quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Bagunça.

Prezado Sr. Cérebro,

Quer me parecer que o sehor continua sendo o mesmo sabotador de sempre, uma vez que ontem, ao perceber o fogo, senti ímpetos de ser o primeiro a acrescentar mais lenha na fogueira. Felizmente, algum sentido que faça mais sentido dentro de mim falou diferente em minha conturbada mente e somente me limitei a apenas empurrar ao incêndio o restante de minhas convicções em um ser superior e altruísta. Depois, tencionava apenas me dirigir para casa, mas fui convocado a reunião barística, que não é o coletivo de baristas mas sim o coletivo de cachaceiros sentados em um muquifo qualquer do baixo centro da cidade - evidentemente, não tão baixo quanto alguns dos companheiros tombados no dever de serem devidamente companheiros já me sugeriram.

Lá adentrando, percebi de cara o motivo real da reunião, onde se discutiam as diversas possibilidades de ingresso no mercado de trabalho da miséria a dois, mais conhecido simplesmente pela alcunha de relacionamento. Ora, bem sabemos, eu e o senhor, tal ficção do interlúdio é por deveras fictícia, ainda mais para seres tão céfalos que acabam por se tornar acéfalos para a maioria da sociedade reinante, estas mulas que tanto relincham nos nossos ouvidos diariamente suas regras e regulamentos parametrizados secularmente, que tal ingressão nem é possível quanto desejada, e tratei de sair dali às pressas.

Tal não foi meu espanto quando me vi longe dali, do senhor resolver, mais uma vez, agir contra seu próprio dono. Para variar. De repente, ao transitar dentro do trânsito dentro do ônibus dentro das ruas dentro da cidade dentro de tudo mais, me surpreendi olhando para o poste de luz, analisando as ínfimas mariposas que orbitavam em volta da incandescente porém absolutamente ordinária lâmpada, formulando comparações pitorescas sobre tais seres que sempre almejam a luz, ainda que isto signifique uma morte lenta e dolorosa ao lá chegarem, ao finalizarem sua corrida, ao atingir o objetivo final de suas cretinas existências.

Logo, já estava ampliando a filosofia barata para os planetas, para questões galácticas acerca da existência de água em outros sistemas, da infinidade do universo, da absoluta necessidade de sim, haver vida lá fora, completamente diferente da que conhecemos, e o que é nossa ciência em comparação com esta infinidade de estrelas, de planetas, de todo este mistério do firmamento. De repente, lembrei-me de estúpido artigo que li no buraco negro da produtividade, este localizado na rede mundial de computadores, tendo sucursais em cada maquininha conectada a tal rede, acerca da mudança das datas de certa coisa denominada horósco, que nada diz em geral mas que tantas pessoas seguem, cegamente, dia após dia, editorial após editorial inútil.

Daí, lembrei-me de como somos arrogantes perante nosso conhecimento ínfimo sobre isto tudo; lado outro, também me recordei de como ainda ostentamos superstições infudadas sobre nossos destinos e tudo mais. Como existem mulas que se deixam levar pelos dizeres impressos nos jornais acerca de seus signos celestes, ou como ovelhinhas se reunem em estranhas e ostensivas construções oriundas de religiões que tanto pregam o desapego mas exigem dinheiro, têm muito mais dinheiro que a dívida internacional da Libéria, e ainda assim extraem doações e dízimos de fiéis. Depois, me vi derrubando meu próprio patamar, uma vez que sendo tudo tão amplo e complexo, quem seria eu para dizer o certo ou o errado nisto tudo. O que é nossa ingaia ciência diante de todo este universo? O que sabemos nós, desprezíveis seres ditos racionais, a respeito disto tudo?

Quando me espantei, já passavam das quatro da matina: havia transitado de volta para casa imerso em tais inúteis conjeturas, e lá estava, com os olhos bem abertos, insone perante tanto questionamento. Quando comecei a conseguir silenciar V. Sa., e comecei lentamente a embarcar na onírica paisagem que lentamente se abria diante de meus olhos agora fechados, o relógio tocou, incitando-me a levantar-me, a ir trabalhar, o pão nosso de cada dia.

Porquê, eu vos pergunto, caro senhor, POR QUÊ diabos o senhor não me deixa dormir? Por qual motivo obscuro vossa senhoria tem que me fazer ficar pensando A NOITE INTEIRA sobre inutilidades e questionamentos absolutamente irrelevantes?

Por quê não me deixa dormir, fedaputa dos infernos???


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De: Cérebro
Para: Buriol