quarta-feira, 18 de março de 2009

PXE.


-Boa noite, senhoras e senhores. Bem-vindos à Rádio PXE. Nesta noite teremos aqui no estúdio uma entrevista com um personagem muito peculiar, que atende pelo nome de Sr. Porca-russa. Ele vai nos dar diretrizes, visões sobre o assunto controverso sobre a presença de alienígenas em nossas escolas, ônibus e ambiente de trabalho. Boa noite, senhor Porca-russa.
-Bom dia.
-Er...O senhor escreveu um livreto sobre o assunto em questão, não é mesmo?
-Na verdade, eu apenas copiei tudo que os alienígenas em minha cabeça disseram que eu deveria escrever.
-Em sua cabeça? Quer dizer que o senhor crê que eles estejam em sua cabeça?
-Não creio, eu sei. E sei que eles estão em sua cabeça tambem, senhor Mitchell.
-Sei, sei. Então quer dizer que o senhor crê que eles estão entre nós de fato?
-Eles estão dentro de nós.
-Vejo aqui também que o senhor é um major reformado.
-Sim, passei por um processo intensivo de reformas internas para acomodar meus hóspedes interiores.
-Então o senhor também se interessa por design de interiores.
-Sim. Mas prefiro fazer design de protótipos mais avançados, como este modelo aqui de câmbio para automóveis, que pretendo vender no câmbio negro.
-Interessante. E os alienígenas que indicaram a você esta sua missão, de escrever este livro sobre as flores campestres interiores e a confecção de alavancas de câmbio, entitulado O Papa?
-Sim. Algum dia pretendo escrever sobre o sumo pontífice também. Já tenho até o título de tal obra, algo como Apocalypse Agora.
-
Entendo. O senhor também afirma em seu livro já ter visto um ornitorrinco.
-Sim. Ele era deveras carinhoso. Sinto a falta dele...
-Er, mudemos de assunto. Falemos de camelos.
-Sim, tenho ainda uns doze aqui no bolso.
-Em seu bolso?
-Sim, veja. Diz aqui na caixa que é um autêntico Camel. Se bem que isto aqui estaria mais correctamente denominado Dromedary.
-
Sim. Entendo seu ponto de vista.
-
Não, só vendo a prestações o livro.
-Isto tudo foram os alienígenas que mandaram o senhor dizer?
-Não, eles me mandaram escrever a respeito. Principalmente a respeito do senhor.
-De mim?
-Sim.
-Não.
-Sim.
-Sim.
-Não.
-Talvez.
-É. Enfim. Sei que o senhor diz que sua mãe abusou do senhor quando o senhor tinha a tenra idade de 120 anos.
-Não! Como sabe disso? É meu maior segredo!
-Não há segredo. Basta ler na sua testa, está escrito, "Minha mãe abusou de mim quando tinha 120 anos"
-Eu sabia que deveria ter comprado um diário de gente.
-E eu sabia disto. Sei tudo a seu respeito!
-Não sabes nada!
-Sim, eu sei. Sei que nada sabes.
-Isto todos o sabem.
-Não, pois se não sabem nada, como irão saber que nada sabem?
-Sabendo, oras.
-Mas se não sabem que sabem, como irão saber que não sabem?
-Pare de se repetir, seu energúmeno.
-O senhor me tenha o devido respeito, rapá! Ou vai querer cair pra dentro?
-Não, prefiro cair pra fora, lá o clima está mais ameno.
-Lá fora?
-Sim.
-Deveríamos ir para lá então.
-Não. Não desejo ir para lugar algum com alguém que tem alienígenas na cabeça e esta frase escrita com caneta retroprojetor na testa.
-Atesto o contrário.
-Atestas?
-Ateu.
-Sim. Isto afirmo que sou.
-Eu sabia.
-Se sabia, porque perguntou?
-Porque não tinha certeza.
-Enfim. Voltemos aos alienígenas.
-Sim, sim.
-O senhor afirma em seu livro que a alvanca de câmbio foi projetada pelo senhor quando o senhor se projetava pela janela a 200 milhas por hora, não é mesmo?
-Sim.
-Então, qual é a capital da Abissínia?
-Estou abismado com esta pergunta.
-Não se reprima. Fale-me tudo. Estamos no ar.
-No ar? Mas porque logo no ar? Está tão poluído este ar!
-Sim. Mas isto pode ser resolvido com uma descarga de bom-ar.
(sssssssssssssssss)
-Meus olhos! Seu cretino!
-Não me grite!
-Que gente má!
-Isto. Façamos uma autêntica Quinoterapia. É muito mais salutar que algo parecido com esta sonoridade, porém dotado de elementos nada saudáveis ao corpo humano, este desconhecido.
-Mas eu o conheço tão bem!
-Nunca imaginei isto.
-Já imaginava.
-Pare de fingir que me conhece! O senhor não sabe de nada.
-Já falamos sobre isto.
-É verdade. E agora, para algo completamente diferente, café.
-Cafééééééééééééééééééééééééééé!
-Sim, tome.
(splash!)
-
Meus olhos! Pare com isto!
-Sim, temo que nosso tempo se esgotou.
-Eu sabia o tempo todo!
-Sabia nada.
-Nada?
-Sei nadar, o senhor não.
-Droga.
-Só tenho anfetaminas.
-Percebo, pelo seu estado irrequieto.
-
Sim, eis aqui algumas bolinhas.
-De gude?
-Não, de grude.
-Desgruda.
-Sua peste. Enfim, volte ao assunto chave!
-Sim. Estão me fechando a sete chaves aqui, e estão gentilmente me embalando com esta camisa tão na moda nestes estabelecimentos, a camisa-de-força.
-Força aí irmão.
-Apoiado! Não, não quero esta injeção intravenosa!
-É tarde. Nossos ouvintes anseiam dormir.

(SOC! POU! CRASH!)

-ZZZZZZzzzZZZZzzzzzZZZZZZZZZzzzzzz......

(O carcereiro se levanta, carregando o corpo inanimado do senhor Porca-russa, murmurando entre dentes:
-Odeio trabalhar em um hospício.
Deposita o corpo em uma maca, amarra-o bem apertado e sai arrastando a carga pelos corredores infectos da instituição. As cortinas se abaixam. Fim.)