quarta-feira, 8 de setembro de 2010

De repente, II.

E de repente, veio a chuva na madrugada. Forte, espessa, fechada. Densa, carregada da imensa carga de poeira acumulada no ar depois de tantos meses da mais absoluta seca. Não que a seca me perturbasse. A humidade me atrapalha muito mais, mesmo que venha para o bem da vida da terra. Das plantas. De seja lá o que for.

Certo, necessário para a manutenção da vida, para a continuidade de tudo. Da sobrevivência de nós todos. Sem as chuvas, onde estaríamos nós, seres humanos? Sem vida, o que mais seríamos além de um amontoado de rochas superpostas orbitando o espaço sideral? Sem vida, quem se preocuparia com a vida? Com o que tudo isto representa, todos estes repentes da vida. Tudo que poderia ter sido e não foi, por meros medos, meras incertezas.

Porque na vida existem tais repentes, assim como a chuva que chega de surpresa ou o frio que do nada vem nos congelar. E quando você se vê, de repente, mais sozinho do que nunca, jamais esteve em toda sua vida, os outros repentes lhe assustam, me amedrontam, me paralisam. É o famoso "E agora?" exclamado por tantas pessoas que no decorrer da história se depararam com este tipo de isolamento, irremediável, terrivelmente irremediável, diante de tudo aquilo que achávamos que era e que acabou não sendo.

Deste tipo de solitária, não existem fáceis saídas, por mais que me digam o contrário. E não posso recriminar quem vem me fomentar tais falsas ilusões. Esta prisão é de um só, e para dela sair...a vida toda teria de ser reinventada.

De repente, estou sozinho. Mais, infinitamente mais do que jamais estive. 2010 está sendo o ano de ser só, exatamente ao contrário do que esperava. Ah, ironia cósmica. Sempre ao meu lado.