terça-feira, 16 de setembro de 2014

Santas Seis.

Agora, as coisas aparecem mais claro
nas profundezas da noite
não há mais o eterno desejo
eterno ensejo
de silenciar-me,
silenciar o que sou,
quem fui,
quem serei.
Já não penso na noite
como a eterna fuga
da vida que há lá fora
bem sei que a vida há lá fora,
um mundo inteiro, lá fora,
mas eu prefiro aqui dentro,
prefiro daqui de dentro,
viver minha pequena vida
pequenos prazeres,
pequenas necessidades,
pequenas coisas
para que me entretenha
e aqui permaneça,
em meus altos silêncios,
silêncios da alma,
silêncios que só as coisa
da alma conseguem debelar,
feito aconteceu-me
no último final de semana,
onde, em franco desespero,
encontrei, no gritante
falante
amplificador
as notas para minha paz
para meu dissabor amainar
para minhas raivas dissolver,
para minhas neuras saírem.
Neura! Quanta neura.
Por conta de uma pequena 
falha na tradução,
falha na comunicação,
encerrada abruptamente
após tamanha reação,
tamanha traição,
desmedida,
desproporcional,
ondas de súbita fúria
e ira, revelaram-me
o mais negro lado
deste ser,
irônico
sarcástico
bonachão
por natureza,
sem se dar conta,
sabe atingir-me
onde mais dói
onde mais sofro,
sempre foi assim.
Não mais.
em cinzas, em notas,
se desfizeram as injúrias
perjúrias, malfadadas calúnias,
de mues captadores voaram
para o incerto ouvido alheio,
bom som ou mal som, não importa,
o que importa é que ali encontrei-me
em minha dor, me acalentei em sons,
fumaças e cafézes, entre outros
prazeres, outros afazeres,
me distanciaram da raiva,
me distanciaram da angústia,
me fizeram bom um mau dia,
má noite, onde tudo começou,
e onde tudo terminou,
derretido nas notas distorcidas,
no fuzz raivoso, nervoso,
como deveria estar,
como deveria ser,
como foi.
Injúrias, agruras,
tudo se desfez
no tocar da palheta nas cordas
na captação passiva elétrica
son, onde tudo significava nada
e tudo nada significava
mas uma transcendência de emoções
encontrei-me calmo, tranquilo,
sem nódoas na alma,
sem agressões, sem delimitações,
sem falar mal, soando
sem xingar, tocando,
esquecendo-me, libertando-me
da latente injúria,
que será esquecida
quiçá perdoada, um dia,
se o devido acontecer,
se o outro lado também admitir
onde esteve errado
onde foi exagerado
onde foi imperdoável.
Sim, existe algo que não perdoarei.
negro, sombrio lado escuro
que não conhecia nem esperava conhecer,
mas agora que o conheço,
sei que isto não merece perdão.
Não de mim.
Ainda assim, nem preocupei-me
pois havia muito o que fazer
a fumar
a tocar
a comer
e não queria com pequenezas ter
que me preocupar, nem me preocupei,
pois sei que a resposta nunca virá,
o outro lado não cederá.
Pois bem. Enquanto isso,
vivo e toco e malho e continuo,
vivendo minha vidinha simples
porém de grande satisfação,
atualmente, agora que encontrei-me
em meu lugar, onde deveria estar,
aonde deverei estar, não sei, não posso saber,
mas um dia saberei.
E assim vou
assim estou
calmo
tranquilo
sem muita raiva guardada,
apesar de estar estocada.
Para o momento certo, está.
Mas por hora...
toquemos, pois.
Salvemo-nos nas seis cordas,
salvemo-nos do mal que nos persegue,
mas que pouco aflige.
Não enquanto existirem Fender Stratocasters.
Não enquanto existirem Epiphones Explorers.
Delas faço meu escudo
contra a miséria porcamente postada,
enviada, agora definitivamente deletada.
Santas Seis, protegei-me.