quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

AniversáriommMax.

Não sei se acontece com todo mundo. Não sei se a maioria das pessoas trata a data especial com o mesmo desdém, ou o mesmo receio. A gente vai vivendo e vivendo, e se depara com estes momentos, estes números, divisores de águas, não somente por sua numeração especial, mas pelo efeito psicológico que tais números nos dizem.

Falo daqueles momentos únicos na vida de uma pessoa, aqueles macabros aniversários, em que os mútiplos de dez aparecem. Certo, imagino que aos dez anos de idade ninguém vá ter uma crise existencial. Se existirem crianças de dez anos que se lamuriam pela primeira década vencida, estas crianças já não estão vivas, ou pelo menos estão moribundas. Normalmente, ninguém tem muitos problemas com este primeiro decênio, ao menos não no sentido de se sentar e ficar rememorando seus dias já passados. Imagine só. "Aos sete, eu deixei de ir ao parque para ficar em casa vendo aquele desenho. Naquele remoto dia, em que as árvores estavam tão verdejantes, meu coleguinha foi agraciado com a sorte grande, pois encontrou enterrado na areia do parque um comandos em ação muito antigo. Porque eu não fui lá naquele dia. Teria sido eu a achar."

De fato, preocupações não costumam habitar a mente de infantes. Ao menos não este tipo de procupação, de ver o tempo passar, a vida correr, e a gente sempre tentando alcançá-la. Aos vinte, a coisa já muda. Seria o primeiro divisor de águas mentais. Apesar de que, a maior parte das gentes não tem muitos dramas, nós que pertencemos ao time dos eternos pensadores em excesso, sempre gostamos de encontrar mais lenha para nosso fogo de pensamentos, aquela chama eterna em nossas cabeças. Eu me lembro que ao chegar neste ano fatídico, a crise abundou em minha cabeça. Mas dizer isto sobre mim é o mesmo que afirmar que para viver precisamos respirar. Aos vinte, a maioria das pessoas ainda não quer saber muito de se preocupar. O corpo está em forma, a energia está no auge, podemos passar noites em claro sem nem sentirmos, festas, festas. Diversão.

Daí em diante, a coisa só vai piorando, pois o tempo é inexorável, por mais que nos afirmem que não parecemos ter os anos que nos são devidos, o relógio não para. Aos trinta, sabemos que a vida anda cada vez mais e mais depressa, que o tempo cada vez mais urge, que as coisas estão acontecendo, e que deveríamos fazer isto e aquilo, e que emprego e dinheiro e família e que não sei mais o quê, responsabilidades, chatices. Cada vez mais e mais é difícil ignorar a somatória de todos nossos dias. Ainda temos pique, ainda temos energia, mas já não é possível negar que não são iguais ao pique e a energia de dez anos atrás. Eu, que já passei por este divisor, sei que a coisa é inegável, que a pilha vai mesmo acabando, e mesmo nossa mentalidade muda. Existe a trrível prenda da madureza sempre espreitando, roubando nossa diversão, e acrescentando uma pá de coisas com que se preocupar. Eu devria dormir mais. Eu deveria ganhar mais. Eu deveria ter filhos, eu deveria me casar, eu deveira comprar uma casa, um carro. Escolher a vida.

Aí chego no cerne do pensamento do dia. A data de ontem foi destas "ocasiões especiais" para um de meus melhores amigos, um destes irmãos não-de-sangue que todos nós temos. Ontem, ele atingiu o célebre e tão temido dia em que se completam mais um destes marcadores especiais de idade. Ao que sei, meu companheiro não a recebeu com bons olhos, e não posso deixar de concordar com ele. Este número é muito agressivo, opressivo.

Ele é destes amigos para se guardar a sete chaves mesmo, daquelas pessoas que agradecemos à vida por ter nos permitido encontrar, aquele tipo de pessoa que simpatizamos de imediato, e um "kindred spirit", por assim dizer. Um companheiro que sempre está por perto, nem que seja para encher nosso saco. Sim, mesmo irmão de sangue brigam, mesmo em cossanguinidade encontramos pontos de vista diferente, mesmo sendo irmaos, tão parecidos, tão diferentes. Assim acontece também com nossos irmãos por nós eleitos. Tão parecidos, tão diferentes.

Sei que o cara já segurou minha onda, minha barra, muitas e muitas vezes. E já me fez passar muita raiva. Ouvi a mãe daquele meu aluno, sobrinho torto que possuo, afirmar que a chegada nesta idade pode ser traumática, sim, mas existe uma vantagem que, caso aconteça com meu companheiro, será o ouro. Falo do fato do "fôdas" de repente se ativar em toda sua plenitude. Segundo ela, "nesta idade, você sabe quem é, faz de tudo que quer fazer, e manda o resto pra merda, o resto e todos que não gostarem, não concordarem."

Pois, tal habilidade me pareceu estar cada vez mais presente na compleição de meu amigo. E caso o tal dispositivo, tal interruptor mental realmente se desenvolva e fique permanentemente ligado em tal idade, isto seria um excelente presente de aniversário, creio eu. Eu sei que gostaria que tal coisa acontecesse comigo. E até onde sei, meu companheiro também ansia por esta libertação, esta alforria.

Sei também que digo tudo isto e posso estar passando a quillômetros de distância do que realmente passa na cabeça do cara. Não sou vidente, mesmo tendo me enganado em muitas de minhas profetizações. E não sou o cara. Não sei o que se passa, mesmo sendo nós tão companheiros, amigos.

Sei que há quase dez anos somos companheiros na luta pela vida, e sei que muitas vezes nos deixamos abalar por bobagens. Sei que o cara costuma se refugiar, esconder do mundo em tais datas. E sei que não é nada de anormal ficar viajando errado nesta ocasião, ainda mais uma tão "especial" como esta.

Enfim, desejo a Max um excelente divisor de águas; que sua vida se torne mais leve, que as famosas "cocotas" apareçam para ficar em sua existência, e que o passar dos dias sejam-lhe aprazíveis. Sei que o cara merece, mesmo que tenham lhe dito, em sessão "cartomante"(aquela amiga que diz ler vidas passadas) anos atrás; sei que graças a ele os frangos existem como frangos, em nossa definição, que sempre que bebemos rum imitamos piratas, que sempre que nos encontramos na vida real temos boas conversas e que ele é outra pessoa caso você queira conversar via internet com o sujeito. Uma pessoa mil vezes mais má e mala que ele é na vida real...

Enfim, se você tem destes amigos que deseja tudo de bom e um pouquinho de sacanagem, beba comigo. Erga sua xícara matinal de café, ponha duas doses de rum e beba. Eca! E estou trabalhando. Não possho ficar bebo. Num possho, tenho qui trablhhar...hic!

À sua saúde, Max. Seu fedaputa. Mas nem tanto quanto o Daniel.Dinheiro e cocotas. Rum e Campari(eca, eca eca, só um doido como ele pra gostar desta merda.)

E agora, de volta a nossa programação normal de pós feriado...