser o eterno bonzinho e sair matando todo mundo que encontrava no caminho até os guardas baixarem em cima de mim e me cobrir de porrada.

Outro genêro de jogo, por muitos condenado, por mim adorado, é aquele de primeira pessoa, de tiro, estilo Doom. Lembro-me que já havia jogado o avô destes jogos, chamado Wolfenstein, em que se matavam nazistas em corredores de algum castelo alemão na segunbda guerra mundial. Mas quando vi Doom, eu fiquei embasbacado. Na época, era o que havia de mais impressionante em termos de gráficos. E joguei e joguei aquilo e vários de seus sucessores/irmãos/parentes/similares, tipo Heretic, Hexen e Rise of the Triad. Lembro-me bem de meu irmão rolando de rir de mim a respeito do quão viciado eu estava no Hexen: a uma certa altura, eu já sabia tudo que iria acontecer, eu entrava em um portal e já sabia a música que iria tocar.

Lembro-me de um natal, acho que em 1994, em que meu computador havia apresentado um erro e havia quedado-se silente e morto; na ocasião, eu senti a falta de um joguinho igual um viciado sentiria falta de drogas, creio eu. Lembro-me que foi de fato muito incômodo e sofrível. Um indicativo certo de que eu havia desenvolvido uma dependência de fato destas coisas, por assim dizer. E continuei assim, anos e anos, jogando um, jogando outro. Lembro-me a alegria que foi quando um outro amigão nerd, o Rodrigo, me falou que havia maneira de jogar velhos joguinhos de consoles em um computador, usando-se programas que emulavam os consoles. Tirei a barriga da miséria dos títulos que não havia tido acesso na época áurea dos consoles de 16 bits. Passei horas e horas no laboratório de informática da Federal, na época da biologia, baixando ROMs e mais ROMs de joguinhos. A conexão dali era infinitamente melhor que a conexão de casa, que ainda era discada.

Como se pode ver, estas coisas me acompanharma por toda a minha vida...e nunca percebi o tanto que eu gostava, e gosto de tais coisas, até o ano de 2006. Foi um ano traumático para mim, pois eu havia resolvido chutar o balde da minha segunda faculdade, esta a de Belas Artes, que havia se tornado um pesadelo para mim. Eu estava na pior, sem emprego, sem faculdade, sem nenhuma perspectiva, e estava cada vez mais viciado em outra coisa, esta muito menos salutar(ao menos do ponto de vista médico) que os joguinhos, a saber, os bastonetes cancerígenos denominados ordinariamente cigarros.

Neste ano...mais especificamente no dia 12 de outubro, que havia ido ao Retiro encontrar-me com o Rafael, eu fui apresentado a uma coisa que mudou definitivamente minha visão sobre jogos, modificando todo meu conceito estabelecido até então entre a correlação entre jogo e vida real.

A coisa em si, se chamava World of Warcraft.

Não sei nem onde começar a falar disso, e tenho tanto, mas tanto a falar disso, que creio eu que não deveria falar disso aqui, neste capítulo em especial, pois irá se tornar algo muito, mas muito extenso mesmo. Quem me conhece e quem conhece o jogo em questão sabe do que estou falando. Tornarei a este assunto em breve, pois a coisa está fervilhando na minha cabeça por todo este ano de 2009, ano em que resolvi dar um tempo na coisa, que nunca havia deixado de ser parte(importante) de minha vida desde aquele feriado do dia 12 de Outubro de 2006. Prometo que falarei na coisa com mais detalhes eventualmente.

Em retrospecto, acho interessante até para mim mesmo ter escrito todo este texto a respeito da suma importância que estes artigos modernos de entretenimento repreentaram e representam para mim até hoje: pois eu nunca, em nenhum momento de minha vida deixei de ser o que sou: um gamer. Um viciado em jogos eletrônicos, um nerd, um geek, seja lá quantas denominações existem para estes termos.

