terça-feira, 10 de março de 2015

Não.

Não. Esta noite, não. Não ligo a luz, permaneço onde estou. E sinto fluir, ao meu redor, para dentro de mim, a escuridão. Carrego-a comigo, desde 1977, setembro, dia 17. Nasci na escuridão. E nela permaneço. Não: não sou gótico, não ouço "Cradle of Filth" ou coisas assim. Mas vivo na escuridão. E ela, vive em mim. Tentei escapar, de quase todas as maneiras possíveis, mas nada consegui, além de uma conta cavalar e uma quantidade dantesca de remédios a tomar. Pareciam ter funcionado, inicialmente, mas logo, logo, a escuridão voltou a reinar. Eu sou dela e ela é de mim.

Tornei-me quem sou, deveras, em tenra idade, em que parei de compreender o mundo e a aceitá-lo passivamente.Aí a escuridão em mim começou a reinar....cada dia mais e mais negra...cada dia, o sol perdia sua força e a escuridão mais reinava. E nela reinam vozes, mas que não escuto , apenas os sussuros delas, ou vez ou outra de fato, me dizem coisas, tais como sou patético e feio, barrigoudo e horrendo, Ninguém gostará de você. Ninguém vos amará, ninguém.

São nessas horas que costumo desferir ao menos um golpe contra minha própria e escura cabeçao, para calar as vozes. Elas se vão, mas hão de voltar. E todas as noites, sinto a necessidade quase fremene de calá-las para sempre. Para sempre. 

Nunca levei o plano adiante, na covardia de uma escuridão ainda mais terrível ter de enfrentar. Eu queria ser normal, mas nunca hei de ser, pois não consigo me desfazer da escuridão. Nunca consegui ver alguma luz. Se algumas vezes houveram lampejos, todos revelaram-se falsos, como o tal Parnate, que atualmente a única coisa que faz é tomar-me 300 reais de minha conta bancária, por mês....

Todos tentaram, tentaram, cansaram, e se foram de minha vida, até que sobrou eu e a eterna escuridão do sótão, com suas traças, e aranhas marrons. 

Não restou ninguém.

Ninguém.