terça-feira, 12 de abril de 2011

Deserto.

-Eu te odeio.

Nada. nenhuma resposta. Àquela hora, na calada da madrugada, esperava escutar réplicas; um par de pessoas mais normais já estariam se degladiando, se esfregando no chão, no asfalto, punhos cerrados, secos barulhos, oriundos de socos, muitos socos.

Mas nada. Silêncio.

Também, o que poderia esperar? Asfalto? A última estrada se acabara no nada, meio do nada, nada em direção a nada, lugar nenhum. Bem vindo seja. População: ninguém.

Ou alguém. Alguéns, se é que tal coisa existe. Se é que o que somos existe para fora além do que somos para dentro. Isto existe? Existimos para os outros, queur dizer, o que somos de nós para nós?

-Idiota.

Nada. Nenhuma resposta. O que é o silêncio para quem faz dele sua divindade? Seu deus? Existe algo além da humanidade não presente ali? nada, ninguém.

Não pode se olhar nos seus olhos sem ver o que acontece. Não poderia se ver sem se odiar.

Na surdina da noite, apanhou o carro, dirigiu muito tempo. Deserto. Nada além de areia e ninguém, por todos os lados. Deserto. Sim, como diria um certo alguém, grandes são, e tudo na vida é deserto.

Em sua vida.

Ninguém além do reflexo. Do que era. Do que é.

Ninguém.

Porquê...porquê não conseguia fazer como o que escrevera, escritor falido, de si para si, meses atrás. Por que não mais era aquilo? Havia alguma certeza? Havia alguém ali? Algo que prestasse? Para quê? Para servir de mau exemplo, de referência, paradigma do fracasso e da auto-piedade. Piedade?

-Filho da puta, eu te odeio.

Nem mesmo um eco. Não ali, não sem paredes ao redor. Nada, além do chão e das estrelas, tão distantes, tão mortas, luz morta a viajar, anos luz a fio. Registro incorreto de algo que fora e não mais era.

Assim como ele.

Quando, quando teria fim, tudo aquilo? Era isso que queria? Era isso que era? Pesadelo inacabado, inacabável. Eterno enquanto durasse. Enquanto vivesse.

-Por quê você não morre??

Todas as perguntas sem respostas...apesar de bem saber ele todas. Todas.

Não tinha mais nada a ser feito. Nada havia além do nada. Nada.

Areia e estrelas. Tudo e nada, assim como ele.

Assim como ele.