domingo, 30 de outubro de 2016

Sozinho.

Sozinho.
Foi assim que me senti,
diversas vezes
na minha vida
nesta vida
de cão.

Cão de aluguel, sou.
E quando me comporto,
às vezes me atiram
um osso.

Algum alimento
para esta vida, para
esta existência
inexistente.

Eu era, eu fui, eu sou
Doente
da cabeça
Enquanto o corpo resistia
e desistia
de voltar a ser
o que era antes,

antes deste ano,
antes da experiência
de ter comigo alguém
que, bem o sentia,
me complementava
me contemplava
como se estivesse tudo bem.

Não estava.

ciúmes doentios, familiares
a protestar por mero ciúme
me plantaram em mim
semente que não queria plantar,
a semente da loucura,
tanto debelada por
fármacos diversos.
foi em muito aumentada
por mim mesmo, por nenhum
mando de psiquiatra e/ou
psicóloga, mas ainda assim
louco

terminei com tudo,
numa remota noite
que já não me lembro mais
mas que fui lembrado,
envergonhadamente,
depois de ter agido
precipitadamente
voltei a ser
o Sozinho no Sótão.
O MONSTRO
que deve morrer, assim
sozinho na poeira,
sozinho na fogueira
na pira que incendiei
aos meus próprios pés.

Sozinho fui,
sozinho sou.
e as gentes, oh as gentes,
falam e falam,
por detrás de minha pessoa,
têm medo de mim,
dizem.

Medo?
De um cão sarnento?
das ruas, a vagar,
recolhendo detritos,
a fumar,
que ameaça existe em
mim, que no meu autismo,
não consigo sequer
encarar tais gentes nos olhos,
sem estremecer,
esmaecer,
sumir?

Medo?
Não, não de mim,
tenham medo das ruas,
dos lazarentos desafortunados
que ali vivem, ou então
dos favelados declaradamente
vagabundos, a ganhar do governo,
o vale-cachaça, o vale-crack
ou até mesmo casas, apartamentos?

Encostados duma figa,
tenham medo deles,
e de quem os representa,
piores ladrões nem mesmo
nas favelas existem,
nas favelas,
onde eu seria morto
apenas pelo fato de ser branco.

Mas tudo isto de nada vale,
ao encarar a vida, a sociedade,
estando, e sendo,
Sozinho
no
Sótão.