domingo, 8 de março de 2015

Nada.

Cá estou eu,
três da mnhã,
tentando, em vão
dar um sentido
a tudo isto
a tudo isto
que
chamamos
vida.

Amigos? Sim.
Os há.
Mas sequer
desconfiam
do que é
ser eu,
apenas eu,
desperto
a esta morta hora,
a este morto lugar,
que chamo
mundo.

O mundo!...
o que há nele
que me faz continuar?
As pílulas,
que me fazem
sentir
nada.

Nada.
Nenhum desejo,
nenhum anseio,
nenhuma vontade
de os pulsos
cortar,
nada.

Elas são a
minha razão
de continuar
vivo,
num mundo
que perdeu
o sentido.

o que ouço,
a esta hora da noite?
Nada.
O que sinto
A esta altura
da vida?

Nada. Nada. Nada.

Não preciso
sentir nada,
não desejo sentir
nada,
pois sentir é
querer.

E eu, nada quero,
nem dormir.
Sei que existem,
calados por
tais medicamentos,
um mundo de
vozes,
"faça isto!,
seja aquilo!
faça! Faça! Faça!"

Estão todas caladas
por este milagre
medicinal,
as pílulas do nada,
que me fazem
querer tudo,
mas não querer,
ao mesmo tempo.

E não querer é
tão mais simples,
tão menos complicado,
que querer...
fazer...
nada.

Nada!
abençoados
farmácos,
que nada
me fazem querer
fazer.

Mantêm-me vivo,
sem nada querer,
sem nada fazer,
vivo para o nada,
sou o nada,
personificado,
amplificado
por tais fármacos.

Vivam as pílulas
do nada.