terça-feira, 3 de maio de 2016

Maria Burianova.

Vó, vovó,
por que fizeste isto?
Para que trouxeste-me
de volta?
Com que nobre propósito vivo
esta vida de cinzas,
cinzas,
a andar por um caminho
onde não sei o fim,
mas saberia,
se não tivesses
trazido-me
de volta.

Vó,
porque pegaste-me nas mãos,
me pôs no jipe,
no velho jipe,
trilhou para longe da luz,
para perto das cinzas,
alface em cinzas
e me devolveu a este mundo?

Com que propósito, pergunto eu,
enquanto pisoteio uma
plantação de alfaces
carbonizadas, irremediavelmente
para todo o sempre,
ficarão, serão,
apenas isto:
cinzas.

Eu que nestas cinzas
pensei ter descoberto o verde,
o verdume de minha vida,
encontrei apenas uma alface maior,
ainda carbonizante,
ainda em chamas,
e agora...nada.
apagou-se.

para sempre apagou-se.

Vó, vovó,
Tu que sabias o caminho de volta,
não me ensinaste o caminho de ida,
Não é este, eu presumo.
Assim acho.

Em todo meu redor o que vejo são ecos
do passado, cinzas de outras "alfaces",
de sonhos, da luta....enfim...
mortos, moribundos ou natimortos,
eu trilho este mundo de cinzas.

Vó, vovó,
Maria Burianová
onde está a cor,
uma cor, que não
estes inúmeros tons de cinza?

Onde está a cor?

Onde?