sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Boate.

Música estranha, música chata. Luzes estranhas, chatas.

O que estava eu fazendo ali? Seguindo o fluxo, evidentemente. Se você sai para um final de semana no interior com seus amigos, você supostamente tem que fazer tudo que eles também fazem, claro. Ao menos foi o que me pareceu quando para cá me arrastaram.

Para este estranho recinto onde pessoas consomem drogas legalizadas e ficam na tal da azaração, pegação, sei lá como se chama isto nestes dias de hoje. Não creio que exista outra razão para se acotovelar em um local como este, abafado e pouco espaçoso. Tampouco pode ser pela qualidade musical. Já é a décima ônzima música que soa como um liquidificador ligado ao pé de meu ouvido.

Com meus confrades vim, para este local hediondo, com o suposto intuito de pegart, de morder, de beijar, de agarrar - palavras deles - e aqui estou, contando minhas moedinhas para comprar alguma sorte de coisa alcóolica. Quando em Roma....

Ainda mais se Roma, neste caso, é um local completamente agressivo para este que narra; tudo ali me soava gritante, atordoante, agressivo. Nunca, desde meus dias mais infantes, consegui entender locais como este. Mas cá estou, com meu amigos, em busca do...

De algo que eu sabia que ali não encontraria. De antemão, eu já sabia. Mas ali estava. Com meu jeito sem-jeito. Com minha lábia inexistente e meu interesse zero em ali estar. Mas...um gole da coisa amarga, que desce queimando e muito custa, pra baixo, pra dentro. Olhar ao redor. Faces, milhares de faces, sem rostos, sem caras. Sem sentido.

Me sinto mais sozinho que se estivesse em plena pradaria da Sibéria, no glacial inverno...e tão confortável quanto.

Olhares se cruzam mas nada significam, olhares são desviados, mensagens são ignoradas. Mais um gole, mais uma careta. Será que tenho o suficiente para outro anestésico destes? Talvez. Mais um gole, mais uma careta. Olhar ao redor, não ver nada, não entender nada.

O que estava fazendo ali?

Qual era o sentido de tudo aquilo?

Ninguém entende, e não querendo ser o rabugento, o chato da festa, cá estou, em busca de nada, colhendo em erradas viagens os pensamentos que me atordoam a cabeça, que já começa a ficar alterada pelo efeito da droga - em todos os sentidos - que continuo sorvendo afoitamente de meu copo, em busca de algum sentido, em busca de algum conforto que não encontrarei na noite que apenas começa.

Um de meus companheiros passa por mim, rindo até as orelhas, por que "tá cheio de tchutchucas aqui esta noite", afirmação que para mim nada significa. Sei que ali não encontrarei nada semelhante àquelas que em minha mente existem. Só ali existem, pelo visto. Só com elas consigo eventualmente me comunicar.

Lá vêm elas, as viagens erradas. Me viro para buscar uma reposição de meu extinto drinque e me deparo com uma mentira, que sorri com dentes disparatados para mim. Não consigo esconder o susto, e saio de perto correndo, temendo alguma retaliação nervosa de tal monstro.

Ao mesmo tempo que sigo adiante, sigo com remorso de ter tido tal reação. Era uma pessoa, como outra qualquer, por que fui agir como idiota? Por que? Por que? Por que? Minha estonteada cabeça teima em me torturar com as coisas mais idiotas em estas horas. Moedinhas ao homem do bar, mais uma dose da droga. Mais um gole, outra careta.

Tudo gira ao meu redor, e mais nada faz sentido. Continuo me sentindo um alienígena do planeta Zonthar que caiu de pára quedas numa estranha reunião de humanos, neste estranho planeta, nesta estranha dimensão, que teima em girar ao meu redor. Bebo, bebo. Olhares não se cruzam, não significam nada, não dizem nada. Me sinto o pior dos seres vivos por estar ali, em tal festa, em tal aglomeração, sem ali estar de fato. Tentando escapar de tudo me afogando em uma droga de drinque que tem gosto de remédio, mas que não age como tal.

