segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Faxina.

Estou em um sábado, novembro. 2009. É preciso arrumar minhas paragens, meus aposentos, meu irredutível reduto. Coloco algo que soa como 2009, apesar de em 2005 ter sido gravado, enquanto me preocupo em remover eventuais lixos removíveis pela ação das mãos, isentas de outros aparatos de limpeza. A mesa reina o caos, lápis espalhados em meio aos papéis, tantos papéis, tantos rabiscos. É preciso reunir tudo, averiguar o que pode ser eventualmente avaliado por outrem e o que deve - na concepção deste - ser escondido aos olhos alheios.

Termino de apanhar todos os ciscos de maior porte, enquanto sou transportado continuamente ao mesmo ano em que descobri tal banda, 2009. Música rola solta, alta e animada, repleta de overdubs bem sacados, bem sincronizados. Paro por um instante de remover a poeira dos móveis para deixar-me arrepiar por um certo momento musical que faz-me um sentido especial. Ah, como é possível que traduzam de tal forma esta alma, em formas tão inusitadas como esta.

É chegada a hora de acrescentar ruído não-musical à faxina, uma vez que para uma adequada limpeza do sótão irredutível, faz-se necessário usar o aspirador de pó. Desligo o computador e o som, resignado em não poder competir com o ruído de tal aparato, mas triunfante enquanto sei de outra alternativa para poder ainda assim vencer. Apanho meu pequeno iPod e meu fone de ouvido cancelador do mundo externo, e parto para o segundo round.

Faxinas devem existir, mas devem ser devidamente acompanhadas de algo que as torne mais toleráveis. Música para os ouvidos, música que vence até um aspirador. E como estou ouvindo através de um aparato em que o modo randômico faz-se necessário, sou transportado continuamente em várias viagens no túnel do tempo, enquanto limpo minha área. Começo em 1996, fico ali me recordando de como eu resolvi mudar a medicina por outra linha, e fui bem-sucedido, ainda que tenha me fudido no processo. Depois, vim parar novamente em 2009, com outro duo minimalista de som completo os quais fui apresentado em meados deste ano.

Enquanto prossigo, volto para 1993, ano do declínio da economia familiar. A música é boa, mas a lembrança não. Passo adiante, e volto para 2003, época do carnaval. Época em que com tal trilha sonora, fiz minhas primeiras experimentações com resultados agradáveis em guache na minha vida. Bons tempos, boa música. Permaneço ali por uns quatro minutos, depois indo para 2006, ano que descobri que o navio estava mais uma vez naufragando diante da ruína das promessas de um certo edifício localizado perto da lagoa da Pampulha e tão fedorento quanto. Tão podre quanto. Não muito boa lembrança, porém muito boa música. Deixemos rolar.

Metade do assoalho de madeira cru está limpo, e tornamos para 1994. Grandes promessas abundavam em tal época, e a maior de todas era este disco que escuto, que foi um grande disco de uma grande banda, em um ano bastante interessante. Retorno imediatamente ao segundo ano do colégio, onde durante várias aulas eu passava caricaturando de maneira bem simplória as desventuras ocorridas em sala de aula, com seus professores estranhos e alunos um tanto irrequietos. Dali volto para 2009, ano que uma ex-banda reformada no ano anterior resolveu lançar um escelente disco duplo, repleto de canções inéditas e ao vivo, com solos de guitarra nada desprezíveis e bem diferente daqueles horrendos solos de beira de penhasco que o hard rock e o metal tanto insiste em cuspir em seus discos. Aquilo sim é solo.

Nesta nota, estou quase acabando, e volto para 1998, bom ano em que o outro curso superior devidamente completado ainda parecia que iria fazer algum sentido. Fazia tempo que não era remetido a tal época, e que não escutava tal canção, então paro de pensar na poeira e volto a tal reflexão. Nada de muito bom impera ali, e volto para a poeira. Dali volto para meados de 2007, época que ainda estava completamente imerso em um mundo paralelo, comprado por 15 dólares mensais e que me trazia uma possibilidade, ainda que irreal, de ser alguém de importância na vida.Figura de peso, ainda que não existisse além da fantasia. Apresso-me em mudar a faixa: ainda não estou 100% recuperado de tal época.

Aspiro as poeiras existentes no teclado de meu aparato computadorístico e dou por encerrado a tarefa. Desligo o aparato, religo o computador e ligo o som para todos. E volto para 2009, ouvindo mais novidades adquiridas neste ano, mas que são de outras datas. Mas que irão marcar, em minha memória, este final de semana do ano de 2009. Os nada extraordinários eventos do final de semana estarão inclusos nas notas de tal banda, nesta época por mim descoberta.

E assim prosseguirei na vida, com minhas lembranças musicais, sempre me remetendo à memória acossiada à música da ocasião.

E já tá na hora de parar de escrever.