...tentou se desligar, por um instante que fosse, daquilo tudo. Inútil. Ainda ouvia os gritos lancinantes, ouvia os barulhos de coisas se partindo, coisas...que estavam encerradas dentro de um corpo, por debaixo de pele, músculos e sangue. Sangue. Muito sangue.
Lamentou-se mais uma vez por ter sido tão idiota. O que ele estava fazendo ali? Vencendo uma aposta ridícula entre amigos? Para que? Porque havia sido tão idiota?
O coral diabólico continuava a entoar sua parede de vozes grossas em uníssono em sua mente. Quanto tempo havia se passado, ele não saberia dizer. Sabia, no entanto, que estava coberto de vômito seco e ainda estava dentro da caixa.
Mas também, como iria ele adivinhar que todas as histórias sobre aquele lugar eram verdadeiras. O que havia presenciado era ainda pior que todas as histórias, para dizer a verdade. O que ele havia visto nunca poderia ser apagado de sua mente.
Ele tentou se lembrar de como tudo aquilo havia começado. A floresta perto do matadouro da cidade. A torre, se elevando por cima da floresta. As histórias contadas duas noites atrás. A aposta.
A aposta. Para que havia sido tão imbecil. Muito destemido, ele. Muito esperto. Feito se nunca tivesse lido algum livro de terror, visto milhares de filmes em que os protagonistas agem de maneira semelhante à dele. Havia, de fato entrado na torre, por um buraco lateral na construção que conseguiu se esgueirar. Tinha explorado o interior da construção, que lhe pareceu completamente inofensivo.
Até achar uma passagem devidamente escondida. Até achar o altar. Até ver aonde estava, a ponto de ouvir passos se aproximando...Ao seu redor, apenas caixas e mais caixas, muito grandes, todas meio amarronzadas de algum líquido que havia escorrido pelas juntas. Sem pensar, se adentrou numa que estava próximo dele, quase sufocando com o mau cheiro que emanava de dentro dela.
Segundos após, estava tonto com o fedor que havia ali dentro. Ouviu mais passos ao seu redor, e teve que fazer um esforço sobre-humano para não tossir. O múmurio devozes estranhas ao seu redor...Deslocou um pouco a tampa da caixa para tentar respira um ar menos hediondo e para ver.
Alguém havia acendido tochas ao redor. Viu muitas pessoas ao redor...todas vestidas de trajes pretos, com capuzes.
Em que havia se metido?
Ouviu um deles começar a entoar um cântico estranho, sendo seguido pelos outros. Uma figura muito bizarra entrou no recinto, alguém muito mais alto que os outros, com um traje diferente também. Logo em seguida, berros horrorizados, alguém implorando, "NÃO! ME DEIXEM IR EMBORA!!!" Ele estava semi-nu, apenas com um trapo na cintura, amarrado em uma espécie de pelourinho móvel.
Trouxeram alguém amarrado logo atrás da figura gigantesca. Um de seus amigos. Estava coberto de cortes, sangrando por todos os lados.
Seu cérebro comandou seu corpo a fechar os olhos, mas eles não obedeceram.
Viu tudo.
Viu como a figura gigantesca levantou os braços deformados e o cântico parou. Ouviu a voz gutural da figura, dizendo coisas em algum linguajar desconhecido. E seu amigo continuava gritando. Viu como trouxeram um estranho cajado para o chefe, que ele apanhou, continuando a discursar naquela língua bizarra.
E seu amigo continuava gritando.
Viu como se aproximaram dele com baldes, jogando algum líquido por cima de seu corpo. A julgar pelos berros que se sucederam, NÃO era água. Viu como a figura gigantesca levantou seu capuz, revelando uma deformidade nada humana por debaixo daquele capuz. Se aproximou de seu amigo e levantou o cajado, que possuía uma ponta metálica afiada.
"Feche os olhos seu IDIOTA", mais uma vez seu lado racional comandou. Não conseguia nem respirar, muito menos fechar os olhos.
