--Chuck Palahniuk, Survivor.
Sim, promessa é dívida, então aqui estou eu nesta manhã de sexta feira, e embora não seja uma manhã muito inspiradora, ou melhor dizendo, uma manhã em que estou meio desanimado, irei ainda assim escrever sobre o que me propus ontem.
Pois bem. Uma de minhas grandes aflições relacionadas ao meu problema no ombro esquerdo é que coincidentemente também este é meu braço mais...decorado de todos. Sim, um dos motivos que mais me aflige quando se fala de ter que fazer alguma intervenção cirúrgica que seja naquele local é exatamente este. Qualquer corte ali estragaria muito a Fênix que ali habita.
Não sei bem a que altura de minha vida comecei a ficar enamorado com este tipo bastante peculiar de arte, mas me lembro bem do dia em que me dirigi a um estúdio de tatuagem pela primeira vez, em setembro de 1998. Um de meus amigos mais chegados me ofertou dar de presente naquele ano uma sessão com um dos melhores profissionais do ramo naquele ano. Fiquei uma tarde examinando desenhos nos álbums ali presentes, e de repente avistei o que mais me agradou - evidentemente, um dragão, que ainda habita soberano meu braço direito.
Lembro-me que este amigo em questão achou que fosse um desenho ridículo, e ainda me aterrorizou dizendo para me preparar, pois iria ser algo bastante dolorido. Não obstante toda esta encheção de saco, estava determinado a fazer aquilo, e se perguntassem, não saberia bem dizer por que. Então, naquela tarde, cheguei ali, tirei a camisa e esperei, rangendo os dentes de ansiedade.
Eu estava prestes a me marcar permanentemente, algo de fato indelével seria gravado em minha pele. E se ficasse ruim? Confiava na palavra de Antônio, que dizia que aquele cara era o melhor desta cidade. Marcão, o tatuador em questão, fez o molde do desenho em uma folha de papel de seda e imprimiu a coisa em meu braço. Depois, preparou as máquinas, as agulhas e as tintas.
Eu não tinha a menor idéia de como era o processo, mas estava achando tudo fascinante. E quando ele aproximou a máquina devidamente preparada de minha pele, lembro-me que fechei os olhos e esperei por uma dor absurda. Mas...não era bem assim. Não digo que não senti nenhuma dor, mas nem de longe era tão terrível como tinha esperado que fosse. Fiquei acompanhando todo o processo de perto - evidentemente - e achando tudo ótimo. A sensação evidentemente não é agradável, não me tomem por um masoquista. Eu diria que é uma combinação de dor e calor...algo como se estivesse sendo riscado com uma faca quente. Ehehehe, parece ser terrível, mas eu achei extremamente tolerável.
Duas horas depois, estava pronto. Eu não podia estar mais satisfeito. Havia ficado lindo, muito melhor do que esperava. Fui para casa com o braço embalado em filme de PVC sanguinolento, lavei a coisa em água quente e olhei no espelho. De fato. Havia ficado muito foda aquele bicho em meu braço. Naquele momento eu soube. Nasceram ali duas paixões que reinam em mim até hoje. A paixão por tatuagens em si...e pelo bicho que ali foi representado. (Este tema será recorrido em outro dia, no entanto.)
Eu realmente me submeti ao processo várias vezes desde então - algumas tatuagens maiores exigem várias sessões para ficarem prontas; e não me arrependi de ter feito nenhuma delas. Não cobri minha pele inteira com estes desenhos, mas creio que se tivesse tempo e dinheiro, eu no mínimo teria mais coisas impressas em mim. Todos os tatuadores adoram minha branquelagem; é uma das poucas vezes que ser bicho de goiaba foi-me útil para alguma coisa. Engulam isto, bullies de merda do colégio dão silvério.
E como afirmei no princípio desta crônica, elas são o meu xodó, umas das poucas coisas em mim que eu realmente gosto de fato, que eu amo de fato. Como meu braço esquerdo é dito "fechado", isto é, praticamente todo recoberto por uma única tatuagem, bem no melhor estilo yakuza que Marcão soube emular, quando imagino que teria de cortar ali....aquilo me cortava a alma. Ainda não sei ao certo o que terá que ser feito a respeito do problema, pois ainda não fiz os exames necessários para a completa avaliação do problema, mas desejo do fundo de minha alma, que não seja necessária uma intervenção invasiva ali.
