sexta-feira, 27 de março de 2015

Cabeção....

Deram-me,
ao nascer,
um presente,
belo presente.
Uma cabeça.
Uma cabeça
normal,
oval,
legal.
Mas
tal cabeça
foi tão abençoada
pelos deuses
semideuses e ninfas,
que pensa, e pensa
e pensa, e pena.
Porque pena?
Pois
pensa tanto
que consegue
achar os mínimos
detalhes,
os mais finos
fios de cabelo
fora do lugar,
os defeitos
que em todo
lugar há
mas por demasiado,
demais,
demais,
muito demais,
até nesse mesmo
semi-poema
muito demais? ORA!
inferno! não aprendeste
nada na escola???
e quanto mais olho,
mais os vê,
quanto mais os vê,
mais o perturbam,
conturbam,
poluem, denigrem
a mente
demente
que nesta
cabeça
há.
E se virares
para o espelho...
ai...
o nariz,
fora
do
lugar,
tibeiças
de bistecas,
eternas
sempre eternas
olheiras.
"Mas tens
os olhos verdes!"
Verdes?
Lama, com
contornos
de musgo
apodrecido.
Mui verdes,
pois não.
Longos
Bi-godes
(ao meio
partidos)
que deixou
crescer
por pura
ironia,
para
tentar
amenizar
a carranca
que há
em lugar
da face,
pois sempre
sempre,
mau-humorado
está.
Por ver
o imbecil
jogar
o papel
de bala
ao chão,
por olhar
pro céu
e ver os
nimbos,
cúmulos
nimbos
que ameaçam
a tudo molhar,
por não estar no lugar.
nada está no lugar!
NADA! Nada!
Pois em tudo
falhou,
desistiu,
pois pensou
e pensou,
e viu só defeitos,
só buracos
em todas estradas,
então parou.
Parou.
E está
parado.
Resignado
Derrotado.
Por
ter
uma cabeça
normal,
oval,
igual
a de todos,
porém
doente,
demente,
analiticamente
doente.
Parou.
E ficou.