O papel.
Só conseguia ver aquele pedaço de papel a esvoaçar no espaço morto à sua frente. À medida que seus pés iam alternando largas passadas, seus olhos estavam fixos na única coisa que parecia de fato existir naquele estranho mundo que o circundava, que havia se tornado ainda mais bizarro devido aos acontecimentos dos últimos minutos.
Estranha também, era a distância que o separava de tal papiro. Parecia não encurtar, por mais que ele usasse as pernas. Redobrou o esforço, ordenava mentalmente que as pernas voassem. Seus pés batiam no chão secamente, mas não conseguia ouvir o som das passadas. Olhou rapidamente para eles e constatou que apesar de baterem violentamente no empoeirado chão, nenhum grão de pó era levantado.
Era como se aquele já parado mundo houvesse subitamente tornado inerte. Pausado. Afastou todos os ambíguos pensamentos decorrentes de tal constatação. Sabia que o diferencial de todo aquele absurdo estava à sua frente, metros adiante. Na folha que dançava no ar.
Mas não conseguia nunca chegar lá, por mais que ofegasse, por mais que sentisse que suas pernas estivessem bombeando ácido. Por mais desesperado que estivesse. Sentia vontade de gritar, de se esgoelar para os cinzentos céus. Tentou se acalmar. Focar. A folha. A folha.
Momentos se passavam, minutos, horas, talvez. Nada mais fazia sentido, nem mesmo a passagem do tempo. Estaria sonhando? Estaria em um pesadelo?
Fechou os olhos, sem parar de usar as pernas. Reparou que não escutava o menor ruído em seus ouvidos. Não sentia o ar batendo em seu rosto. Nada. Ainda sem abrir as vistas, levantou a mão direita e desferiu seco golpe contra seu próprio rosto.
Sentiu. A dor.
Parou de correr.
Ofegante, dobrou seu corpo em direção ao solo. Sentia sua sanidade a lhe abandonar. O que diabos era tudo aquilo? O que significava? Tantas perguntas. Nenhuma resposta. Nada de concreto. Tinha receio de tentar vislumbrar a folha, o único diferencial que parecia existir naquela cinzenta e caótica realidade.
Medo.
De repente, uma supostamente extinta torrente de sentimentos lhe invadiu a mente. Sentiu medo, ódio, fúria. Tristeza. Sentia imensa vontade de chorar, mas sabia que de nada lhe valeria se curvar, se resignar. Parte dele sentia que deveria abandonar seu controle das pernas, que deveria relaxar todos seus músculos, abandonar toda a esperança. Cair ao chão e esperar pela morte.
Algo assim.
Mas não. Havia ainda alguma teimosia naquela anônima cabeça. Naquela mente sem identidade.
Levantou a cabeça, suspirando fundo e retesando seu maxilar enquanto o fazia.
A folha estava muito mais perto dele agora. Voando ao sabor de um vento que seu corpo parecia não poder mais sentir. Não procurou entender, não teve nem tempo para entender. Seu impulso já o dominava, ordenando imperativamente que voltasse a fazer uso das pernas.
Na rua, atapetada pelas agora inertes folhas amarelas e brancas, haviam alguns obstáculos. Ruínas de carros, pilhas de indefinidos escombros, tudo parecia estar em seu caminho, tentando impedi-lo de apanhar tal papel.
Ignorou tudo. Passou reto, por dentre tais aparentes entraves em seu caminho. Não existiam.
Via agora a folha com cada vez mais nitidez.
Adiante. Adiante. Era tudo que conseguia pensar. Era tudo que sabia pensar.
Apanharia aquela coisa, ou morreria tentando.
Só conseguia ver aquele pedaço de papel a esvoaçar no espaço morto à sua frente. À medida que seus pés iam alternando largas passadas, seus olhos estavam fixos na única coisa que parecia de fato existir naquele estranho mundo que o circundava, que havia se tornado ainda mais bizarro devido aos acontecimentos dos últimos minutos.
Estranha também, era a distância que o separava de tal papiro. Parecia não encurtar, por mais que ele usasse as pernas. Redobrou o esforço, ordenava mentalmente que as pernas voassem. Seus pés batiam no chão secamente, mas não conseguia ouvir o som das passadas. Olhou rapidamente para eles e constatou que apesar de baterem violentamente no empoeirado chão, nenhum grão de pó era levantado.
Era como se aquele já parado mundo houvesse subitamente tornado inerte. Pausado. Afastou todos os ambíguos pensamentos decorrentes de tal constatação. Sabia que o diferencial de todo aquele absurdo estava à sua frente, metros adiante. Na folha que dançava no ar.
Mas não conseguia nunca chegar lá, por mais que ofegasse, por mais que sentisse que suas pernas estivessem bombeando ácido. Por mais desesperado que estivesse. Sentia vontade de gritar, de se esgoelar para os cinzentos céus. Tentou se acalmar. Focar. A folha. A folha.
Momentos se passavam, minutos, horas, talvez. Nada mais fazia sentido, nem mesmo a passagem do tempo. Estaria sonhando? Estaria em um pesadelo?
Fechou os olhos, sem parar de usar as pernas. Reparou que não escutava o menor ruído em seus ouvidos. Não sentia o ar batendo em seu rosto. Nada. Ainda sem abrir as vistas, levantou a mão direita e desferiu seco golpe contra seu próprio rosto.
Sentiu. A dor.
Parou de correr.
Ofegante, dobrou seu corpo em direção ao solo. Sentia sua sanidade a lhe abandonar. O que diabos era tudo aquilo? O que significava? Tantas perguntas. Nenhuma resposta. Nada de concreto. Tinha receio de tentar vislumbrar a folha, o único diferencial que parecia existir naquela cinzenta e caótica realidade.
Medo.
De repente, uma supostamente extinta torrente de sentimentos lhe invadiu a mente. Sentiu medo, ódio, fúria. Tristeza. Sentia imensa vontade de chorar, mas sabia que de nada lhe valeria se curvar, se resignar. Parte dele sentia que deveria abandonar seu controle das pernas, que deveria relaxar todos seus músculos, abandonar toda a esperança. Cair ao chão e esperar pela morte.
Algo assim.
Mas não. Havia ainda alguma teimosia naquela anônima cabeça. Naquela mente sem identidade.
Levantou a cabeça, suspirando fundo e retesando seu maxilar enquanto o fazia.
A folha estava muito mais perto dele agora. Voando ao sabor de um vento que seu corpo parecia não poder mais sentir. Não procurou entender, não teve nem tempo para entender. Seu impulso já o dominava, ordenando imperativamente que voltasse a fazer uso das pernas.
Na rua, atapetada pelas agora inertes folhas amarelas e brancas, haviam alguns obstáculos. Ruínas de carros, pilhas de indefinidos escombros, tudo parecia estar em seu caminho, tentando impedi-lo de apanhar tal papel.
Ignorou tudo. Passou reto, por dentre tais aparentes entraves em seu caminho. Não existiam.
Via agora a folha com cada vez mais nitidez.
Adiante. Adiante. Era tudo que conseguia pensar. Era tudo que sabia pensar.
Apanharia aquela coisa, ou morreria tentando.