quinta-feira, 9 de julho de 2009

10+7.

Avançar, avançar. Correr e correr. Não pare ra pensar, não pare para descansar, não pare para respirar...apenas não pare.

Era tudo que eu conseguia cogitar em pensar no momento. A haste metálica, recoberta daquele pus negro e viscoso parecia estar soldada em minha mão esquerda. Eu corria e corria, mas aquele treco parecia não ter fim. Maldito corredor, malditra casa, maldita hora em que fui resolver pegar aquele emprego.

O zumbido de meus ouvidos era irritante, mas ao menos ele mascarava os guinchos demoníacos emitidos por aquela coisa, que se encontrava a alguma distância atrás de mim, e que não desistiria de mim assim tão facilmente. Eu corria e corria. Era tudo que me restava fazer agora.

Às vezes, eu parava por um segundo para tentar alguma das portas ao meu redor, mas em todas, eu recebia a mesma informação: trancada. E não tinha tempo para ficar por ali, para tentar abrir tais portas, para tentar brincar de chaveiro do inferno.

O corredor não dava em lugar algum. Conforme as outras vezes que ali já tinha estado, por mais que eu avançasse, mais parecia que eu estava de fato parado. Sempre rumava em direção à escuridão...a única diferença agora é que não mais haviam aqueles olhos vermelhos em minha frente. Pois eles estavam atrás de mim e...

Por um instante, parei e olhei para trás. Apenas para sentir nova descarga de adrenalina em meu sangue. Os olhos vermelhos ali não estavam, mas havia um ponto de luz estranho vindo em minha direção, a mil por hora. Não quis saber do que se tratava, mesmo por que eu bem sabia o que era aquilo: minha amiga, a demoniazinha do banheiro. A mesma que havia sido submetida a uma pequena cirurgia de correção de olhos vermelhos momentos atrás. Se eu saísse vivo daquela merda, eu iria começar uma carreira de oftalmologista.

Ha, ha, ha.

Somente uma pessoa como eu pensaria numa cretinice dessas em uma hora crítica feito aquela.

Eu não sabia de onde estava tirando forças para continuar correndo. Sempre ouvi dizer que adrenalina capacita-nos para fazermos proezas inacreditáveis, mas para tudo existe um limite. E eu sentia que este limite estava se aproximando. Mesmo porque antes de entrar naquele banheiro para supostamente tomar um banho, eu estava com uma ressaca monstro, decorrente de uma noite mal-dormida e mal-lembrada, regada a cervejas e cigarros.

Foda-se, foda-se, meu cérebro dizia. Corra ou morra. Corra ou morra.

Eu estava era morrendo já. Ofegava e ofegava, e minhas pernas pareciam que estavam bombeando ácido de bateria em meu sangue. Sem contar o fato que eu ainda estava pelado, ainda tinha um bife a menos em minha perna, e ainda tinha vários outros cortezinhos e hematomas espalhados, aqui e ali.

E o corredor não acabava, não acabava. Nenhuma porta se abria, nenhuma luz no horizonte, nenhuma luz aparecia no final daquele túnel. Eu sabia que, eventualmente, eu iria cair e desistir.

Mas o instinto de sobrevivência nos faz ir além de nossos limites...Eu sentia que já havia ultrapassado todos meus limites, quebrado todos os meus recordes.

Corri e corri.

Senti um daqueles desconfortos, tipo um ar preso em meus rins, aquela sensação esquisita que se tem quando se corre insanamente por muito tempo. Estava prestes a falhar por completo, a entregar os pontos, a exaurir minha bateria.

O corredor se mantinha impassível de mudanças. Parecia mesmo que estava correndo em uma daquelas esteiras. Que não estava saindo do lugar.

Suspirei fundo e parei. Chega. Não aguentava mais correr. Se existia alguma energia ainda em mim, e eu sabia que ainda havia, eu iria guardá-la para outra coisa.

Ofegante, me virei em direção àquele ponto de luz laranja que se aproximava. Apertei aquele cano de chuveiro gosmento em minhas mãos, fazendo uma careta devido aos cortes nas mãos e esperei. Chega de correr.

Pode vir. Vamos terminar isso aqui mesmo então, sua vaca dos infernos.