segunda-feira, 4 de abril de 2011

De sobre casamentos e fobias sociais.

Sociofobia. Isto existe, presumo, nos dicionários e definições para-pessicológicas do mundo muderno da vida nos anos dois mil e quejandos. Sim, existe. E presumo que todos conheçam alguém com um grauzinho desta "patologia" por aí. Mas, presumo eu também, que não conheçam alguém que tenha a coisa tão aprofundada como este que vos escreve.

Certo, certo: sem exageros, sem teatros. Imagino que existam sim, pessoas que deste mal padeçam muito mais que este Noiado. Entretanto, digo este exagero pois fazia muito mas muito tempo mesmo que não sentia na pele tal aflição como me senti neste final de semana passado. Sou a definição apropriadíssima para o termo em inglês SAP - Socially Awkward Person. Ou, se preferirem o lado irônico da coisa, existe o Advice Animal feito especialmente para pessoas como eu.

Bem, contextualizando a coisa, neste final de semana foi o casório oficialmente dito de um amigo meu, destes amigos que se tornam seus irmãos sem que sejam mesmo da família, por assim dizer; se fosse possível, eu venderia meu "irmão" em algum mercado negro de bugigangas humanas ou coisa assim, e trocaria por um Hugo ou um Rafael da vida, tranquilamente. Mas, deixando de lado desavenças familiares, este tipo de amigo é daqueles que a gente faz esforço, sacrifício, põe a mão no fogo por eles. Eu, sendo o eremita que sou, ultimamente ando tendo "ziguizira" com qualquer local público, em especial se tiverem mais do que cinco indivíduos presentes. E se eu não conhecer tais cinco, a aflição é ainda maior.

Eu estava em uma cidade do interior, que eu não ia há uns dez anos, com poucos conhecidos à mão, e um salão de festas repleto de faces desconhecidas. Além disso, estava me sentindo absolutamente ridículo trajando aquelas vestes típicas de gente socialmente importante, ou apenas mais formalizadas, algo assim: para que existem tantos botões naquelas camisas? Para que usar gravatas? Para que ostentar um terno em um dia de tórridas temperaturas como as experimentadas naquele dia?

Não importa. O cara é irmão, a gente enfrenta estas coisas pelos irmãos. E enfrentei, lá fui de carona com gente que eu desconhecia, já quase morrendo de aflição por este simples fato. Além disso, meu lado resmungão, que tive o cuidado de acorrentar e esconder láááá no fundo da mente para não estragar de antemão o humor das demais pessoas que - naturalmente - não compartilham de minha misantropia e fobias sociais, e que muito se deleitam em reuniões semelhantes, não se calava e ficava tentando vir à tona. Bem sei eu o que sou, este ser turrão e mau humorado, que ultimamente anda ainda mais misantropo que o costume. Não queria estragar a festa de ninguém, então fiquei mais calado que já sou, brigando comigo mesmo, tentando refrear todos os ímpetos de bater em retirada toda vez que algum pânico social começava a querer se manifestar.

Como dizem, nestas horas, é melhor então se inebriar, ainda mais em um evento em que o consumo de álcool é não somnete liberado, mas também encorajado por TODOS os convidados. Não o fiz. Me conheço bem o suficiente para saber que se cedesse a tal impulso, eu teria terminado desmaiado numa privada, afogado em minhas próprias regurgitações. Fiquei tranquilo, ou ao menos tentei ficar, me comportei do jeito certo, não fiz nenhuma merda. E fui repreendido por muitos de meus inebriados companheiros. Aparentemente, eu sou dos caras mais legais do planeta, e nas horas alcóolicas, meus companheiros(os poucos que eu conhecia de fato ali), se lembraram de mim e como ando muito isolado, soltaram efusivos protestos de elevada estima e consideração, mesclados com protestos autênticos contra meu sumiço. "Cara! Vochê é um fedaputa! Dosh carash maish legaissss que conheço e fica só enfurnado naquela porra de shótão lá! Porra velho! A gente grada dochê...Hic! Nóoo ce viu aquela mulé ali?? Mash que delíchia hein Buriol? Hein? Hic! Seu fedaputa..."

