Eu, que ali estive, não quis ali estar, nem ali ficar.
E cá estou.
E me pergunto, por que, por quanto, onde, adonde.
Quem disse que teria que ser assim; não fui eu, não sei, nunca soube.
Eu, que ali nunca estive, fui ali almejado, ali alvejado.
Eu, que nunca quis a ninguém fui por todos querido, mesmo sem o saber, mesmo sem me dar conta.
Eu não sei de nada. E aqueles que te amam irão te machucar, assim como você irá machucar de volta.
Eu, que sempre fui sozinho, não posso querer ser alguém, sem ser além de mim, sem estar além daqui, sem estar aquém do esperado.
Eu, que sempre esperei demais, espero de menos de quem eu tanto não esperei.
Eu, que a todos ofendi, fui por todos ofendido ao me dar conta que não sou eles e tampouco eles me o são.
Eu nunca estive ali, sempre estive aqui, mesmo que ali quissesse estar, não poderia ser.
Não foi feito para ser.
Não deve ser assim.
Assim está.
Escrito.
Não esperem por mim;
Não me façam esperar.
Não me deêm alimento que
eu não os nutrirei.
Sonhos não existem, não são alimento de ninguém. Sonhos existem, apenas para lembrar-nos
que nada somos além do que somos.
Não desejo a ninguém, não desejo que me desejem;
Embora saiba que me traio dia dia,
momento a momento,
segundo a segundo.
Cá estou mas não é verdade;
Cá estou mas não aqui,
não sou daqui,
de nenhum lugar o sou,
e por mim me esperam.
Esperam por mim,
mas não irão me achar,
eu, que a todos não quis
fui por todos odiado,
por todos escrachado,
a meus olhos,
a meu ver,
a meu saber.
Torto saber.
Eu, que não sei nada,
sei menos ainda .
Muletas, todos as temos
todos as usamos,
todos as odiamos
mas sem elas não ficamos.
Pessoas, todos as somos,
todos o sabemos,
todos nos me lamentam.
Todos vos me condenam
Todos nos se odiamos.
Todos, eu tu eles.
Nós vós, eles
Ninguém é ninguém.
E todos esperam por alguém.