Dias e dias se passam, feriados e finais de semanas, folgas e folgas, na medida do possível. Por mais que existam tais datas - abençoadas datas - de descanso, estou me sentindo completamente destruído por estes dias. É verdade que meus dias de folga se tornaram dias de trabalho, por assim dizer, trabalho propriamente dito, meu trabalho. Meus lápis, meus papéis, meus rabiscos. E não números inúteis e alheios espalhados em minha mesa, em minha tela...tela de monitor, do computador. Contabilidade. Tabelas de co-senos. Funcionários exemplares, a dar seu sangue para nunca, jamais serem reconhecidos pelos chefes. Salvo em horas que dá merda; nestas horas, você se torna uma celebridade instantânea no escrotório.
Enfim. Ando muito, mas muito cansado mesmo estes dias, e bem sei que é a mistura de uma vida dupla se iniciando, de fato. Ontem mesmo já agendei meu descanso, que infelizmente não será tão privilegiado como o de um amigo, que tem o curioso advento de ter férias contadas por dias úteis, e não corridos. Blá, enfim. Eu sou apenas um funcionário de enfeite desta repartição, bem o sei, e pretendo tentar mudar isto a partir destes dias. Aqui não dá para ser feliz, não mesmo.
Sei que agora, mais que nunca, a coisa depende de mim, e é algo muito estranho ter em mente tal constatação. Por que ando brigando comigo mesmo, mais que o de costume, para tentar sair fora desta subvida, sem entrar para a mamata medíocre das "férias privilegiadas" dos "púbicos" serviços brasilão das mamatas gerais afora. Algo que dependa de mim e de meu contínuo trabalho e esforço. Algo que venho tentando aplicar desde que venho tentando EXISTIR, enquanto este Buriol que sou; enquanto não-frango.
Mas afirmo que é díficil, bem difícil ter sucesso nessa empreitada, principalmente quando vocÊ de repente se vê com 33 anos e com a vida completamente estagnada. É como se eu estivesse acordando de um coma, e bem sabemos que não é de uma hora para outra que uma pessoa que sai de um coma volta a ser uma pessoa propriamente dita. Mesmo porque meu como foi auto-inflingido: por anos e anos estive tentando achar algum caminho de fuga deste caos que se tornou minha vida, minha cabeça, minha existência per se - e sem muito sucesso.
Porque, no final das contas, por mais que estivesse eu de coma induzido, eu tinha consciência, eu sabia e sei BEM o que eu precisaria fazer. O problema era fazê-lo. "The solution is the problem", de fato.
Não sei, ainda não sei se desse mato sirá algum cachorro, se dessa fonte beberei. Mas ando tentando fazer, acontecer. Eu devo isto a mim mesmo. Estou farto de me negar em minha essência e tentar viver a vida que outros planejaram para mim. Me tornei sozinho, imensamente sozinho, mas dono de mim mesmo, por assim dizer. E sabendo o que eu quero, irei mais uma vez tentar contornar tais coisas. Que seja pela última vez, que seja válido. Eu sinceramente prefiro a morte à mediocridade da vida frangal e fácil.
Mas há que vencer a mim mesmo, primeiro. Vencer-me, derrotar-me em meus mais obscuros aspectos, aqueles que me desafiam, me paralisam, me privam de criatividade e de vida propriamente dita. Por isso estou tirando férias, mas pretendo não descansar de meu trabalho. Trabalho, vejam bem, e não uma existência assalariada enquanto enfeite de contabilidade, peso de papel, artigo de luxo de escritório.
Enfim, que venha o tal "descanso", sem interrupções, sem hesitações. Que eu consiga fazer de mim algo que possa olhar no espelho sem ter ânsias de vômito. Que eu consiga fazer de mim algo que preste, algo que justifique minha existência. Algo que eu possa mostrar e me orgulhar. Não números alheios. Não metas inúteis. Não a esforços despendidos para nenhum reconhecimento no mundo dos alheios números, das vis somas, das obtusas mediocridades contábeis, tributáveis, isentas de ICMS, dedutíveis no PIS e no COFINS.
Algo que esteja traçado num papel, mas que eu não saiba o que é...ainda.
Que seja meu caminho, por fim.