Perdão, meus companheiros. Sim, a maré anda em baixa. Se existir alguém por aí que já vivenciou má fase, em que a gente se considera o mais vil e torpe dos seres humanos que jamais existiram, eles entenderão. Mas, acho que não. Eu, em toda minha constituição, por mais que nestas horas as pessoas tenham estas manifestações mui efusivas de apreço à minha triste figura, concordo de certa forma que estou sim, deveras recluso ultimamente, mas afirmo-lhes, do meu ponto de vista, estou poupando eles da presença incômoda de um cara que só sabe reclamar. Um cara que só reclama de barriga cheia, um adolescente terminal, um isto e um aquilo. Aquiesço: sou tudo isto e mais nove, que ainda não descobriram. Auto-estima? O que ser isto?

Certo, não queria transformar isto aqui em mais uma recordação de meu "diário emo" nosso de cada dia, mas...é o que me restou, no meio de minha incomunicabilidade para com os outros humanos. É aqui que em geral, o Buriol de verdade aparece, e se alguém tiver alguma dúvida do real motivo de querer evitar as pessoas, aqui fica bem claro. Me dizem que é "viagem errada" pensar assim, mas...então, sou todo uma viagem errada. Quem é obrigado a tolerar semelhantes "delírios de grandeza às avessas" de um sujeito como eu? Como disse, neste evento em questão, muitos foram os protestos contra minha ausência. É realmente isto que querem, meus amigos? Tolerar um cara como eu, que se acha(no sentido mais pepreciativo da expressão), o pior dos humanos? Estraga-festas, espalha-rodinha, resmungão, etc, etc. É o que me acho.

Existe sim, parte de mim que não duvida de que no mínimo eu não seja tão péssimo, mas tal porção é fraca. Ainda mais depois que percebi certos fatos inegáveis de minha existência, a neurose de ser um ser humano de certa forma, aberrante, impera em meus sentidos. Eu realmente tive momentos de franco desespero no meio da multidão festiva que existia no salão de festas. Acho que era o único que estava mais curtindo "bad trips" emocionais e sociais do que tudo ali. Sei que não é legal ostentar isto, e por mais pobre que tenha sido, mais irrelevante que uma tampinha de refrigerante que possa parecer, foi este meu "presente de casamento" para meu amigo e irmão, Hugo. Em sua forte inebriação, o cara me afirmou tudo que me disseram os demais amigos ali presentes: "Vochê é como um irmão para mim cara, vochê é uma pessshoa muito correta, muito boa! Cara! Puta merda, que bom que vochê veio, seu fedaputa! Vamo beber maish! Garshon, mais uma margarita e outra piña colada pro meu irmão aqui!"

Ehehehehe. Sim, sim, foram mais ou menos essas palavras que me disseram. Que bom, diz a pequena porção de auto estima que ainda existe em algum lugar do passado do meu cérebro. Peço desculpas a todos que ando falhando com minha presença, ou com meu mau humor, ou sei lá mais o que que sentem falta em minha ilustre e desanimada pessoa. Mas meu inadequado sentido aflorou muito na festa, e fazia muito, mas muito tempo mesmo que não sentia tamanho desconforto e inadequação social. Será a idade? Talvez, pois em certas horas também senti o peso dos anos nas costas doloridas por ficar em pé, pés doloridos por conta daqueles sapatos sociais tão confortáveis. Me senti um velho de noventa e sete anos ao me sentar numa cadeira certa altura da festa. Senti o maior alívio que um SAP(vide início) pode sentir. Quer dizer, minto. O maior alívio eu senti ao término da festa. Quando me vi novamente sozinho, apenas eu e meus demônios, no quarto.

Enfim, eu sei que teve tudo muito "bão", que a festa foi de arromba, que eu me diverti, apesar de todo meu arsenal de errôneos sentimentos terem aflorado de montão durante o evento...e muito agradeço a meu torto irmão, pelas palavras de alta consideração por ele emanadas em seu momento mais alcóolico possível da noite. In vino veritas, como se diz. Sei que o cara é dos mais certos seres humanos que conheço, e aceito a fraternidade etílica. Não pude acompanhar-vos em sua bebedeira, meu caro, mas bem sei que apenas minha presença, por mais ínfima que seja para este que vos escreve, foi um presente. Por mais ínfimo que seja tal presente.

Como é complicada a vida destes seres que não se gostam, não é verdade?

Enfim, assim foi, assim é. Assim, assado. E a segunda prossegue e temos que ainda tentar fazer coisas, aprender aquilo que não pode ser aprendido nem apreendido por este completo imbecil chorão. Hasta la vista, senhores e "cenouras". Se é que alguém vai ter paciência de isto ler.