terça-feira, 31 de agosto de 2010

A-11.

Andar. Andar até cansar.

Todos os dias, todas as horas. Até cansar, até me deixar cair em uma pilha de entulho nestas ruas esquecidas por tudo e todos.

Menos por mim...que ainda tenta encontrar alguma espécie de saída, alguma coisa de diferente, algo que vá me...salvar, resgatar. Não sei de nada. Não mais.

A trilha das folhas está completamente esbranquecida já fazem dias agora. Dias? Meses? Não sei dizer, não mais. Parei de contar, parei de me preocupar. Parei de comer e de beber. Pareço mesmo não precisar de nada disso por aqui. Não sinto nad. Nada, além de um imenso vazio.

Engraçado como as coisas mudam. Quando o mundo era ainda o que fora, em minhas horas vagas, eu também escrevia bobagens, tentava contar histórias e dar minha opinião sobre coisas...tudo em um daqueles sites gratuitos da agora extinta internet. Alimentava alguma vã esperança que alguém pudesse se interessar pelo que escrevia, quem sabe, arrumar um emprego como escritor, ao invés daquela carreira militar odiosa e vazia.

Lembro-me vividamente o dia em que resolvi desistir de tal sonho vago. Um de meus melhores amigos, que dizia ler o que eu escrevia, um belo dia me vem e me fala que não lia nada, só ia pulando os parágrafos.

Aquilo bastou para ser o último prego em meu caixão de resignação perante a vida que me fora destinada. A vida de um peão inútil, uma peça descartável na grande equação.

Se uma pessoa, que dizia ser meu amigo, não estava nem aí para mim, o que mais eu poderia esperar das outras pessoas, que nem meus amigos eram?

Hoje em dia me pergunto se nas atuais circunstâncias, tal desapontamento me serviria de mola propulsora para que eu afinal de contas abraçasse meu destino de nada ser. Pois é isto que continuo sendo, um nada. Mesmo no meio deste monte de nada, pouco coisa de diferente pode ser constatada neste ser vivo, neste ser humano que nada mais é que alguém que espera sua vez de se tornar um nada, oficialmente.

Já deveria ter morrido, entretanto. Ando e ando, nestas ruas que nunca acabam. Parece que estão gozando de minha cara, pois isto não faz o menor sentido. Eu ando e ando e ando mas não chego alugar algum. As ruas não acabam e parecem se repetir diante de meus olhos.

Digo tudo isto em voz alta, apenas para ter o que ouvir. Para conseguir escutar um último sopro de humanidade no meio desta imensidão de lixos e vento, de nada sobre nada, onde um nada por ali caminha.

Algumas vezes eu grito, apenas para ver se alguém me escuta. Para ver se alguma voz misericordiosa me responda, "você não está sozinho".

Sim, estou. O vento vazio me assegura disto.

Jamais estive tão sozinho assim, e olha que já fui o mestre de me sentir desta maneira no meio da multidão de final de tarde que circulava por estas ruas, por esta cidade, uma verdadeira manada de gente e mais gente, se acotovelando, esbarrando em meus ombros e nem sequer pedidndo desculpas; eu me sentia como se não houvesse ninguém ali.

Penso e penso e falo alto, e ando e ando, não chego a lugar algum. Sigo as folhas, que há muito deixaram de ser amarelas. O que me preocupa é que me parece que tais folhas estejam desaparecendo, à medida que ando. Parecem estar mais escassas.

Estou exausto, estou esgotado. Não sinto nada além de vontade de dormir. Não como nada, não procuro nada, não irei beber nada. Mais um dia, mais uma noite.

Onde estou...e porque isto está acontecendo? Será este meu inferno pessoal? Será isto?

Vejo, a alguns metros de distância, outra daquelas coisas estranhas que tenho visto nesta minha eterna peregrinação a lugar algum. Uma porção de luzes estranhas, multicoloridas, que formam uma massa de cores e sons, que fica pairando ali por alguns instantes, para depois desaparecer e só tornar a surgir daqui a dois, três, sei lá quantos dias.

Eu havia ficado alarmado com tais aparições, mas hoje em dia nem ligo mais. Como tudo ao meu redor, não passam de um nada. Uma promessa de algo, mas mesmo assim, som,ente promessas. Falsas promessas. Nem me importo mais.

Fecho os olhos e espero. Sei que o sono virá em breve, e por momentos, me esquecerei de todo este vazio. Pena que eu não sonhe mais. Ao menos poderia me distrair um pouco de tudo isto...de toda esta cinzenta inexistência.

Durmamos, esperemos. O que mais posso fazer?