quarta-feira, 9 de setembro de 2009

WNGB.

Neste final de semana, no sábado, fui agraciado com um momento inesperado. Quer dizer, não foi bem o momento em si que foi inesperado, mas a minha maneira de reagir perante o inesperado que foi algo...bem, surpreendente, ao menos para mim mesmo.

Explicando a coisa do começo, um de meus amigos mais recentes de minha vida, de nome Fernando, que me foi apresentado no momento da minha vida em que estava eu imerso em outra vida muito menos real que esta - a saber, os incontáveis dias que fiquei imerso no submundo virtual denominado World of Warcraft - decidiu levar a cabo um antigo projeto que tinha com alguns outros amigos seus e criar um site de miscelâneas divertidas. Já citei o site aqui anteriormente, mas creio que tumbleweed(aqueles matinhos rodantes que aparecem em faroestes) não necessariamente clicam em links, então não sei ao certo se alguém viu alguma coisa.

Enfim, Fernando me apareceu na semana de cão passada e me ofertou um cargo no site, o de desenhista(mais um, na verdade, eis que já existem dois integrantes que desenham) e chargista, a fim de divulgar ao menos o Sr. Bode, personagem meu que ele é fã incondicional, aparentemente. Pois bem, aceitei logo de cara, não apenas por estar ansioso por alguma espécie de mudança em minha vida, mas por estar de fato à deriva na minha situação corrente em relação a este jogo de azar que é a vida.

Ele me disse que a equipe do site, cuja imensa maioria eu nem ainda conhecia, realizava reuniões aos sábados, para produzirem material para o site, falar bobagem, beber Guarapan(sim! eu adoro refrigerante de maçã) e etisséteras. Juntei minhas coisas, deixando de lado meus materiais de desenho em si. Em minha ingenuidade, esperava que a coisa fosse ser apenas isso, uma reunião, blah blah blah, meia hora depois estaria de volta em casa.

Conheci alguns dos integrantes da equipe, o Lipe(que já havia conhecido superficialmente no WoW), o Mateus e o Bruno. Estes últimos eu ainda não conhecia. Fomos para o QG do site, rindo muito no caminho, pois a galera é de fato muito divertida. Paramos no caminho para adquirirmos o "café da manhã dos campeões" - Cheddar McMelts - sempre falando bobagem sobre bobagem.

Lá chegando, nos organizamos brevemente e mostrei meus rabiscos para o povo, já muito apreensivo por estar mostrando meus rabiscos para pessoas que eu não conheço, mas felizmente, a galera achou tudo muito legal. Certo, certo. Então estava tudo resolvido - eu iria ir pra casa e tentar produzir uma tira por semana para o site. Tudo certo.

Nem tanto. Me deram um lápis e disseram somente "pode começar a produzir."

Momentaneamente, meu chão deixou de existir. Uma das situações que mais me travam na vida é isto - desenhar na frente de outras pessoas, sendo que ao menos duas delas também desenhavam. Meu cérebro já começou a entrar em pânico - sim, sou um ansioso deste naipe - mas mesmo assim, a parte racional dele agiu mais rápido e me disse, "Não falhe agora. Pare com isso. Pare!"

Inicialmente, fiquei perdidaço, começando a tentar fazer alguma coisa e não saindo nada, tamanha era minha insegurança. Enquanto isso, a dicotomia cerebral continuava a brigar, e nada saía no papel. Não sei bem como - afinal de contas geralmente ele sempre perde - meu lado racional e mandão, raivoso e agressivo por natureza, tomou o controle: "Chega desta MERDA. Apenas faça o que você sempre fez, seu imbecil!" e eu fui continuando a rabiscar, apesar dos pesares.

De repente, só ouço a galera em massa presente me parabenizando, achando legal e quejandos. E eu fiquei cada vez menos apreensivo.

Pode parecer algo bem risível eu proceder desta forma, mas afirmo que é um de meus piores pesadelos no dia a dia enquanto "desenhista" para mim. Anos atrás, quando resolvi tentar de vez me assumir como desenhista profissional, abandonando este mesmo emprego em que me encontro agora, e entrando para a faculdade de...Argh-artes, eu já havia passado "roias" semelhantes, ao ser forçado por meus compatriotas desenhistas a trabalhar num evento como caricaturista. Foi uma das piores noites de toda minha vida. Não consegui fazer NADA direito, e descobri no meio da coisa que sou um péssimo caricaturista. Creio mesmo não ter "maldade" o suficiente em mim para sacanear a cara das pessoas. Foi terrível. Saí de lá com ainda menos confiança no meu taco, persistindo por anos.

Mas desta vez, não. Não sei bem como meu lado racional mandou em mim, mas eu sei que produzi dois desenhos para o site, dei dicas para o Bruno, que provavelmente irá fazer um vestibular em breve que irá precisar de fazer a malfadada prova de aptidão desenhística, ri a não mais poder e fiquei de boa, com uma boa impressão sobre o futuro ali.

O Sr. Bode estreiou no site por estes dias, e presumo que outras tiras e desenhos virão.

Enquanto isso, algumas idéias já apareceram para novas tiras, coisa que não acontecia há meses.

Eu, sendo um pessimista nato, sempre recebo boas novas e bons eventos recentes sempre com desconfiança. Mas tenho um pressentimento de esperança ali, algo que igualmente não tinha há anos. Nem que seja para desovar esta necessidade fremene de desenhar que sempre existiu em mim, por mais que meu lado racional tenha sempre tentado matá-la. Acho que finalmente ele resolveu desistir e está tentando empenhar seu racionalismo e sua agressividade para me impelir a ao menos agir quando oportunidades como esta aparecem. Acho que ele entendeu que terá de conceder um espaço para estas atividades acontecerem, ou eu irei morrei...juntamente com ele, por fazer parte de minha cabeça cheia de merda.

Difícil de entender? Aparentemente não sou o único que passa ou passou por estes "apertos". Em minhas incursões internetais em busca de tirinhas decentes online, me deparei com esta obra prima de um cartunista que descobri recentemente na net, e sua tira Sheldon.

Exagerado? Aparentemente, não sou o único que pensa assim, por mais que meu lado racional sempre me xingue de "viadinho" quando estas coisas acontecem.

Recomendo a leitura da tira citada desde o ínicio. Este cara, David Kellet, é um exemplo de cartunista da web - sólido desenho, excelente humor e produtividade impressionante. Um dia destes, irei falar sobre este maravilhoso universo que são as tirinhas e graphic novels online.

Agora, entretanto, os contabilistas me olham torto por estar escrevendo tanto e não trabalhando nada. Pudera. Não há nada prar mim fazer, não caço problemas a mais numa empresa em que a chance de crescer é aparentemente negativa, e onde a prática desenhística é terminantemente proibida - a não ser que você queira que uma "traíra" qualquer vá ao diretor e fale que ao invés de trabalhar eu fico aqui rabiscando. Aprendi BEM minha lição neste antro.

Mesmo assim, eu leio um bilhão de tirinhas online enquanto aguardo o lento escoar das dez horas que sou obrigado a passar aqui diariamente. É proibido desenhar, certo. Ninguém me falou nada sobre ler tirinhas, então...FODAM-SE.

Enfim, já estou reclamando da vida. Cale-se, viadinho.

Até a vista então, caros e mudos tumbleweeds meus, preferidos o são.