quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Domingo! de cinzas.

Ah, o que fazer, em um dia que somos forçados a interromper uma semana que estava tão legal, tão sem encheção de saco de trampo, planilhas e contabilidades, para termos que vir acá, en esta mierda para fingirmos que estamos trabalhando?

Bem, eu sei que o que farei de "útil" de fato aqui hoje é escrever estas poucas e mal traçadas linhas. Mais que isso? Já pegam o boi por ter vindo aqui, em pleno domingo, digo quarta, para fingir que faço alguma coisa. E sei que minha posição é compartilhada pelos demais escravizados legalizados que cá vieram ter hoje. Bem sei que Herr Direktorrrs cá não se ateverão comparecer, uma vez que o problema de ser assalariados miseráveis não é com eles. Na sexta feira já tinham anunciado tal infâmia, coincidentemente com o informe de que a hora vigente da patetização que os escravos teriam que se submeter, seria das doze às dezoito, e não das treze às dezoito, como tinha sido até o ano passado.

Tipo assim: "Vocês terão que vir uma hora mais cedo no domingo, digo quarta. Nós? Ahahahhahahah! Só por esta piada vos brindaremos com mais três horas de trabalho forçado."

Engraçado, muito engraçado, não é mesmo? Fazer o quê. Basta ser assalariado para se estar sujeito a certas franguices do sistema capitalista cretino em vigência. Pode parecer apenas mais um resmungo deste ser; pois bem, assim o é, mas também posso aqui dizer que sim, é uma franguice dos infernos. Por que?

Porque tudo que NÃO fazemos aqui neste dia em NINGUÉM faz nada, num dia em que só vimos aqui para fingirmos que cá estamos, tudo o que NÃO fazemos, tudo isto custa dinheiro! Ligar os computadores, ligarmo-nos às internetis enquanto fingimos que fazemos algo, tudo isto custa dinheiro. Transporte para cá neste dia inútil? Também custa dinheiro. Alimentação? Olha! Comida custa dinheiro, mesmo que os diretores aqui não venham se juntar aos burros.

Ligar as luzes, os ar-condicionados, beber água, usar o banheiro, o telefone(para ligar para os amigos e familiares que também estão nesta roubada e com eles reclamar), tudo isto custa mais caro para a idiota da empresa que ao invés de deixar todos quietinhos em casa, aproveitando para morgar o final das ressacas carnavalescas e para cá virem todos mais satisfeitos.

Mas não. É preciso ser frango, é preciso ser uma mula. É preciso deixar os empregados todos com mais coisas a reclamarem além das tradicionais reclamações diárias. É preciso fazer com que eles odeiem ainda mais seus chefes, para que façam ainda mais mal suas odiadas funções, e eventualmente arquitetem ainda mais maneiras de infernizar a vida deles.

Exagero? Um tanto, é verdade. Pois sou apenas mais um na boiada de gnus que têm que se sujeitar a tais impropérios para arrecadar o vil metal. E bem sei que este dia está sendo um tanto melhor que qualquer segunda feira por aí, uma vez que ao menos não tive que ser interrompido de meus sonhos por um infame despertador. Ao menos isso não tive hoje, nem terei que ainda me preocupar com atividades físicas à noite, pois tive tempo de adiantar pela manhã o que faria à noite. Se todos os dias começassem desta maneira, os dias salariais normais seriam bem mais aceitáveis do ponto de vista de qualidade de vida. Sem falar no fato que a grande parte dos frangos reinantes se mandaram daqui para outra parte qualquer; não mesmo me importo aonde, apenas me importo com o fato que infelizmente eles terão que voltar. Por mim eles por lá ficavam. Por mim sumiam para todo o sempre.

Enfim, como sou apenas um assalariado, meu poder aquisitivo é baixo e não tenho acesso àquele dito mundo melhor, que dizem existir mas que também afirmam ser caro pra dedéu. Então, me contento apenas com o fato que ao menos os ônibus estão mais vazios, não terei que aqui ficar as dez horas tradicionais, e poderei chegar em casa e relaxar, tendo que aturar apenas mais dois dias ditos normais até que venha outro abençoado par de dias úteis.

Dias úteis são, para mim finais de semana e feriados. Para que servem os outros?

Enfim, continuemos nossa vidinha de gado. Ao menos podemos rir de nossos patrões, que têm dinheiro mas são muito mais ínfimos que qualquer um de nós. Eles não têm muito mais vida restante nos ossos capitalistas. Tinham, quando eram gente feito nós. Apenas empregados com muito pela frente e muitas reclamações sobre os chefes.

Tinham, quando ainda eram gente. Depois que se tornaram diretores, apenas acumulam inimigos - todos os funcionários. Pois, em datas como esta, eles cá não vêm não apenas por não precisarem enquanto chefes. Eles cá não vêm pois pertencem ao antro dos por nós odiados. Por nós execrados.

Enfim, continuemos este resto de semana.