Está feito. Agora é oficial. Não sou mais tão brasileiro assim, e aqui está a prova.
Mas foi custoso. Muito custoso.
Ontem, eu e minhas irmãs fomos pela terceira vez para Sumpaulo, a fim de finalmente resolvermos esta questão internacional. Era para termos finalizado esta peleja desde o ínicio de julho, data em que iríamos receber o passaporte tcheco, mediante visita a esta cidade e o pagamento dos devidos emolumentos e custas referentes à confecção do mesmo. Entretanto, quando lá chegamos, fomos gentilmente informados que o sistema estava fora do ar, que teríamos de ali voltar outro dia.
Muito obrigado por nada.
Enfim, são águas passadas do gelado mês de julho, eu não me importava mais com isso, apesar da experiência ter me arruinado financeiramente. Pois bem, passados quase dois meses, a atual cônsul iria dali se retirar, então corremos para de uma vez resolver tal parada. Marcamos, agendamos, enchemos o saco dos funcionários do consulado para que não repetissem a proeza de nos fazer gastar muito dinheiro e perder um dia de serviço em vão. Caso acontecesse de dar errado desta vez, eu já havia prometido a mim mesmo arrancar a cabeça do pessoal de tal instituição com os dentes.
Não aconteceu: chegamos uma hora antes do previsto e já fomos atendidos, uma vez que o pessoal ficou sinceramente envergonhado da palhaçada da visita anterior, que nada rendeu além de débitos. Resolveram tudo e apanhamos os tais documentos.
Vitória.
Nem tanto.
Aconteceu um pequeno imprevisto. Como deixamos para resolver as coisas meio que em cima da hora, o voô que costumávamos pegar para retornar estava esgotado, e minha irmã, na correria de resolver tudo para voltarmos no mesmo dia - eu não queria ficar dois dias naquela cidade do inferno de maneira alguma - cometeu um leve deslize, enquanto olhava a possibilidade de pernoitarmos lá(proposta por mim rejeitada e por meu emprego também).
A passagem de volta não constava nos registros da companhia horrenda.
(Nota: não, NÃO voe pela porra da companhia Webjet. É uma verdadeira merda de companhia, péssimo atendimento e tarifas idiotas para casos assim. Antecipar voô? Claro, mediante o pagamento de 110 renais por pessoa + diferença de tarifa.)
Havíamos, inadvertidamente, agendado uma passagem para...o dia seguinte, 24 horas depois.
Como fazer então? Eu já estava zerado de crédito no banco, contando com a estrondosa e onírica quantia de dez reais em minha conta. Precisaríamos pagar os tais 110 reais para cada. Me lembrei de uma modesta poupança que possuía na Caixa Econômica. Já estávamos esbaforidos, desesperados nesta corrida contra o tempo e contra o débito. Fomos correndo para os terminais existentes no aeroporto. Adivinha se não estavam funcionando. Claro que não. Corre para o banco 24 Horas. Tarifas absurdas, mas era uma emergência. Felizmente havia o necessário na minha modesta poupança, que deixou de existir.
Volte para o terminal da merda da companhia, que nos fez enfrentar a fila toda de novo. A esta altura, eu já estava trnasferindo minha promessa de arrancar as cabeças dos atendentes do consulado para a filha da puta no balcão da porra da empresa. E eu não era o único. Todos que estavam naquela fila queriam matar os atendentes da companhia. Havia um baiano que estava quase puxando a peixera e pondo os fatos da mulé para fora dos compartimentos usuais.
Pois não. Ah sim, vou ter de abrir o voô. Terão de pagar a taxa de...já sei, vagabunda. Eu pago, resolva meu problema. (dez minutos depois) Senhor, infelizmente não é possível fazer tal manobra, o senhor teria de comprar as passagens de volta e cancelar a do dia seguinte. Evidentemente, só restituiremos 50% do valor que vocês pagaram. Quanto custam as passagens? Quatroceintos e noveinta(paulistês) e oito reais, senhor.
Eu tenho dez reais no banco. Ficar até o dia seguinte? Sem dinheiro nem para comprar uma bolacha nesta merda de cidade, ter de pernoitar nesta porra de aeroporto no cu do mundo, onde uma fatia de pizza custa vinte reais??
Nem FUDENDO.
Existe endividamento, cheque especial, para estas horas.