Neste passado fim de semana eu tive um exemplo claro do quanto isto é intrinseco à minha pessoa: passei todo o tempo ali, reunido com meus amigos, jogando joguinhos numa mini-rede e me divertindo horrores. E me fez muito bem fazer aquilo. E quanto mais paro pra pensar, mais vejo que a coisa realmente faz parte de mim, e sempre fará parte de mim, por mais que eu queira negar ou queira mudar...se é que é isto é necessário mesmo. Ou mesmo possível.

Pois, quanto mais o tempo passa, mais eu quebro e quebro minha cabeça tentando encontrar um ponto de equilíbrio em minha existência, por assim dizer, um objetivo de vida, sei lá. Um propósito maior, coisa assim. E quanto mais o tempo passa, quanto mais eu tento me desvencilhar disto, mais em me agrido, mais eu me machuco. Não sei bem explicar: talvez alguns de meus compatriotas tombados no dever de serem apreciadores destas coisas saibam do que estou falando.

De fato, creio eu que sempre me refugiei em tais ambientes virtuais ao longo de minha vida, mais por tentar...não sei bem dizer, fugir das coisas que não entendo, que não aceito.

Isto é a definição clássica de um viciado.

Encontrar refúgio em algum lugar que é à parte da realidade. Que não existe fora da caixinha do computador, do console. E estar à parte da realidade é tentar fugir dela, mas é algo que não pode ser executado. Não sem consequências: não se pode fugir da realidade. Mas o que representa arealidade para uma pessoa como eu, que reclama de tudo e de todos, que não concorda com o mundo, que se sente tão à vontade no mundo quanto um cara de 2 metros e vinte de altura se sente viajando na classe econômica em um avião da GOL.

E o que isto significa? Que sou uma aberração, que sou um sociopata? É um imenso paradoxo na minha vida: tento afastar-me das coisas virtuais, mas por mais que tente, não consigo me desvencilhar do fato que não consigo me integrar ao mundo, pelo menos não da maneira que as pessoas ditas "normais" o fazem; não da maneira que a sociedade de mim o exige.

E arrisco-me a afirmar que todas, TODAS as pessoas tÊm suas maneiras de se desvencilhar da realidade, assim como eu. Elas apenas têm formas difertentes de o fazer: torcer para um clube de futebol....acompanhar uma novela, um seriado de TV...assistir filmes....até mesmo ler livros. Existem pessoas que fogem do resto se afogando em serviço, se matando de tanto trabalhar para uma empresa que não estará nem aí para tal pessoa quando esta sofrer um ataque do coração devido ao stress gerado por se imergir tanto no compromisso assumido com o dito profissionalismo.

Não creio que minha analogia é de todo incorreta, se você parar para pensar, e se você possuir um pouco de inteligência e senso comum ao fazer tal analogia. Proponho o seguinte exercício: pare para pensar e anlise suas atividades. Pago para ver se existe alguém que não possua uma atividade que vos desligue de seus problemas, de sua realidade, por assim dizer. Pare e pense, cuidadosamente. Você pode se refugiar de maneira semelhante à deste malfadado nerd que vos escreve, em atividades até inusitadas, como tricô...jardinagem...esportes...coleção de selos...montagem de miniaturas...e tanta e tantas e tantas outras. Para a galera que me conhece por outra dita afinidade, fiquem sem desenhar por um mês. Quero ver.

Enfim, este texto, este relato, de qualquer maneira, não me traz nenhum alento, em especial nesta data de hoje, em que chego à conclusão que daqui não sairei....deste meu corpo, desta minha mente. Destes meus hábitos, deste meu mundo. Não sei o que dizer, o que pensar. Apenas que por mais que tente, não encontro alento nem solução em mais nada que faço.

E sinto imensa falta de fazer aquilo que tenho afinidade em fazer. Logo...não sei bem o que dizer.

Sei que algo se aproxima, por mais que me sinta meio estranho em fazê-lo...acho que não dará em outra.

Um humano, alienígena em seu próprio planeta, em seu próprio habitat. Me sinto tão confortável aqui quanto me sentiria em Vênus, em Alpha Centauri, no caralhoplano que seja.