segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O dia em que a cidade parou.

E eis que hoje começa diferente, bem diferente do geral, bem diferente dos demais. Meu corpo acorda antes do despertador, como é de praxe; entretanto, acordo também uma hora antes do despertador, pois aconteceu de termos sidos restituídos de uma hora previamente roubada em alguma altura do campeonato, em meados do ano passado. Não reclamo, pois somente o fato de ter saído da cama com claridade já alivia, de certa forma, o corpo cansado de madrugar em plena madrugada, isto é, em horas escuras da manhã.

Ergamo-nos, façamos nossas abluções e extensões, e alongamentos e quejandos, e prossigamos. Há algo no ar ainda, bem sinto eu isto, mas não sei bem precisar o que é. Está morto o horário, que fique assim, por longos e longos meses, que quiçá seria convertido em anos, numa eternidade que seria mais válida que toda esta inútil economia inexistente.

Mais adiante, encontro acordada quem eu há muito não me deparava nas manhãs obscurecidas pelo horário de imbecilão, e isto em muito me adianta a manhã, uma vez que posso sentar-me e tomar meu café caseiro, muito mais forte, muito mas salutar que um pré-fabricado cafezinho de escrotório. Faço minha hora, sorvo minha negra infusão, e parto para a rua, ainda sentindo os efeitos de alguma estranheza no ar.

À praça vou, e na praça constato o que há de errado, constatado desde meados da semana passada: não existe transporte público nesta segunda feira! Os revoltados agentes de tal transporte resolveram cumprir as ameaças veladas de interrupção deste serviço.

E eu, lá estava. Na praça. Sem nenhuma forma de escape. O que fazer? Voltar para casa? Espernear, berrar, gritar, fazer um escarcéu para os pombos e o céu aberto? Para quê?

Ali fiquei esperando algum tempo, um par de músicas ou algo assim. Um vigia veio a informar-me que minhas suspeitas eram verdadeiras, e planejei minha descida em busca de transporte alternativo; mas eis que assim que comecei a descer em busca deles, atrás de mim eles surgiram, e consegui seguir rumo ao nada. Do centro em diante, tudo é mais fácil para estas pernas que ainda conseguem carregar esta cabeça que tanto pensa, que tanto reclama.

E que surpreendentemente não estava esperneando freneticamente dentro da cachola. Há coisas que não se entende nem se deve tentar entender, nestas horas abençoadas ou simplesmente esquisitas. Adiante, compro meu pão e preparo-me para ter ao serviço, com o suor de meu rosto. De minhas pernas. Do meu sovaco. De tudo quanto é lado. Ainda é fevereiro, ainda está quente para conseguir fazer a proeza de cá chegar sem suar. Nem tanto aquecimento - ou resfriamento - global ainda existe nestas paragens, nesta época do ano.

Cá estou, cumpridos foram todos os prazos, cumprido foi o dever de cá vir a ter nesta segunda nauseabunda. Agora, como irei voltar? Esta é a questão para o restante do dia. Melhor preparar a carteira e o táxi, ou agendar uma caminhada noturna, caso não seja possível em casa chegar por meios normais.

Enquanto isto, esperemos para ver o quanto por baixo vão querer negociar o tão pra cima tiver sido jogadas as exigências de tais trabalhadores.

E assim começa a semana. Até onde irá?