Encontro-me aqui, novamente, sozinho, rodeado de gentes pelas casas e por minha casa, mas não quero vê-las.
Estou sozinho. Estive sozinho, sempre, sempre.
Conheci uma gíria que se aplica a meu estado: "não estou na vida". Entendedores entenderão.
E isso, aos trinta e oito anos, com a cabeça cheia de problemas mentais mal-resolvidos, a vida em pedaços ao meu redor. Fragmentos oníricos. Peças de sonhos que quebrei, promessas que desfiz, tentei refazer, mas, não deu. Não deu.
Estou sozinho, e creio que sempre estarei. Existe uma esperança? Não consigo encontrá-la em parte alguma, por mais fármacos que consuma, sessões de terapia que eu vá, tudo parece morre dentro de mim, lentamente.
E sim, escrevo isto a chorar, pois é a única coisa que posso fazer. Não há ninguém aqui. Só os maus espíritos, se assim o desejarem, só os encostos.
Deixa de ser prego e volta a desenhar, um de meus antigos amigos me disse. E para quê? Para quem? Para mim? Eu mais sofro que desenho, eu mais acho defeitos que qualidades, como atestei outro dia no poema que ninguém quis comentar. Ninguém.
Estou sozinho. Não estou na vida.
Estou na morte.
Boa Senhora da Boa morte, traga-me paz, traga-me algum alento, pois por dentro, tudo se encontra em pedaços como por fora. Tudo esfrangalhado.
Estou sozinho. Sou sozinho.
Sou sozinho.