quinta-feira, 12 de março de 2009

II.


" 'You look like you've been losing sleep',
said a stranger on a train,
I fixed him with an ice cold stare
and said, 'I've been having those dreams again' "

---Swervedriver, Last train to Satansville.



Sangue.

Gosto de sangue. Na boca...nos dentes. E o cheiro...no ar, tudo recendia àquilo. Abri os olhos...um céu, azul. Fumaça.

O que havia acontecido? Tentei lembrar de algo, mas a dor de cabeça era mais forte. E o gosto de sangue na boca mesclado ao cheiro da fumaça confundia-me. Nesta hora senti as dores espalhadas pelo corpo também. Lentamente, ergui a cabeça e olhei ao redor.

Uma paisagem árida...cactos e coisas do gênero. A dor pipocou em minha cabeça e ao longo de todo meu surrado corpo como um milhão de alfinetes. Fechei os olhos e segurei minha cabeça com as mãos. Aaaahhhhhhh, era tudo que eu podia pensar.

Após alguns minutos de lamentação merecida, a dor diminuiu de intensidade o suficiente para que eu pudesse novamente tentar abrir os olhos e descobrir mais alguma coisa a respeito do que estava acontecendo.

Algumas dezenas de metros à minha frente, estavam os escombros fumegantes de....coisas que pareciam algum dia ter sido veículos automotores. As labaredas lambiam os ares, levantando fagulhas e carregando fuligem. O acidente parecia ter sido daqueles horrorosos, cinematográficos. No estado em que as carcaças se encontravam, não era possível identificar modelos, marcas.

Sei que a coisa parecia ter sido feia. Muito. Tentei pôr-me de pé; após alguns dolorosos momentos, consegui. Olhei ao meu redor novamente. Estava num local completamente deserto, literal e figurativamente. A estrada em que os carros estavam se estendia até perder de vista.

Onde diabos eu estava? Porque ali eu estava?

Arrastei-me na direção dos escombros, apenas para estacar após alguns passos. Um dos tanques de combustível das ferragens resolveu explodir bem naquele momento, com tal violência que a onda da explosão derrubou-me. Ai, ai, ai ai aiiiiii. Maldição.

Após o susto ter passado, senti uma nova dor...em minha perna direita. Ergui a cabeça para surpreender-me com um pedaço fumegante de ferragem cravado ali. Puta que o pariu, foi tudo que eu consegui pensar. Senti tamanha indignação com o que estava acontecendo, que sem pensar, arranquei a coisa dali, não sem me arrepender instantaneamente. O sangue brotou profusamente.

Arranquei rapidamente uma manga de minha esfrangalhada camisa e tentei estacar a hemorragia. A confusão mental ainda era reinante, mas por mais que tentasse, não conseguia me lembrar o que estava fazendo ali. Como havia chegado ali. Rangendo meus dentes, olhei para a frente e vi...um outro corpo mais adiante, estendido no chão.

Gritei por ajuda. Nada. Berrei novamente, mas o corpo continuou estático. Com a maré de azar que estava experimentando, não duvidei que fosse apenas um banquete para os urubus que já sobrevoavam o local, a muitos e muitos metros de altura. Olhei para minha perna, mas fechei os olhos quase que de imediato. O trapo esva empapado de sangue e a coisa parecia não querer parar de sair.

Fechei os olhos forçadamente, até doer. Que bela maneira de se morrer. Tentei mais uma vez me lembrar de alguma coisa, mas nada me veio à cabeça, a não ser uma vaga memória de estar dirigindo um carro....pegar em uma arma vazia....coisas difusas e confusas.

Abri os olhos e olhei para o corpo, que não estava mais lá.

Arregalei os olhos, mas tudo que pude sentir foi um impacto em minha nuca.