sexta-feira, 8 de maio de 2009

O quinto Swervie.

Tum, tum, tum.

Em todas as vezes que tive que fazer algo semelhante a isto, foi sempre a mesma coisa, especialmente minutos antes da coisa acontecer em si. A mesma sensação de...ansiedade, mas levada ao extremo, em sua forma mais cruel e intensa. Frio no estômago. Taquicardia. Tremores por todo o corpo. Algo que só quem está vivenciando sabe como é opressivo.

En quanto pensava nisso, tentava não pensar no evento em si. Brincava com a chavinha dos captadores da SG, ao mesmo tempo que me espantava de estar com tal instrumento nas mãos. Que guitarra maravilhosa, tudo nela era balanceado. Era uma das mais leves guitarras que já havia experimentado, e que som. Um monstro.

Como eu havia chegado ali, como eu estava prestes a fazer o que eu iria fazer, isto era algo que realmente me espantava. Em retrospecto, creio eu que seria o acontecimento mais...estrondoso de minha vida. Algo que justificasse todo o meu caminho até aquele momento, se de fato as coisas acontecem por que têm que acontecer. Se de fato eu tivesse que vivenciar tudo que havia acontecido em minha existência, todos os momentos ruins, toda a minha até então vã existência tivesse que de fato acontecer para que chegasse até onde estava....então havia valido a pena.

Eu faria tudo de novo.

Repassei mentalmente todas as músicas, todos os acordes, as harmonias...Tentando em vão ignorar meu estado de nervo. Estava prestes a realizar um sonho de toda uma vida, e não conseguia, de forma alguma relaxar. Mas eu me conhecia bem o suficiente para saber que era assim. Por mais legal que a coisa fosse, isso não iria me impedir de ficar excessivamente nervoso. E eu sabia que isto acontecia a muitas pessoas envolvidas com palcos. Lembrei-me de uma entrevista antiga com o falecido Pavarotti, dizendo que os 15 minutos antes de qualquer espetáculo eram uma coisa horrenda, algo que ele não desejava nem para seus piores inimigos.

Agora, não era só o fato de que eu estava ali, de que eu iria tocar aquela noite que me espantava...não. Era o absurdo, o inimaginável estar ali. Algo muito, mas muito improvável. Eu agradeci a quem quer que fosse o nerd que houvesse inventado a internet. A coisa que havia me proporcionado estar ali, estar prestes a subir no palco com...aqueles caras, aquela banda. A banda. Céus.

Adam passou por mim, riu de minha cara de nervo e me disse para ficar calmo, e que estaríamos subindo em 5 minutos.

Tum, tum, tum tumtumtutmtumtumtumtutmutmtutjmtumtumtutm.

Lembrei-me de tudo naqueles 300 segundos restantes. O rabisco que eu havia feito anos atrás, e enviado para o site deles. O contato com o frontman da banda. O posterior contato com os outros membros. Gente boa, todos. A possibilidade de tocarem aqui no Brasil. O fato de Jimmy não poder vir. O convite para substituí-lo nos shows...A SG em minhas mãos era dele.

Algo inimaginável. A justificativa para toda a vida. O roadie conferia todos os instrumentos, repassou a afinação para a primeira música, Duel, que tive que reaprender completamente na afinação certa....Tum, tum, tum.

Fechei os olhos e contei. Um, dois, três...Calma, calma. Respire.

Jez e Steve George também riram de minha cara e me disseram para relaxar. Sim, claro. Estou prestes a tocar com minha banda preferida e tenho que ficar calmo. Sim, sim. Mas eu não estava agressivamente nervoso, eu estava rido à toa, apesar de meus tremores. É agora, disseram, tá na hora. Eu devia estar com 250 batimentos cardíacos por minuto. Quase não conseguia me sustentar em pé.

Mas avancei em direção ao palco, sem saber no que pensar. Tudo passava na minha cabeça, mas eu não conseguia me focar em nada.

Aquilo estaria acontecendo mesmo? Me perguntei, por entre tremores e suor frio.

Sim, estava. Naquela noite, eu era membro da banda. Eu fazia parte. Por mais que algo dentro de mim gritasse, esperneasse que era tudo mentira, eu sabia que não era. Eu estava ali, junto com eles, e iria tocar.

Isto é, se meus dedos conseguirem ter força e destreza o suficiente para tal, diante daquela descarga de adrenalina. Pé por pé, pé por si, até além da cortina.

Lá fora a platéia era humilde, mas eu realmente não me importava com o número de pessoas. Avistei ao longe alguns de meus companheiros gritando e me acenando. Fiz o melhor que pude para acenar de volta.

Anunciaram a banda....anunciaram a gente, e a galera respondeu. Olhei para Adam, que olhou para Steve, que olhou para Jez, que sorriu e começou a bater as baquetas em cruz, no ritmo de Duel.

Clec, clec, clec.

Era a hora. Adam começou a entoar as primeiras notas, e eu fiz o melhor para posicionar meus dedos firmemente. Tam, tam, tam, tam. Bateria e baixo, por favor. Obrigado.

Agora sim, eu poderia morrer feliz. Agora sim tudo que havia acontecido até então fez todo o sentido. Acho que nunca suei e tremi tanto em toda minha vida, mas eu consegui fazer minha parte, ainda que tenha mascado um pouco devido ao meus frangalhos de nervos. Mas, quando novamente me espantei em estar ali, em estar fazendo o que estava fazendo, já era tarde. Minha adrenalina não baixava, mas a partir da segunda música, eu já estava me sentindo...pleno.

Eu havia realizado um sonho aquela noite. E justificado minha existência.

Isto me fez completo.