Chegar ao escritório. Ninguém por perto. Lá fora, também ninguém. Aqui dentro, pessoas, mas ninguém mesmo assim, em todas as partes, muitas pessoas
mas ninguém.
Chegar, ver o monte de nada sobre a mesa, papéis, muitos, mas nada. Nada além de papéis, números alheios e mais
ninguém.
Quente é o dia, abafado é o tempo, chuva irá cair, lá fora, felizmente lá fora. Mas e os outros lá fora? E os outros? Outros?
ninguém.
Lembro-me, tenho que tirar o pedido, fazer o pedido, da mangueira cirúrigica. Conectar, braço à agulha, mangueira à máquina de café. À minha frente, uma máquina anda sozinha pois ninguém está a operar a danada. Ninguém liga a máquina de xerox, e mesmo assim ela se liga. Máquinas, ao meu redor, todas funcionam sozinhas.
Ninguém as ligou.
Fico aqui, atônito diante de tanta anonimidade. E sei, bem sei, que sou tão anônimo quanto eles, estes seres que não existem.
Dias assim, não sei o que fazer. E olho, tanta gente, ninguém.
Ninguém. Nem mesmo eu.