quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Saciedade.

Gosto de acordar cedo. Gosto do dia, de ficar por conta dele, de curtir a claridade. Não temos nós, "cerumanos" toscos, aparatos de visão noturna nem grandes defesas contra predadores, garras e afins. Portanto, melhor usarmos nossa visão porca quando a luz nos favorece, e não o contrário. Dependendo de onde estiver, acordo muito cedo e vou para a praia, caso esteja no meu paraíso terrestre, loicalizado na província de Itacaré, Bahia. Todos têm - ou deveriam ter - sua porção do paraíso na terra. Eu localizei a minha, naquele sítio remoto, um tanto longe de civilização, de chateação.

É verdade, tal local é tão remoto que costuma ser deserto a maior parte do tempo. Não me importo com isso. Praias desertas são as melhores que existem, não é à toa que os melhores resorts e quejandos são localizados em remotas ilhas, acessíveis somente após pagamento de uma pequena fortuna a seja lá quem for.

Sim, tal paraíso tem este senão - que seria facilmente resolvido caso fosse eu o dono de tal paragem. Bastaria levar meus amigos para lá. De que mais precisaríamos? Eu sei que não precisaria de quase mais nada. Sim, decerto, sei que caso tivesse eu a condição sócio-econômica do dono daquele local, não poderia sempre contar com a presença de todos, pois cada um tem que ganhar a vida, não são necessariamente ricos como o dono daquele local, amigo meu desde remoto ano de 1993. Mas mesmo assim, creio que viveria bem ali, mesmo nos momentos mais solitários. A paisagem é exuberante, uma pequena amostra intocada do que já foi nossa mata Atlântica, com direito a um rio diante da casa, um manguezal logo ali, e a melhor varanda que já me recostei preguiçosamente à rede após o almoço.

Gente? Povão?

Eu realmente necessito disso?

Digo tais coisas por que ontem no final do expediente nesse trabalho sem alma que sou obrigado a trabalhar, fui censurado por ser "anti-social", ao que respondi, "Nunca! Jamais seria anti-social, sou MISANTROPO, é bem diferente.", caprichando no sarcasmo. Meu colega, aquele que outro dia discutiu comigo sobre criacionismo, nem ao menos sabia o que significava a palavra, e eu lhe aconselhei que fosse consultar o pai dos burros, ou simplesmente o dicionário.

Sim,, bem sei que sou um chato quando quero ser. Mas sinceramnete me pergunto, preciso eu de me integrar com massas de gente, pessoas "mortas de fome"? Explico melhor o escárnio. A discussão começou quando afirmei que detesto reuniões formais, do tipo de casamentos. Especialmente se não conheço quem está sendo enforcado. As pessoas daqui do escrotório costumam ser autênticos "pap-casamentos": não perdem um sequer, quer seja de parentes próximos, quer seja aquele que aconteceu da concunhada do genro da nora do conhecido da primo de terceiro grau da tia distante do filho da comadre da feira. Exstem por aqui também "papa-velórios", coisa que simplesmente não consigo entender, de forma alguma.

Pessoas ditas "normais" - leia-se, probabilidade de 95% de serem FRANGOS - parecem não entender que sim, existe gente que não tolera multidões, e que mesmo curtem ficar sozinhas. Não preciso de me papagaiar todo, pôr terno e gravata para me divertir. Não preciso me juntar àquelas pessoas que se reúnem ali apenas porque "a boca é livre! UHU!" Sério, eu ouvi exatamente isso. Daí eu chamar de "mortas de fome." E as conversas que ali existem, em nada me seduzem. Realmente, eu não quero saber. Nem da novela, nem do futebol, nem das opiniões - quase sempre desfavoráveis - à decoração da festa, ao vestido da noiva. Não quero saber das fofocas sobre o noivo. Nada disso.

Eu sei, SEI que sou uma criatura difícil. Mas também sei que nada irá mudar em minha vida caso eu não vá a um casamento de alguém que não conheço. Noves fora, NADA. E os velórios então?? Não pode morrer nenhum funcionário ou parente de parente de parente de...(etc) que a galera toda daqui precipita-se em ir ao enterro. Novamente, nada contra dar apoio a quem precisa, nestas horas tão difíceis. Mas se não conheço a pessoa, eu me sinto completamente fora do lugar nestes "eventos." E uma coisa que prometi a mim mesmo, é nunca mais contemplar uma pessoa deitada naquelas flores, embrulhada pelo famoso paletó de madeira. Prefiro não ter essa última imagem da pessoa, prefiro me lembrar dela viva.

É a vida. Existem pessoas mortas de fome, "papa-defuntos" e Noiados em sótãos. O que eu não aguento é ser acusado de estar cometendo grave pecado ou contravenção social em escolher não ir a tais aglomerações. Ora. Como diria Fernando, o Pessoa, "vão para o diabo sem mim, ou deixem-me ir sozinho ao diabo! Porque haveríamos de ir todos juntos?"

E nesta nota, vejo que devo encerrar aqui o pinçamento diário. Voltar aos computadores defeituosos e a contabilidade, parada por conta de empresas furrecas. É a vida.

Continuemos...