quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Nortriptilina.

Cada manhã, eu ouço o alarme, que me diz que "gotta get up for work tomorrow", significando acorde agora, seu mala. Mala! Mala velha, que dormiu cheia de gases nocivos e recoberta de velhas e confortáveis roupas "de mendigo", roupas de ficar em casa, trapos, molambos. E com estes mesmos trapos ganharei as ruas em minutos, assim que o café passar, o cigarro fumar e um pão estranho qualquer eu comer de café. 

Olho pra cidade ainda a despertar, em alguns cantos bem sei que gente há, saindo e entrando de filas e filas de busões e metrôs...em zonas muito mais longes que a que vou me dirigir, neste dia, quarta-feira, dia de qualquer coisa que não sei determinar o que é, mas sei que é dia de alguma coisa. Do poste, da árvore, etc.

Primeiro, é necessário aventurar-se à praça, procurar por eventuais brilhos de sol que possam ocorrer por ali. E ocorrem, de graça! Mas hoje a maré está baixa, os peixes não dão muitos frutos, ou frutas, ou abacaxis. Sei que houve muita festa, muita mesmo, a julgar pela quantidade de vazios pinos, felizmente. Pó não me interessa, já tenho de montão em meus domínios. Mas aqui e ali, existem promessas do sol brilhar. Alguns são meros esqueletos que descarto. Outroa contêm substância, que guardo apreciadamente. Mais tarde, à noite, o sol brilhará.

Seis e meia, hora de apanhar o verde coletivo, procurar meu lugar, MEU lugar, só meu, e de mais ninguém, onde ninguém mais sentará ao meu lado, mesmo à esta hora morta do dia, pessoas não me interessam. Olho para o Jornaleco do ônibus, vejo a seção de desaparecidos e sinto neles o peso de mortes por pressuposto. Não acredito que os rostos estampados ali, estejam ainda entre os vivos deste planeta. Ainda mais um senhor de 44 anos, cuja foto exibida parece ter sido tirada do álbum de formatura do sujeito, coisa de vinte anos atrás ou mais.

A esperança é algo traiçoeiro.

Chego ao centro, ainda meio morto a esta hora do dia, mas já repleto de obstáculos no meu caminho, que devo desviar-me, sem encontrões nem pedidos de desculpas. Não quero encostar em ninguém. Atravesso a trapalhada mais recente da BHTRANStorno no centro, as mãos inglesas que eles tanto inventaram, e vou pro lado que me interessa, subo a rua apreensivo em busca dos sinais luminosos nos coletivos que me transportarão à academia, mas só vejo "vermelhões" passando, nenhum verde ou amarelo no horizonte. Acendo um cigarro, apenas para ter o que fazer, e a regra é clara: assim que você acende seu cigarro, o ônibus aparece. Tudo bem, é de palha, eu apago e acendo depois, na hora de descer novamente...

Hora do pão. Este maravilhindo remédio tem me dado um aumento fenomenal no apetite, já engordei uns cinco quilos eu acho. E como tenho chegado mais cedo, aproveito pra passar no Verdemar, pão fresco, mas caro...mas bão também. Quatro pães, um fica pra de noite, em geral. E já chego e vou me ambientando à academia, fazer um "power plank" ali  no canto dos servidores, depois mais 300 abdominais no banheiro...já que não me dão o que fazer, eu me dou. E escolhi algo físico, que assim seja. E andar as escadas do prédio também tem seu valor, embora façça menos, pois cansa demais, sua demais e pões estes maravilhosos uniformes a feder, o que não é um bom negócio. Então me atenho mais ao que não posso fazer com regularidade em casa...e abdominais são eles. 

Depois de feita a primeira sessão e agora devidamente uniformizado, vou ter ao meu computador, onde recebo toda a ironia do mundo, em forma de email. E suspiro. Tem vezes, que dá uma vontade de que os socos pudessem ser teleportados pela tela...mas mesmo assim, nem valeria a pena, a briga seria idiota demais. Respondo igualmente sarcasticamente, e fico esperando o Lord of Sarcasm, vir ter com sua réplica. 

Enquanto isso, faço e refaço minha rotina de ir ao banheiro e lá ficar uns dez minutos. Até hoje não foi questionado, mas, nunca se sabe por aqui. Mas é o jeito e o local mais apropriado que encontrei para fazer a prática do "esporte" aqui no escritório...tirando a sala dos servidores, para os "power planks". não passa de um minuto, um minuto e dez, no máximo. Que treco foda de fazer, e nem tem que se mover. Assim como o outro exercicio isométrico para as costas, que faço nas escadas do prédio e não demora mais que um minuto também.

E assim passa a manhã, sem maiores novidades. Hora do almoço. É necessário ir ter ao famoso restaurante das músicas infames de fundo, mas dos melhores e mais acessíveis desta região. Dali, vou até a Droga Raia, onde existem suplementos de vitamina D, que ando com carência, a preços muito mais módicos que na Araujo...250 gotas de "ataque" por semana, durante oito semanas. Vai o vidro quase inteiro junto também. Mesmo assim, prefiro pagar 24 reais em 20 ml de vitamina D genérica que gastar 50 com 20 ml da mais famosa...

Volto e vejo que o Lord of Sarcasm não se fez de rogado. Suspiro. Como responder semelhante conteúdo sem dar merda? Meio que impossível. O jeito, a meu ver, é tentar relevar...em nome da amizade. Que é seriamente amaeaçada todas as vezes que recebo o conteúdo sarcástico do Dr. Fantástico. Novamente, gostaria que socos ou ao menos "the middle finger salute" pudessem ser transportados via internet. Dai-nos paciência. Dai-nos virtude. 

Bem, daqui a pouco chega o café da tarde, que irei tomar acompanhado de um cigarro, nas escadas. E parece que chegou! Sim, chegou, fui lá, baforei-me, sorvi meu líquido petróleo da tarde, e para cá volto. O que fazer agora? Como responder ao Fantástico Dr. Sarcástico?

Tem horas que ainda me pergunto porque DIABOS ainda me perguntam porque sou misantropo. 

Como diz o refrão de Gabriel, o nazista Missionário(!), "Onde tem gente, tem merda." E concordo. O problema é lidar com seus amigos, que não são parte integral da merda....mas às vezes se tornam. 

Vida de escritório, vida de academia. Esta é minha vida. Agora é esperar das as gloriosas cinco da tarde enquanto faço mais uma porção de atividade física por aqui...hoje parece que trabalho de verdade não irá surgir.

Então, esperemos...enquanto me preparo para ver o que dizer. E me preparo também, para ir embora desta droga. Rinse and repeat.

Same Shit, Different Days....