Ninguém ali se encontra, além de anônimos estranhos, seres abjetos, que desejam me execrar, me destruir. E giram ao meu redor, me provocando, me tentando, me alucinando. De detrás de meus óculos, vejo tudo embaçado, deformado, estranho. E assim me sinto, deformado, estranho, abjeto. Tentando me esconder das pessoas alegres ululantes, por ser eu o chato da festa, o estranho, o feio, o esquisito.

Tudo gira, e meu estômago se revolta. Perfeito. Fui tentar obter alguma resposta no fundo do copo, encontrei mais um motivo para me sentir um imbecil completo. Cambaleio por entre normais, entre gente bonita que faz e acontece, e tento encontrar um alento, um alívio, um banheiro. Uma privada. Dedos na goela, devidamente acompanhados das involuntárias contrações. Ah, aspectos fisiológicos que não me deixam esquecer. A esta altura, o alcóol já deveria estar sendo depurado, encaminhado para o fígado e....BLARGH. Lá se vão tantas moedinhas gastas em algo líquido que só me fez mal.

O que estava eu fazendo ali?

Vomitando, em um infecto banheiro de um hedionde recinto no interior de Minas. Tentando entender por que as coisas parecem ficar borradas em sua visão quando o volume de distribuição do alcóol atinge o patamar superior da meia-vida da....como é mesmo o nome daquele bicho, aquele que estava no laborá.....BLARGGGGGHHH.

Bile, só sai bile agora. Puta merda. E ainda preciso expurgar mais, expurgar minha alma. Expurgar minha existência, vil existência sendo o chato da festa. Ouço uma voz familiar me chamando por cima da porta do banheiro. Um de meus normais me avistou indo ter à reunião com o orelhão de louça, e partiu em meu encalço.

Muito consternado, me permito ser resgatado, transportado ao carro, passando a vergonha de ser o cara que não sabe beber, não sabe se divertir, e estraga tudo. meu anfitrião me leva até a casa, me larga ali e retorna ao covil dos normais que curtem tudo aquilo que para mim parece ser um círculo interno do inferno. Não sem antes rir de minha triste figura, evidentemente.

Cambaleio até a sala, tento beber alguma água para tentar me hidratar, uma vez que o efeito do álcool é desidratante, e a ressaca é causada por tal "ressecamento" cerebral. Mas a ânsia de devolvê-la para o exterior é mais forte que minha sede; corro para meu banheiro, vomito mais uma vez, nada sai, mas muito me contrai. Fico ali minutos, horas, nem sei, tentando entender algo. Tentando fazer algum sentido em ser eu esta coisa tão idiota, tão imbecil.

Depois de inumeráveis minutos ou momentos que não são exatamente mensuráveis, consigo me levantar e me dirigir para minha cama, onde me deito mas não encontro muito conforto. Ao meu redor, as paredes ainda giram. E minha cabeça não para de me destruir, de me recriminar. Idiota. Vai ficar um solteirão rabugento para sempre. Para sempre serás aquele que é o chato da festa, o que não pega nada e só chia, um rádio velho!! Ha ha ha.

Em momentos como este, me lembro e me conformo com o fato que aqui não pertenço, a este planeta de loucos, que uma pessoa deve se submeter a tal ritual do acasalamento se quiser obter algo. Se quiser não conversar sobre nada, se quiser ser bombardeado por sônicas ondas de inúteis sons emitidos por grandes caixas falantes. Se quiser se divertir, aparentemente.

Se quiser ser gente, segundo a concepção deles. Se quiser ser normal.

Não sou normal. É a última coisa que me lembro ter pensado naquela derradeira hora em que fianlmente, por algum golpe de misericórdia, meu cérebro resolveu se desativar, e tentar pôr um pouco de ordem em meus frangalhos internos, em meu estômago atormentado e meu ocupado fígado.

Não sou normal, e amanhã terei que escutar as jocosidades e recriminações de todos os normais, que se acotovelam em boates, se divertem em tais lugares; dali saem sempre com alguém a tiracolo, e se dão bem.

Não sou normal, de fato.