Ah, maravilhas da química cerebral. Por mais que ontem nada fizesse muito sentido, creio eu mesmo por se existir uma réstia de moléstia ainda reinante em mim, hoje me sinto infinitamente melhor que ontem, e sem existir muitos motivos, digamos, reais para tal.
Engraçado é isto, todas estas mudanças de comportamento que se sucedem no interior do cérebro das pessoas, em especial o meu, uma vez que ele é o único a que tenho acesso 24 horas por dia para que eu elabore minhas elucubrações sobre o assunto. E sempre me perguntei como diabos estascoisas funcionam. Creio eu que um dia ainda teremos acesso à modernidade do Soma previsto por Aldous Huxley em seu Admirável Mundo Novo.
Mas, em se tratando de química cerebral, o que sabemos é que não sabemos porra nenhuma sobre esse massa cheia de voltinhas que encerramos no coco que fica a um metro do chão. E sempre me fascinou esta josta, mesmo por questionamentos triviais como este. Já passei por muitos profissionais da saúde que tratam ou tentam tratar as pessoas que pensam demais e agem de menos, como é o meu caso. Um deles, o que eu mais pus fé que iria produzir resultados palpáveis, realizava todo o tipo de exame sobre o cérebro que conseguia fazer antes de começar o tratamento. Mapeamento das ondas cerebrais, eletroencefalogramas, todo tipo de exame disponível era empregado assim que a coisa começava.
Este médico era um neurologista conceituado, e psiquiatra credenciado e renomado. Durante o escasso tempo que estive tratando com ele, estava apresentando melhoras concretas. Tomei várias caixas de remédinhos normalmente não acessáveis a qualquer consumidor, os famosos tarjas pretas. E sim, tive efeitos colaterais palpáveis. Ficava uma semana sem ir ao banheiro. E dormia feito uma pedra, chegando dez horas da noite, ficando meio groge até 12 horas depois de tomar a dose. Mas eu estava me sentindo bem mais calmo e controlado, e mesmo fazendo progressos quanto à minha crescenbte misantropia. Isso com 13 anos de idade. Sim, o velho turrão é mais velho que se imaginava.
Evidentemente, muitas pessoas irão me dizer que eu estava é ficando louco, viciado em drogas, sem de fato resolver o problema em si. Eu já me tratei com psicólogos, aqueles profissionais que não usam de meios digamos artificiais para realizar o tratamento. E não vi quase melhoria nenhuma.
Eu já discuti muito sobre o assunto com pessoas dos dois lados da coisa - estudantes de medicina propensos a serem psiquiatras e estudantes de psicologia. Como era de se esperar, não existe nenhum consenso entre eles. E a briga entre estes dois tipo de profissional é marcante.
Eu, sendo formado em uma área, digamos, no mínimo um tanto científica, sempre fui meio ortodoxo com certas coisas, e creio que a psiquiatria tem grande potencial de ser até mais eficaz que a psicologia. O que controla nossas ações? Não é o cérebro? O que é o sistema nervoso central? Uma éspecie de computador biológico, a meu ver. O que faz com que ele funcione? Impulsos elétricos transmitidos bioquimicamente pelo corpo. O que mediam estes impulsos? Neurotransmissores x, y, z, o caralho.
Eu acho que fazendo um estudo prévio e detalhado, feito aquele médico anteriormente citado, no início de um tratamento psiquiátrico, deve gerar bons resultados. Mas sei o que isto representa para uma pessoa normal, com posses normais, salário de merda normal. Infelizmente, eu mesmo não pude continuar o tratamento, pois era muito, mas muito caro mesmo. Anos mais tarde, procurei outros profissionais, digamos mais acessíveis, e me dei mal. Era o que chamo de caça-níqueis da psiquiatria: consultas de 15 minutos, onde basicamente te perguntam, o que te aflige. Não importa a sua resposta, te empurram um Lexotan ou algo do gênero. Resultado, se vocÊ não dormia, passa a dormir. E de quebra fica mais calmo por estar dopado.
Não, isto não funciona. Já saí de consultas deste gênero com uma receita azul de tais tarjas pretas que foram diretamente para o lixo e eu nunca mais retornei naqueles escritórios picaretas.
Já entrei em discussões homéricas com amigos meus que condenavam os medicamentos e os psiquiatras. Mas eu mesmo não abro muito mão de ter fé em um tratamento psiquiátrico adequado. Algo que alie mesmo as duas coisas - o relacionamento entre médico e paciente, as conversas válidas sobre as vivências diversas e agruras da vida, e os remédios. Sempre sendo monitorado com exames regulares.
Agora, parece que drogas, mesmo as prescritas por médicos credenciados, é uma joça dum tabu que teima em morrer nesta porra de sociedade. Parece que vai te tornar um imbecil, um escravo da coisa. Ora! Quem não usa drogas aí que atire a primeira xícara de café, a primeira aspirina, o primeiro antiácido, a primeira cerveja, o primeiro campari, e tantas outras DROGAS que os seres humanos consomem regularmente. Até coca-cola é droga. Em vários sentidos, mas isto não vem ao caso, não no momento.
Eu acredito que dá para existir esta correlação entre a psicologia e a medicina cerebral. Mas, infelizmente, como afirma uma máxima da vida que costumo muito citar, "Existe um mundo melhor, mas é caríssimo".