E seu amigo continuava berrando.
Primeiramente a coisa fez cinco furos no tórax de seu amigo, que continuava urrando. O demônio riscou a carne dele com a ponta da coisa, ligando os cinco pontos, ignorando completamente as súplicas de sua vítima. Em seguida, traçou um círculo ao redor de tudo com precisão cirúrgica.
Um pentagrama. Invertido.
Sim, ele havia visto filmes de terror o suficiente para saber o que aquilo significava.
Entornaram mais algum líquido por cima do corpo mutilado de seu amigo. Novos berros vieram da garganta dele, seguidos de urros de júbilo ao seu redor.
As figuras encapuzadas estavam exultantes, de fato. O chefe deles levantou seus braços novamente, e o rumor cessou, só restando o lamento de seu amigo atado àquele poste, sofrendo um suplício icomensurável. A figura deformada se virou para ele e disse mais alguma coisa. Logo em seguida, viu que a coisa arreganhou a boca, exibindo uma fileira de dentes altamente pontiagudos.
E seu amigo berrou como nunca.
A coisa se lançou sobre ele, mordendo, rosnando, arrancando pedaços. Quando a figura se ergueu novamente, a cabeça de seu amigo não pendeu para trás apenas porque seu corpo estava atado no tronco. O sangue jorrava de alguma artéria no pescoço dilacerado.
Nessa hora, sentiu algo a brotar de dentro dele, e novamente teve que fazer um esforço hercúleo para que não vomitasse muito ruidosamente.
Ainda assim, não conseguiu desviar o olhar.
A coisa novamente se lançou sobre o corpo agora silente de seu amigo, retomando o festim diabólico. "FECHE OS OLHOS, CARALHO!!!" De nada adiantava. Viu tudo. Ouviu tudo. O sangue, a carne, o rumr dos ossos sendo mascados por mandíbulas desumanas.
Sentiu que de uma forma ou de outra, sua porção racional o forçaria a fechar os olhos, ainda que fosse por mal. Desativou tudo, e ele não viu mais nada.
Lamentou-se mais uma vez por ter sido tão idiota. O que ele estava fazendo ali? Vencendo uma aposta ridícula entre amigos? Para que? Porque havia sido tão idiota?
O coral diabólico continuava a entoar sua parede de vozes grossas em uníssono em sua mente. Quanto tempo havia se passado, ele não saberia dizer. Sabia, no entanto, que estava coberto de vômito seco e ainda estava dentro da caixa.
Mas também, como iria ele adivinhar que todas as histórias sobre aquele lugar eram verdadeiras. O que havia presenciado era ainda pior que todas as histórias, para dizer a verdade. O que ele havia visto nunca poderia ser apagado de sua mente.
Ele tentou se lembrar de como tudo aquilo havia começado. A floresta perto do matadouro da cidade. A torre, se elevando por cima da floresta. As histórias contadas duas noites atrás. A aposta.
A aposta. Para que havia sido tão imbecil. Muito destemido, ele. Muito esperto. Feito se nunca tivesse lido algum livro de terror, visto milhares de filmes em que os protagonistas agem de maneira semelhante à dele. Havia, de fato entrado na torre, por um buraco lateral na construção que conseguiu se esgueirar. Tinha explorado o interior da construção, que lhe pareceu completamente inofensivo.
Até achar uma passagem devidamente escondida. Até achar o altar. Até ver aonde estava, a ponto de ouvir passos se aproximando...Ao seu redor, apenas caixas e mais caixas, muito grandes, todas meio amarronzadas de algum líquido que havia escorrido pelas juntas. Sem pensar, se adentrou numa que estava próximo dele, quase sufocando com o mau cheiro que emanava de dentro dela.
