quarta-feira, 1 de julho de 2009

Longevidade.

Quantas vezes já me perguntei a mesma coisa, já me indaguei a mesma questão. Para variar, é mais uma de minhas clássicas indagações a respeito da vida...para a qual obviamente não existe resposta, ao menos não da maneira clássica que conhecemos, sim ou não. Tanta divagação e nenhuma pergunta. Aqui está:

Vale a pena viver muito? Até os 80,90, 100?

Hoje em dia a expectativa de vida da população em geral aumentou muito se formos comparar com o tempo de nossos avós, mesmo de nossos pais: houveram muitos melhoramentos em se tratando de prolongar a vida. Estudos e campanhas de conscientização por uma vida mais saudável, etc. A medicina evoluiu muito; hoje em dia garantem a saúde de muitos pacientes que até dez anos atrás eram considerados casos terminais disto ou daquilo.

Sim, tais melhoramentos garantem uma vida mais longa, mas quando eu observo a vida de alguns destes ditos vencedores da maioridade, pessoas com mais de 80 anos por aí, eu me pergunto se de fato eu gostaria de chegar a esta idade. Teoricamente, do ponto de vista biológico, isto é mais uma tentativa dos homens em desafiar a natureza. Pois que este tempo prolongado de vida é um caso à parte nas espécies. Sim, em se tratando do ser humano, nada mais nos espanta. Já cansei de afirmar que somos integrantes da espécie mais bizarra que já dominou este planeta.

Sim, estamos mais uma vez quebrando as regras em geral: um ser humano teoricamente não deveria ter tal longevidade. É uma conquista digna desta intrépida espécie, admito. Muito foi investido ao longo da linha do tempo para chegarmos a este ponto. Investimentos, experimentos, estudos, esforços hercúleos foram despendidos ao longo do tempo para atingirmos tal nível.

Uma pessoa em tempos mais primitivos, durava até os 35-40 anos de idade. Algo além disso, digamos 60 anos, já eraconsiderado um ancião, e as pessoas veneravam tais patriarcas, e com razão: era um feito chegar a esta idade. O dito "respeito pelos meais velhos" vem desta época.

Nos dias de hoje, a maior parte das pessoas que vivem em locais mais privilegiados, isto é, fora das eternas áreas de pobreza e tensão mundiais, chega facilmente aos 70 anos. 80 anos não é tão raro. 90 é um pouco mais raro, mas não tão inexequível. Afirmam que podemos chegar facilmente aos 100...

100 anos...sim, é um número impressionante, porém aqui repito a pergunta: vale a pena?

Sendo o hediondo pessimista que sou, a maioria das pessoas abanarão as cabeças e dirão que trata-se apenas de mais uma torrente de reclamações deste cara de (quase)32 anos mas que age como se tivesse 320 milhões de anos. Sim, sei que são palavras nada otimistas ,mas ao mesmo tempo sei que não estou falando besteiras sem fundamento. Uma das coisas que mais me deixa entristecido é ver uma pessoa velha, que está viva mas que gostaria que não tivesse durado tanto. Pessoas com Alzheimer. Parkinson. Fazendo hemodiálise. Tendo que usar fraldas. Completamente depentes de outras pessoas para fazer tarefas básicas, como ir ao banheiro, comer, seja o que for.

Pessoas que estão vivas sim, mas que não estão dignamente vivas. Em minha opinião, isto é deprimente. Estas pessoas muitas vezes não conseguem mais ter memórias de eventos recentes, mas em contrapartida se lembram muito bem dos velhos dias....daquilo que já foram.

Claro, estou vendo a coisa do ponto de vista Buriólico, ou seja, pessimista. Sei que existem pessoas de 70 anos que dão uma lição de vida a muitos jovens preguiçosos por aí, que participam de eventos radicais, que fazem coisas admiráveis e etissétra. Mas observe bem uma fila do INSS e faça o inventário de quantos representantes da dita terceira idade que ali se encontram e que participam de tais atividades. Para muitos ali, conseguir chegar vivo ao médico já é um feito exemplar. Ficar velho e ter saúde é algo que não está sendo mais uma ficção, mas não é garantido a todos os ditos velhos por aí. Ficar idoso e com saúde é algo que pode custar muito, mas muito caro mesmo. Ter saúde nessa idade não é barato. Pergunte para qualquer representante de planos de saúde por aí e ele vai confirmar o que eu digo. Não é à toa que planos para idosos são muito mais caros.

Há alguns anos, assisti a um filme que me pôs a pensar sobre este assunto. Para quem se interessar, o filme em questão é Straight Story(História Real). Como afirma o protagonista, um velho de quase 80 anos com várias limitações devido a problemas de saúde, quando indagado por um garotão em um certo momento do filme, "Qual é a pior coisa em envelhecer?" Ao que Alvin Straight responde, "Você se lembrar de como era quando era jovem."

Putz, sim, estamos depressivos hoje, de fato. Desculpem. Mas escrevo o que me passa pela cabeça na hora de escrever, e hoje isto apareceu-me. Sim, é pessimista, mas não é fatalista: não é surreal o que aqui escrevo.

Eu mesmo, não gostaria de chegar a uma idade avançada e ver-me reduzido a um bebê de 80 anos. Creio que ninguém que esteja em tal situação goste de tal coisa. Mas não sei dizer. Não tenho todas as respostas. O que tenho são perguntas, muitas perguntas. A maioria sem resposta. Assim é a vida. A minha, ao menos.

Não se preocupem: não desejo ficar aqui até os 100 anos escrevendo depressivos textos. Se tiverem sorte, eu serei exterminado antes disso, bem antes disso, ehehehe. A morbidez também pode ser irônica, por assim dizer. Veremos.