É engraçado, que quando li o livro citado no início deste texto, quando vi esta frase citada, eu parei para pensar nesta analogia proposta por Palahniuk. De fato, presumo eu que possamos fazer tal análise, se levarmos em conta que é uma união permanente entre seu corpo e um desenho; mas não é absolutamente certa, pois não é preciso ser muito inteligente para saber que tirando a dor do processo em si, uma tatuagem não te exige mais nada. Quer dizer, eu mesmo tomei conta delas enquanto cicatrizavam igual se estivesse cuidando de filhos - ou o mais próximo disto que já senti. Mas este sou eu, o detalhista. Nem de longe comparo isto com um relacionamento com pessoas.
Em outra ocasião me disseram que me admiravam por ter tido esta...coragem. Ao que repliquei, coragem? Que coragem, como assim? Não entendi direito, mas acho que tem a ver como fato de ser algo permanente, como disse anteriormente. Presumo que tenha algo a ver com o preconceito das pessoas, estas idiotas. Sim, isto de fato existe ainda, apesar de que melhorou bem desde a época que fui marcado em 1998 para cá. Nunca me importei com isto, para dizer a verdade; se alguém me julga por algo como uma tatuagem, sei que estarei tratando com um ser humano desprezível. E que não merece minha atenção.
Eu admiro muito as tatuagens de outrem também, se são de bom gosto e bem feitas(em especial nas moças; acho extremamente atraente...mas não entenda por isto que gosto de coisas como aquela Penélope da MTV, aquilo é o que eu considero um exemplo típico de exagero e de mau gosto em se tratando de tatuagens), mas ainda - pois de fato, por ser algo permanente, eu sempre recomendo a todos que me perguntam se vale a pena fazer, que pensem bem a respeito antes de fazer. Me lembro que quando senti plela primeira vez a vontade de fazer uma, tinha algo como 15 anos, com aquela cabeça típica de aborrescente. NÃO recomendo que ninguém o faça sem ter uma cabeça mais feita, que realmente saiba que desenho deseja, e que sempre NÃO poupe gastos ao fazê-lo; escolha um profissional que realmente seja bom de serviço. Pesquise trabalhos do cara, veja se as tatuagens se mantêm "firmes e fortes" ao longo dos anos. Eu gastei uma boa grana nas minhas, mas a mais velha já fez mais de 10 anos e está bonita até hoje. Foi uma grana bem gasta.
Um de meus amigos, que tem quase a minha idade física, sendo dois anos mais novo que eu, mas que é dotado de uma idade mental de algo em torno de 300 a 1500 anos, não concorda comigo, pois diz ele que a "cabeça muda muito, você faz algo hoje que acha massa e daqui a uns anos irá se arrepender, blah blah blah". Não concordo com ele, mas sei que ele não está inteiramente errado, pois é muito fácil realmente ser volúvel hoje em dia. Eu adoro meus dragões e minha fênix até hoje, e creio que sempre irei gostar. Mas sei que pessoas hoje em dia consideram tudo muito descartável, assim é o mundo moderno. Portanto, algo permanente como uma tatuagem de fato pode vir a ser um problema para tais pessoas. E como disse, não podemos nos esquivar da cabeça pequena dos preconceituosos, que existiram, existem, e existirão, sempre, sempre. Eu recomendo que ao menos as tatuagens possam ser escondidas se voce tiver que lidar com este tipo de gente. As minhas são facilmente ocultáveis; várias vezes já surpreendi pessoas com elas, ainda mais na época que ainda usava óculos. Com aquela cara de nerd bem-comportado, muitas pessoas se espantavam que eu fosse "bordado".
E eu acho isto engraçado até hoje; gosto de fazer estas pessoas se espantarem. É muito fácil julgar o que está na "superfície". Mas as pessoas têm seu lado oculto, por assim dizer. E me divirto muito com as que se espantam que eu possa ser um cara que me sujeitou a tanta "dor" para conseguir tais ornamentos corporais. É massa ver o julgamento preconceituoso das pessoas ir por água abaixo. Como diria o falecido Marcão, sou o tal "nerd do mal". Ehehehe, muito mal mesmo, ô. Ahahahahah. Mal PRA CARAIO!
Enfim, não creio eu que uma tatuagem é algo como um casamento, mas de fato pode-se dizer que sou mais propenso a assumir...sei lá, um compromisso como este. O fato de ser eternamente marcado, a tinta e agulhas. Para sempre.
E que elas permaneçam íntegras, é o que peço. Sei que irei morrer se tiver que estragar meu braço esquerdo...ainda mais agora que meu tatuador "favorito" não está mais vivo. Quem iria poder consertar algum eventual estrago?
