"Transmission 4001.
Are you still there, Sam?
It's been five years since contact."
--Adam Franklin, Walking on Heaven's Foothills.
Por mais que tentasse lembrar, não conseguia.
Após tanto tempo à deriva naquela imensidão de vazio, tudo que ele sabia é que nada aparentava ser o que era. Tanto tempo tinha se passado...dias, meses, anos...não poderia dizer. Não haviam mais parâmetros para se mensurar o tempo. Não ali.
Desde que havia sido vítima daquele acidente, tudo que ele sabia é que muito tempo havia se passado. Isso ele sabia. Mas...o que mais?
"Eu deveria estar morto", ele pensava. A lógica indicava que sim. Mas o que era a lógica em um lugar como aquele? Não significava nada. Se fosse pensar em termos físicos, ele estava em um ambiente onde não diminuiria sua velocidade, a não ser que encontrasse um obstáculo no caminho. "Que caminho?", pensou novamente.
Estaria indo em linha reta....velocidade constante...nenhum atrito. O vácuo. Nenhum oxigênio. O que tinha em seu traje já deveria ter acabado há muito tempo. "Estou morto", ele pensou novamente. Mesmo assim, não se sentia morto.
Estava mais vivo que nunca, a seu ver.
Mais uma vez tentou se lembrar do acidente...A estação. Orientações. A saída da escotilha...alguém gritando seu nome no rádio...Mais nada.
Nada. Por mais que tentasse, não saberia dizer como tinha se perdido daquela forma. "Devo estar morto," sua mente prosseguiu, "isto deve ser a morte." Ao seu redor, a paisagem parecia ser sempre a mesma. Estrelas. Milhares, incontáveis estrelas. Uma memória passada o atingiu...costumava subir ao telhado de sua casa quando era criança para ver o céu. Contar estrelas cadentes. Achava que era sua missão na vida, perseguir aquele sonho, viajar para aquela imensidão acima da Terra, acima do céu.
Ali estava ele.
Por mais ilógico que pudesse ser, parecia que estava ainda no encalço daquilo tudo. Olhou ao redor novamente, procurando sua estrela-guia, aquela que chamara sua atenção desde que estivera em marcha para o desconhecido...Ali estava ela. Não falhava nunca. Era a única que parecia estar se aproximando. Era seu destino.
Seria isto certo mesmo? Por vezes, seu lado racional ainda tentava prevalescer. Inútil.
Nada faria sentido, nada poderia ser racionalizado naquela jornada.
"Mesmo assim," sua voz interna prosseguiu, "devo estar realmente morto. Não comi nada desde que aconteceu a coisa. Não bebi nenhuma gota de qualquer líquido."
Sim. Mas não sentira fome. Não sentia sede. Memórias o assolaram novamente. Sua casa...seus estudos...a academia...seus filhos.
Onde estariam seus filhos? Sua esposa? Seus pais?
Não poderia responder a nada disso. Nem saberia. Olhou novamente para a estrela. Sua única certeza...era que estava indo em sua direção. Estaria mesmo? O que poderia garantir isto a ele? Como poderia afirmar com certeza isto?
Calou-se mentalmente. De nada adiantava aquilo. Tinha que continuar seu caminho. Não havia nada a ser feito. Nenhum racionalismo poderia mudar nada em sua situação. Lembrou-se de situações anteriores àquela....achou plausível que deveria estar revoltado, cheio de raiva.
Mas não sentia nada. Não adiantaria nada.
Fixou a vista em sua estrela.
"Um dia, chegarei ali."