terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Sinfonia do mau humor.

Na noite anterior, bem sabias que algo fazia falta, mas estivestes determinado em tentar mudar, tentar vira a página, assim como o ano. Então, esperastes, recusastes, escustastes. Fez tudo certinho. Nada de coisas escusas, prejudiciais à saúde, este artigo tão delicado. E a noite passava, as horas passavam, e o sono era insone, insone. Lá pelas tantas perdestes a paciência: sete gotas, clonazepam. Sabias bem o custo de tal sono, mas quem sabe? O ano é novo, às vezes eram apenas ondas erradas do ano par que se passou, que morreu.

Momentos mais tarde, acordastes. Sim, parecia que a noite nem sequer havia passado. Um corte seco em sua existência, e a nítida certeza que mais uma vez, houvera engano. Soneca, por mais dez minutos que viararam dez segundos. Acordar, acordar. Raiva, exasperação. Lá fora, tudo cinza, tudo lodoso, esverdeado, mofado. A porta, inchada por tanta água a cair, agarra-se no batente. Um ríspido chute, foda-se a porta, filha da puta. Ninguém na cozinha, fazer café. Olhar horas e ver que não haverá meio de se tomar café. Sair, debaixo da chuva, chuva, chuva, esta eterna, esta coisa imbecil e atrasada que tanto vangloriam, malditos hippies dos infernos do cu do caralho. Morram afogados na porra da chuva e me deixem em paz.

Tudo escorregadio nas ruas, é como o gelo dos países temperados, esta merda, esta abundância de briófitas, plantas ridículas que só abundam quando chove, coisa cretina. Só serve pra dar lodo, para fazer as pessoas deslizarem inadvertidamente calçada abaixo. Nenhuma música que o shuffle me traz faz minha cabeça. Tudo insípido, idiota. Ponto de ônibus? Encharcado, pra variar. Neblina, névoa, umidade de 2000 milhões de por cento. Cinza, cinza, cinza, e todo este mato inútil crescendo.

Pessoas, dentro do ônibus. Gente que é melhor nem chegar perto de mim pois já matei mentalmente doze dos onze passageiros antes da roleta, esqueci de incluir o trocador. E o motorista. Olhe pra frente, pare de conversar com essa gorda idiota e estapafúrdia. Chuva, chuva, eterna água mole e chata que cai, tudo molhado, todos os cantos, todas as partes. Olho as pessoas na rua. Aquele tem cara de safado, que se diz bom pai mas chifra a mulher com uma ordinária qualquer, sem remorsos de nenhuma das partes; ele não vai deixar a "oportunidade" passar, ela sabe aproveitar a imbecilidade dos homens devido a tal "oportunidade": sabe que se bobear ainda consegue engravidar e arrancar um bom dinheiro do idiota que pensa com sua masculinidade hetero-idiota, sua imbecilidade aflorando por todos os poros do corpo. Filho da puta, encontraste sua puta ideal. Morram.

Saio na chuva, perco o amarelo coletivo que deveria apanhar. Mai mistura com este povo, esta umidade, esta merda. Estou dormindo, mas acordado, vivenciando o pesadelo de ser eu mesmo, este ser nojento, repelente, mau-humorado, preguiçoso, indolente, esponja, sanguessuga, aproveitador. Egoísta como eu só, e ainda assim odeio o mundo e tudo que nele existe, odeio o universo e toda esta merda, esta necessidade de se "crescer", de ter que "escolher a vida," assim como anunciado na primeira fala de Trinspotting. Para quê, para quê??? Vida? Trabalahra num emprego que odiamos, ganahar dinheiro para comprarmos merda que não precisamos, casar, para aliviar a pressão da sociedade, das convenções, dos imbecis que assim definiram que tem que ser, que deve ser. Filhos? Acho além de uma mega crueldade, soltar filhos indefesos num mundo fudido, fudido, cretino, absurdamente ilógico e imperdoável como este. Acho um verdadeiro poço de decepção também. Seus filhos, lhe odiarão para o resto da vida assim que começarem a ver a merda que você os meteu, a merda que você é, a merda que o mundo e as pessoas são. E isto tudo, sabendo que são meras versões estendidas de você mesmo. Ou seja, a continuação da merda.

Mato mentalmente todas as vadias, todos os imbecis, todos os mendigos em meu caminho, além de me matar, de me atirar defronte aos ônibus, de invadir uma farmácia e me ministrar uma overdose de opiáceos não-ilegais que ali existem.

Dia, longo dia. Chove eternamente, tudo é chato e eu também, mais que tudo, mais que todos. Depois estranham porque quero ficar sozinho. Depois estranham que eu muito me ria quando falam que preciso é de companhia afetiva. Para jogar comigo e com meus gostos, para me moldar, para me adequar à maneira dela, para depois me jogar no lixo porque não serei mais o "homem que me apaixonei".

Em resumo, é isso. Hoje tá assim. E todos os dias estão assim, uns mais contidos que outros, devido ao fato que não tenho acesso regular a rivotril todos os dias.

Viva o mau humor do Noiado. E que ele morra em silêncio e deixe o resto do universo em paz, para sempre desprovido de sua lógica odiosa e execrável. Ser detestável dos infernos. Vaso ruim não quebra, mas estamos dispendendo esforços sobre-humanos para livrar a humanidade deste espinho, desta chaga inútil e irrelevante.

Morra, morra. Filho da puta.