Enfim, este foi um de meus maiores textos até então. Espero que não tenham fritado a paciência de vocês...
E eis que o semana-fim se aproxima, e eu tenho que trabalhar. Até mais...
Pois bem. Uma de minhas grandes aflições relacionadas ao meu problema no ombro esquerdo é que coincidentemente também este é meu braço mais...decorado de todos. Sim, um dos motivos que mais me aflige quando se fala de ter que fazer alguma intervenção cirúrgica que seja naquele local é exatamente este. Qualquer corte ali estragaria muito a Fênix que ali habita.
Não sei bem a que altura de minha vida comecei a ficar enamorado com este tipo bastante peculiar de arte, mas me lembro bem do dia em que me dirigi a um estúdio de tatuagem pela primeira vez, em setembro de 1998. Um de meus amigos mais chegados me ofertou dar de presente naquele ano uma sessão com um dos melhores profissionais do ramo naquele ano. Fiquei uma tarde examinando desenhos nos álbums ali presentes, e de repente avistei o que mais me agradou - evidentemente, um dragão, que ainda habita soberano meu braço direito.
Lembro-me que este amigo em questão achou que fosse um desenho ridículo, e ainda me aterrorizou dizendo para me preparar, pois iria ser algo bastante dolorido. Não obstante toda esta encheção de saco, estava determinado a fazer aquilo, e se perguntassem, não saberia bem dizer por que. Então, naquela tarde, cheguei ali, tirei a camisa e esperei, rangendo os dentes de ansiedade.
Eu estava prestes a me marcar permanentemente, algo de fato indelével seria gravado em minha pele. E se ficasse ruim? Confiava na palavra de Antônio, que dizia que aquele cara era o melhor desta cidade. Marcão, o tatuador em questão, fez o molde do desenho em uma folha de papel de seda e imprimiu a coisa em meu braço. Depois, preparou as máquinas, as agulhas e as tintas.
Eu não tinha a menor idéia de como era o processo, mas estava achando tudo fascinante. E quando ele aproximou a máquina devidamente preparada de minha pele, lembro-me que fechei os olhos e esperei por uma dor absurda. Mas...não era bem assim. Não digo que não senti nenhuma dor, mas nem de longe era tão terrível como tinha esperado que fosse. Fiquei acompanhando todo o processo de perto - evidentemente - e achando tudo ótimo. A sensação evidentemente não é agradável, não me tomem por um masoquista. Eu diria que é uma combinação de dor e calor...algo como se estivesse sendo riscado com uma faca quente. Ehehehe, parece ser terrível, mas eu achei extremamente tolerável.
Duas horas depois, estava pronto. Eu não podia estar mais satisfeito. Havia ficado lindo, muito melhor do que esperava. Fui para casa com o braço embalado em filme de PVC sanguinolento, lavei a coisa em água quente e olhei no espelho. De fato. Havia ficado muito foda aquele bicho em meu braço. Naquele momento eu soube. Nasceram ali duas paixões que reinam em mim até hoje. A paixão por tatuagens em si...e pelo bicho que ali foi representado. (Este tema será recorrido em outro dia, no entanto.)
Eu realmente me submeti ao processo várias vezes desde então - algumas tatuagens maiores exigem várias sessões para ficarem prontas; e não me arrependi de ter feito nenhuma delas. Não cobri minha pele inteira com estes desenhos, mas creio que se tivesse tempo e dinheiro, eu no mínimo teria mais coisas impressas em mim. Todos os tatuadores adoram minha branquelagem; é uma das poucas vezes que ser bicho de goiaba foi-me útil para alguma coisa. Engulam isto, bullies de merda do colégio dão silvério.
E como afirmei no princípio desta crônica, elas são o meu xodó, umas das poucas coisas em mim que eu realmente gosto de fato, que eu amo de fato. Como meu braço esquerdo é dito "fechado", isto é, praticamente todo recoberto por uma única tatuagem, bem no melhor estilo yakuza que Marcão soube emular, quando imagino que teria de cortar ali....aquilo me cortava a alma. Ainda não sei ao certo o que terá que ser feito a respeito do problema, pois ainda não fiz os exames necessários para a completa avaliação do problema, mas desejo do fundo de minha alma, que não seja necessária uma intervenção invasiva ali.