Lá vou eu correndo para o terminal do Bradesco. Empréstimo. Quatrocentos reais. Câmera lenta, especialmente selecionada para momentos de extrema pressa como este. Nhec nhec nhec. Etapas desnecessárias, telas cheias de informações inúteis sobre como o banco irá comer meu rabo nos juros. Blah blah blah, FODA-SE!!! Libera minha grana, caralho!!! A quantia estará disponível em momentos. Tela inicial por momentos que pareceram vinte minutos. Perco a paciência, já bufando de extremo ódio pela sequência digna de uma comédia(aposto que havia alguém muito se rindo disto tudo), vou para o terminal do lado. Nhec nhec nehc. Saque. Nhec nhec nhec. Serviço indisponível.
Resistir tendências para rasgar minhas roupas todas e esfrangalhar os terminais, as pessoas ao meu redor e começar um incêndio. Pronto. Volto para o outro terminal. Saque. Nhec nhec nhec. Mais uns cinco minutos de espera até as notas saírem; voltar correndo, desviando dos meros obstáculos que são todas aquelas pessoas.
"Hell is other people." - Jean Paul Sartre. Confirmado, caríssimo.
Voltar, tolerar petulância de atendente ameaçada de extinção por minha pessoa. Pagar quinhentos contos. Correr para o terminal, ignorar a fila, uma vez que já havíamos sido atendidos. O voô? Sai em vinte minutos. O atendente, felizmente não faz caso de termos ido direto a ele, apesar de não ter sido a mesma que havia nos atendido na primeira tentativa frustrada de check-in. Olha para o monitor por instantes demorados, que me pareceram horas. E eu já pensando, "deu merda de novo, quer ver?"
"Bagagens?" - "Não." - "E de mão?" - "Isto." - "Certo. Embarque imediato, portão 21."
Suspiro breve de alívio. Corre corre corre.
Pessoas. Sempre no caminho, pessoas. Malditas pessoas.
Detector de metal. Pi pi pi. É a PORRA do meu relógio. Toma, filho da puta. Vai pra merda e me libera. Corre corre corre, MALDITAS PESSOAS!!! Saiam do caminho! Terminal vinte e um. Nada. Painel elctrônico: voô 6774, embarque imediato, portão 17. Corre corre corre, porra de merda do caralho do inferno do cu do judas de pessoas em nosso caminho! Marcela espanta uma velha com um bater de palmas, sai da minha frenta, caralho!!! Eu saio rindo diante da reação indignada da velha. Portão 17. Nada. Atendente: "Não, é no portão 21A."
Voltemos, correndo, desejando imensamente ter trazido uma serra elétrica para eliminar os obstáculos que são os idiotas que te veêm correndo e não saem do caminho.
Atendente, novamente. "Sim é aqui, mas ainda não chamaram." Ah, ao menos isto. Esperemos, esbaforidos. "Embarque imediato, voô da MERDJET 6774. Façam duas filas, de lugares ímpares e pares. E eu me pergunto, por quÊ, mas nem tenho forças mais para protestar.
Eu só quero sair desta merda de cidade. Desta amosta grátis de inferno.
Embarcamos. Assim que embarcamos, eu faço questão de mandar toda a cidade tomar no cu com gestos obscenos que proferi para a janela. Neste momento, já estava esperando o avião dar pane e explodir, para encerrar com chave de ouro a divina comédia que foi esta epopéia de tentar retornar para casa. Seria perfeito para o tal onisciente que tanto se diverte com enfezados naturais como eu.
Não aconteceu. O restante foi quase todo certo, com exceção da discussão que se seguiu assim que chegamos em casa, "Mas que absurdo, como você foi fazer isso? Pare de viajar, aterrisse, blah blah blah." E eu só assistindo, tentando ser conciliador. Não rolou.
A esta altura, eu nem mais me importava com nada. Estou absolutamente fudido de grana doravante, até sabe-se lá quando, mas está resolvido, está encerrado. Não mais terei de voltar para aquela PORRA de cidade infernal, a não ser daqui a dez anos, data em que a validade do oneroso documento expira.
Foda-se também. Estou vivo, o dia de ontem foi uma merda, mas acabou. Eu não acabei, apesar de ter me aproximado dum infarto fulminante causado pelo mais puro ódio diante de tanta merda junta.
Ou seja, apesar dos pesares, eu ganhei. Foda-se o resto.
Mas quero muito que este ano dos infernos acabe, mais que nunca. Pra merda, chega.
E devo retornar ao normal aqui. Só queria relatar o caso...coisa que não fazia há tempos porraqui.
Assim, assado. Depois tem mais né?
(Espero que não mais episódios desta natureza, entretanto.)