terça-feira, 17 de março de 2009

I'm singin' in the rain!...

Por vezes, gostaria realmente de que alguém estivesse me filmando. Certos momentos de minha vida serviriam de comédia muito mais engraçada que qualquer seriado enlatado existente por aí...Presumo que assim o seja com a maioria das pessoas também; certos momentos são tão rídiculos que se fossem apresentados em rede televisiva, geraria boa audiência. Ou não(maldita seja esta frase), uma vez que parece-me que a audiência dos canais abertos está se tornando cada vez mais e mais acéfala, por assim dizer. Enfim, foda-se, não é sobre isto que estou a discorrer hoje.

Bem, ontem a chuva ameaçou, ameaçou e ameaçou durante todo o decorrer lento do dia, típico de segundas feiras em geral. Mas ela não caiu durante a manhã...nem durante a tarde...então, fui-me embora do serviço munido de meu infalível guarda chuva tamanho gigante, pois minha jornada de trabalho ainda não havia terminado; tinha que ainda visitar meu sobrinho tordo, anteriormente conhecido com a curiosa denominação de "partidário da juventude nazi-fascista mineira mirim".

Ao chegar lá, entrando no prédio, senti um par de pingos de chuva em meu braço. É, ela tardou mas não falhou. Então fiquei a observar o lado de fora da janela do imponente apartamento em que residem os avós de meu sobrinho; mesmo assim a dita chuva parecia que não iria dar as caras e ir-se embora. Conversa vem, conversa vai, quitutes foram devorados, sucos foram ingeridos - aquilo é qualquer coisa "menas" aula de desenho - e eis que faltando 15 minutos para as 9, hora esta que realmente se efetua a alforria de meus grilhões trabalhistas, a borrasca resolveu assolar a cidade.

Clássico. Ao chegar na portaria do prédio, o porteiro me olhou com aquela cara de "você está certo disso?" ao abrir a porta electrônica. Fui efusivamente saudado por uma rajada de vento e água, e olhei estupefacto para o espetáculo Dantesco diante de mim: nem mesmo os tradicionais transsexuais daquelas paragens(não estamos falando dos agentes da BHTRANStorno) estavam à vista. Os ventos e a água realmente eram assustadores.

Bem. Eu tinha a opção de ficar ali aguardando a chuva amainar, perder meu busão e ter que esperar mais de hora para chegar em casa, ou...

Respirei fundo, abri o fiel guarda chuva, mesmo tendo a certeza que ele não me seria de grande valia, e me adentrei na tempestade.

Logo que pus os pés pra fora, fui devidamente encharcado pela água gelada. Ao chegar na rua, fiquei horrorizado com o volume de água que descia a avenida Afonso Pena. Aquilo estava mais para rio que avenida. Creio que em dias de fúria mais intensa, típicos de minha pessoa por estes dias, eu teria berrado de ódio, esperneado feito menino birrento, quebrado algum carro, etcoetera. Mas...por algum mistério de minha índole, esta ilustre desconhecida, olhei aquela água toda descendo, e verificando que por mais que esperneasse eu NÃO conseguiria me manter seco, resolvi tornar à infância. Quando muleque, uma enxurrada como aquele seria diversão garantida, e uma próvavel gripe subsequente. Enfim.

Fui pulando as partes mais torrenciais da enxurrada, nem me importanto em atolar meus pés noutras partes nem tão abissais, e comecei até a entoar cânticos de louvor à tempestade, como este crássico que entitula este blahblahblah crônico(ou crônica, se assim o quiserem). Fiquei rindo horrores de mim mesmo. Eu era a única alma viva que se encontrava naquela avenida àquela hora. Nem mesmo os passeios - a calçada para os chatos - estavam isentos do ribeirão intermitente que tomou conta daquela parte da cidade; como é de praxe nesta cidade assolada pela sua população de frangos que jogam todo e qualquer lixinho sem (aparente)importância no chão e nao nas lixeiras, todos os bueiros estavam devidamente entupidos e a água jorrava na altura de minha cintura quando encontrava um obstáculo.

Cheguei afinal ao ponto de ônibus, mais encharcado que nunca, mas nem me importando. Continuei cantando desafinadamente, maravilhado pela possibildade de fazê-lo sem olhares jocosos de ninguém, eis que o único louco a enfrentar aquela tempestade àquela hora fui eu. Depois de cantar e cantar, olhei para trás e vi a figura solitária de um porteiro a me olhar com curiosidade. Imagino que ele deve ter se divertido horrores com meu espetáculo.

Momentos mais tarde, quando a coisa já havia perdido muito de sua força primitiva, eis que chegou meu autocarro, e subi a bordo, sendo acompanhado unicamente do motorista, do trocador e de um outro sujeito que se encontrava encolhido em um canto, encharcado até os ossos, aparentemente. Tinha desolador aspecto; presumo que não havia levado a coisa na brincadeira como eu...Enfim, sentei-me e verifiquei que minha mochila havia protegido devidamente meu aparato sonoro, o que me gerou satisfação. Pus o som na caixa e deslizei tranquilamente para casa, onde me sequei devidamente - até minha roupa de baixo se encharcou na desventura - e tomei um banho, indo dormir tranquilamente mais tarde.

Creio que se assistisse ao vídeo deste episódio, eu iria rir-me deveras; como não posso fazê-lo, ao menos posso me contentar com a memória do episódio, que no mínimo gerou um bom causo para se contar em eventuais visitas aos bares, e aproveitando a deixa, deixo registrado aqui por escrito o relato da coisa, para quem que se interesse pelos devaneios deste Noiado possa se divertir.

Enfim, assim o é, assim será. Queria que a vida estivesse mais plena de eventos como este...