É engraçado, que quando li o livro citado no início deste texto, quando vi esta frase citada, eu parei para pensar nesta analogia proposta por Palahniuk. De fato, presumo eu que possamos fazer tal análise, se levarmos em conta que é uma união permanente entre seu corpo e um desenho; mas não é absolutamente certa, pois não é preciso ser muito inteligente para saber que tirando a dor do processo em si, uma tatuagem não te exige mais nada. Quer dizer, eu mesmo tomei conta delas enquanto cicatrizavam igual se estivesse cuidando de filhos - ou o mais próximo disto que já senti. Mas este sou eu, o detalhista. Nem de longe comparo isto com um relacionamento com pessoas.
Em outra ocasião me disseram que me admiravam por ter tido esta...coragem. Ao que repliquei, coragem? Que coragem, como assim? Não entendi direito, mas acho que tem a ver como fato de ser algo permanente, como disse anteriormente. Presumo que tenha algo a ver com o preconceito das pessoas, estas idiotas. Sim, isto de fato existe ainda, apesar de que melhorou bem desde a época que fui marcado em 1998 para cá. Nunca me importei com isto, para dizer a verdade; se alguém me julga por algo como uma tatuagem, sei que estarei tratando com um ser humano desprezível. E que não merece minha atenção.
Eu admiro muito as tatuagens de outrem também, se são de bom gosto e bem feitas(em especial nas moças; acho extremamente atraente...mas não entenda por isto que gosto de coisas como aquela Penélope da MTV, aquilo é o que eu considero um exemplo típico de exagero e de mau gosto em se tratando de tatuagens), mas ainda - pois de fato, por ser algo permanente, eu sempre recomendo a todos que me perguntam se vale a pena fazer, que pensem bem a respeito antes de fazer. Me lembro que quando senti plela primeira vez a vontade de fazer uma, tinha algo como 15 anos, com aquela cabeça típica de aborrescente. NÃO recomendo que ninguém o faça sem ter uma cabeça mais feita, que realmente saiba que desenho deseja, e que sempre NÃO poupe gastos ao fazê-lo; escolha um profissional que realmente seja bom de serviço. Pesquise trabalhos do cara, veja se as tatuagens se mantêm "firmes e fortes" ao longo dos anos. Eu gastei uma boa grana nas minhas, mas a mais velha já fez mais de 10 anos e está bonita até hoje. Foi uma grana bem gasta.
Um de meus amigos, que tem quase a minha idade física, sendo dois anos mais novo que eu, mas que é dotado de uma idade mental de algo em torno de 300 a 1500 anos, não concorda comigo, pois diz ele que a "cabeça muda muito, você faz algo hoje que acha massa e daqui a uns anos irá se arrepender, blah blah blah". Não concordo com ele, mas sei que ele não está inteiramente errado, pois é muito fácil realmente ser volúvel hoje em dia. Eu adoro meus dragões e minha fênix até hoje, e creio que sempre irei gostar. Mas sei que pessoas hoje em dia consideram tudo muito descartável, assim é o mundo moderno. Portanto, algo permanente como uma tatuagem de fato pode vir a ser um problema para tais pessoas. E como disse, não podemos nos esquivar da cabeça pequena dos preconceituosos, que existiram, existem, e existirão, sempre, sempre. Eu recomendo que ao menos as tatuagens possam ser escondidas se voce tiver que lidar com este tipo de gente. As minhas são facilmente ocultáveis; várias vezes já surpreendi pessoas com elas, ainda mais na época que ainda usava óculos. Com aquela cara de nerd bem-comportado, muitas pessoas se espantavam que eu fosse "bordado".
E eu acho isto engraçado até hoje; gosto de fazer estas pessoas se espantarem. É muito fácil julgar o que está na "superfície". Mas as pessoas têm seu lado oculto, por assim dizer. E me divirto muito com as que se espantam que eu possa ser um cara que me sujeitou a tanta "dor" para conseguir tais ornamentos corporais. É massa ver o julgamento preconceituoso das pessoas ir por água abaixo. Como diria o falecido Marcão, sou o tal "nerd do mal". Ehehehe, muito mal mesmo, ô. Ahahahahah. Mal PRA CARAIO!
Enfim, não creio eu que uma tatuagem é algo como um casamento, mas de fato pode-se dizer que sou mais propenso a assumir...sei lá, um compromisso como este. O fato de ser eternamente marcado, a tinta e agulhas. Para sempre.
E que elas permaneçam íntegras, é o que peço. Sei que irei morrer se tiver que estragar meu braço esquerdo...ainda mais agora que meu tatuador "favorito" não está mais vivo. Quem iria poder consertar algum eventual estrago?
Enfim, este foi um de meus maiores textos até então. Espero que não tenham fritado a paciência de vocês...
E eis que o semana-fim se aproxima, e eu tenho que trabalhar. Até mais...