Não sei se acontece com todos.
Mas quantas vezes...contemplo a vida que vivi...os caminhos que trilhei, as coisas que fiz...e me espanto. Não com as burradas que já fiz, as coisas idiotas que disse, os lados negativos de minha pessoa que tanto ocupam meu foco. Mas me espanto em verificar...que já fui várias pessoas. Que durante todos estes anos, vivi mais de uma vida, por assim dizer. Relembro-me de fatos que ocorreram vinte anos atrás, mas não consigo me identificar com a pessoa que atuou como protagonista daquelas vivências.
Não preciso ir tão longe na linha temporal...mesmo acontecimentos de um ano atrás, não parecem ter sido vividos por Marcos, o Buriol, mas sim por uma outra pessoa. Outra personalidade. Dá pra entender?
Acho mesmo que não serei o único "cerumano" que já chegou a tal constatação. E suponho que a maioria das pessoas apenas considere isto como crescimento, desenvolvimento, passagem do tempo. Nossa mentalidade muda muito ao longo dos anos. Ou seja, tal devaneio de personalidades em minha vida não passa apenas de conversa meia-boca de mais um filósofo de boteco.
Bem...pode até ser, mas acho tal analogia válida em meu caso. Tenho tantos "Burióis" morando dentro desta cachola, que muitas vezes já me considerei levemente esquizofrênico. Mas como disse um amigo meu o qual comentei este delírio, é absolutamente normal ficar discutindo com estas "vozes" de nossa cabeça. Chama-se pensar. Simples assim, seu pulha. Não complique. Não procure sarna.
Ah, pensar muitas vezes faz mal. É uma das coisas que, quando contemplo meu eu passado de 1985, por exemplo, eu estranho muito. Como era despreocupado! Lado outro, se existir uma criança de oito anos com neuroses semelahantes às que tenho hoje, de fato, é um fato extraordinário e preocupante. Não aconteceu comigo, felizmente. Não me lembro exatamente quando foi que tudo começou - a torrente descontrolada de pensamentos e preocupações, muitas vezes completamente irrelevantes para minha pessoa - mas acho que foi naquela fase tão legal da vida em que os hormônios tomam conta do aborrescente e fazem certas doideiras aflorarem.
Mesmo assim, o Buriol de tantos anos atrás parece ser um desconhecido para o trigésimo quarto Buriol de hoje em dia. As coisas que tolerei no colégio...as picaretagens que vivenciei na faculdade de biologia...tudo tão estranho, extraterreno para este ser que tanto escreve hoje em dia.
É aquela velha questão: se pudéssemos voltar no tempo e vivenciar as coisas que nos aconteceram na época MAS com a mentalidade presente, teríamos procedido da mesma maneira?
O Funcionarismo Púbico dirá que não devo pensar nisso, ou, se estiver a falar comigo através da máscara de Guy Fawkes que costuma usar quando protegido pela internet, simplesmente me escrachará e me mandará parar de ver navios.
Hoje replico, "foda-se você." E novamente cito um de meus preferidos poemas de Pessoa, o que tinha tantos "Pessoas" em si.
Este sou eu. Problemático, sim. Mas ansioso de me ver diferente do indefeso Buriol que tanto tolerou chatices durante a vida e calou-se muitas vezes.
Que aquele morra para sempre. E que o atual se torne mais forte. Chatos somos todos; sim é verdade. Mas quem disse que sou obrigado a tolerar calado a chatice alheia?
Mudemos, sempre e para sempre. Para melhor.
"Ameim."