Segundos após, estava tonto com o fedor que havia ali dentro. Ouviu mais passos ao seu redor, e teve que fazer um esforço sobre-humano para não tossir. O múmurio devozes estranhas ao seu redor...Deslocou um pouco a tampa da caixa para tentar respira um ar menos hediondo e para ver.
Alguém havia acendido tochas ao redor. Viu muitas pessoas ao redor...todas vestidas de trajes pretos, com capuzes.
Em que havia se metido?
Ouviu um deles começar a entoar um cântico estranho, sendo seguido pelos outros. Uma figura muito bizarra entrou no recinto, alguém muito mais alto que os outros, com um traje diferente também. Logo em seguida, berros horrorizados, alguém implorando, "NÃO! ME DEIXEM IR EMBORA!!!" Ele estava semi-nu, apenas com um trapo na cintura, amarrado em uma espécie de pelourinho móvel.
Trouxeram alguém amarrado logo atrás da figura gigantesca. Um de seus amigos. Estava coberto de cortes, sangrando por todos os lados.
Seu cérebro comandou seu corpo a fechar os olhos, mas eles não obedeceram.
Viu tudo.
Viu como a figura gigantesca levantou os braços deformados e o cântico parou. Ouviu a voz gutural da figura, dizendo coisas em algum linguajar desconhecido. E seu amigo continuava gritando. Viu como trouxeram um estranho cajado para o chefe, que ele apanhou, continuando a discursar naquela língua bizarra.
E seu amigo continuava gritando.
Viu como se aproximaram dele com baldes, jogando algum líquido por cima de seu corpo. A julgar pelos berros que se sucederam, NÃO era água. Viu como a figura gigantesca levantou seu capuz, revelando uma deformidade nada humana por debaixo daquele capuz. Se aproximou de seu amigo e levantou o cajado, que possuía uma ponta metálica afiada.
"Feche os olhos seu IDIOTA", mais uma vez seu lado racional comandou. Não conseguia nem respirar, muito menos fechar os olhos.
E seu amigo continuava berrando.
Primeiramente a coisa fez cinco furos no tórax de seu amigo, que continuava urrando. O demônio riscou a carne dele com a ponta da coisa, ligando os cinco pontos, ignorando completamente as súplicas de sua vítima. Em seguida, traçou um círculo ao redor de tudo com precisão cirúrgica.
Um pentagrama. Invertido.
Sim, ele havia visto filmes de terror o suficiente para saber o que aquilo significava.
Entornaram mais algum líquido por cima do corpo mutilado de seu amigo. Novos berros vieram da garganta dele, seguidos de urros de júbilo ao seu redor.
As figuras encapuzadas estavam exultantes, de fato. O chefe deles levantou seus braços novamente, e o rumor cessou, só restando o lamento de seu amigo atado àquele poste, sofrendo um suplício icomensurável. A figura deformada se virou para ele e disse mais alguma coisa. Logo em seguida, viu que a coisa arreganhou a boca, exibindo uma fileira de dentes altamente pontiagudos.
E seu amigo berrou como nunca.
A coisa se lançou sobre ele, mordendo, rosnando, arrancando pedaços. Quando a figura se ergueu novamente, a cabeça de seu amigo não pendeu para trás apenas porque seu corpo estava atado no tronco. O sangue jorrava de alguma artéria no pescoço dilacerado.
Nessa hora, sentiu algo a brotar de dentro dele, e novamente teve que fazer um esforço hercúleo para que não vomitasse muito ruidosamente.
Ainda assim, não conseguiu desviar o olhar.
A coisa novamente se lançou sobre o corpo agora silente de seu amigo, retomando o festim diabólico. "FECHE OS OLHOS, CARALHO!!!" De nada adiantava. Viu tudo. Ouviu tudo. O sangue, a carne, o rumr dos ossos sendo mascados por mandíbulas desumanas.
Sentiu que de uma forma ou de outra, sua porção racional o forçaria a fechar os olhos, ainda que fosse por mal. Desativou tudo, e ele não viu mais nada.