quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Por uma vida menos ordinária, parte um.

Hoje, eu acordei ontem. E, perplexo, percebi que a coisa ia além: era um ontem que estava acontecendo desde 2000. Aturdido, segui para meu emprego, em busca de alguma resposta, ou para que simplesmente as coisas permanecessem na mesma, de alguma forma, por mais paradoxal que isso possa parece, as coisas ficarem na mesma talvez fosse uma solução. Mas, eu sabia que aquilo era um absurdo: eu estava exasperado justamente por estar ali, preso naquele ciclo eterno de repetições.

Chegando no Templo da Não-Alforria, fui chamado à sala de Antônium, o Gengiva, que ali estava com sua indolência tropical de sempre. Cumprimentos atrapalhados e algumas frases soltas depois, soltei à ele toda minha inconformação de ali estar preso.

-Buriol, você é um idiota. Assista a um Hermes e Renato que vai tudo dar certo no final.
-Mas, cara, você não entende! Minha vida não vai pra frente.
-Pára de ser estressado à toa, porra! Você realmente precisa de sexo.

Para variar, saí dali contrariado por mais uma conversa infrutífera com o Homem. Devido à minha dívida com ele que me conter para não mandá-lo pastar. Ironicamente, aquilo me atava à grilhões empregatícios que me serviam de bola de ferro. Não consegui me concentrar em nada. Lá pelas tantas, Max entra no MSN, mas eu fico envergonhado de tentar discutir meus infrutíferos pobremas com meu companheiro, que já havia passado por situações semelhantes mas aparentemente já estava conseguindo sair da lama passo a passo. Ele já estava residindo em 2006, pelo que podia entender. Eu admirava meu companheiro por sua impertubalibilidade.

Mas a frase do Homem-Gengiva não me saía da cabeça, por mais estapafúrdia que fosse, que soasse aos meus ouvidos. E eu sabia que discutir as mesmas coisas de ontem com Max não me traria nenhum alento.

Mesmo assim, eu sabia que precisava fazer algo a respeito. Brevemente, expus meu plano para Max, que me ouviu com sua paciência usual, para depois me soltar algumas de suas famosas frases de efeito que me derrubaram ao solo:

Não espere mudanças se você sempre faz o mesmo.

Claro. Ali estava a resposta. Era necessária alguma mudança! Max sempre foi por mim conhecido por sua imensa sabedoria, e sua imensa indiferença em relação às encheções de saco.

Mas como fazer isso acontecer, se estava preso àquele loop temporal do ano 2000? Devia ser realmente o reflexo do bug do milênio em cérebros de poetas românticos tuberculosos do século XVIII, ressucitados duzentos anos mais tarde num cabeção feito o meu.

Algo precisava mudar, entretanto. E eu sabia por onde começar. Saí da senzala moderna sem nem dar satisfações a nenhum dos outros autômatos que ali se encontravam. Certo, eu estava desesperado, e momentos desesperados exigem movimentos bruscos e atitudes incompatíveis com minha personalidade de mula empacada. Desta vez eu seguiria o conselho do Gengiva e veria aonde aquilo iria me levar, além do desemprego é claro. Pois não esperaria outra reação da parte de uma corporação capitalista como aquela.

Enfim, saí dali em busca da coisa. Mas eu sabia que para um imbecil feito eu atingir a coisa, era necessária alguma intervenção cósmica ou algo assim. Mas eu tinha em minha cabeça o conhecimento acerca de uma lenda lendária sobre um artefacto mágico quesupostamente ajudava os naturalmente alijados nas artes seculares da sedução de mulheres. A PEDRINHA. A Pedrinha salvaria minha vida, me tiraria daquele ciclo eterno de enxague que estava em loop eterno. A Pedrinha, é sabido, aumentaria em 1500% meu fitness. Pronto, lá estou eu a falar em malditos termos biológicos. Mais um sinal que estava de fato preso ao eterno ciclo.

Eu sabia, entretanto, que obter tal coisa era uma tarefa muito, muito ingrata. Entretanto, eu tinha ouvido falar que existia uma pessoa que teria acessoa a outras pessoas e que poderia me ajudar em tão difícil empresa. Fernandus, entretanto, era uma figura enigmática do submundo daquela metrópole roçal que era minha eterna residência. Era sabido que tal pessoa já havia visto o mundo e feito coisas, e zombado de tudo e todos que se demonstraram contrários às suas crenças, sem entretanto usar de uma artimanha por mim muito utilizada: a raiva. Fernandus era parecido com Max neste aspecto, mas ele tinha acesso à Pedrinha e portanto, vivia rindo à toa.

Mais um argumento a favor da obtenção da Pedrinha para que consequentemente pudesse obter a coisa. Parei no caminho para Contagem, ofegante, e pensei mais a respeito. Eu sabia que para obter tal Pedrinha, eu deveria agradar o detentor das informações necessárias para a obtenção da mesma.

É sabido que Fernandus gostava de certas oferendas alimentícias, e eu mesmo sabia de uma delas, a saber, o Hambúrguer de Ouro Produzido pelas organizações Maria Helena Burian. O lance, entretanto, é que além de eu estar um bocado longe do Mangabeiras, tal detentora deste segredo culinário tão apreciado por Fernandus, eu SABIA que ela não gostava de fazer tal coisa e se recusava a fazê-los em intervalos menores que uma vez a cada sete milênios.

Cocei a cabeça, desanimado. O que fazer então?

Bem, eu precisava continuar andando para chegar ao Covil das Engenharias que Fernandus trabalhava, então pé após pé, continuei em frente. Ainda maquinava em minha mente alguma solução para meu dilema, quando de repente me deparei com um infecto estabelecimento comercial, mas que vendia uma coisa que poderia ser a solução de todos os meus pobremas. Bem, não todos, mas aquele da oferenda necessária para a obtenção da Pedrinha.

A barraca vendia sanduíches de Pão com Linguiça, uma das iguarias preferidas por Fernandus. Comprei três exemplares, recheados com três tipos de linguiças. Aproveitei a deixa para também comprar um bocado de Pão de Queijo recheados de Linguiça, pois sabia que aquilo também agradaria tal CARA.

De posse de tais oferendas, fiz votos para que fossem suficientes para obter o bom grado do detentor da solução de meus problemas, e segui adiante em direção à Contagem.

Tu bí continued.....