quarta-feira, 20 de maio de 2015

A hora mais solitária.

Algo diferente aconteceu nesses meses passados. Adquiri o hábito de usar o tal do programa vulgarmente chamado zap-zap, mas não para uma comunicação em massa. Não. Eu me comunicava com a loba, Nymeria. Em sua casa no Paraná, mas sempre acompanhada de sua louca progenitora, mais velha e mais tentende a macaca misturada com víbora. Mais víbora que macaca. Que carrega consigo uma certa loucura, intensa e maedrontadora, especialmente para pessoas que nunca a viram, nunca conviveram com ela. conversávamos em silêncio, apenas no chat, pois a víbora poderia morder. E a casa cairia para Nymeria.

A medida que o tempo ia passando, eu passei a gostar cada vez mais deste hábito. Me fez menos miserável. Me fez sentir mais humano, menos doente. E quando a sua víbora-mãe se foi por algumas semanas, fizemos a festa, onde eu finalmente ouvi sua voz, que achei bastante agradável e doce, por mais piegas que possa ser. E ela conheceu esta minha voz de locutor de cemitério mineiro, com meus regionalismos abundantes e reinantes. Nenhum de nós se riu da voz um do outro, mas foi ótimo para mim poder falar ao invés de catilografar. Como meu headset do PC estivesse com o fio do microfone avariado, eu fiz diversas gambiarras, chegando mesmo a comprar um headset caríssimo Bluetooth, que ainda não chegou. liguei meu microfone onde gravávamos nossas vozes em minha extinta banda, mas logo logo as entradas de áudio da placa-mãe de meu PC também se avariaram. Comprei então uma vagabundíssima placa de som USB - tudo a favor do som. Mais tarde, nos atrevemos a tentar realizar vídeo-chamadas pelo skype. Mas minha webcam era horrível. Por meios obscuros, consegui comprar uma webcam mais decente. Aí me deleitei em tal sonho de infência realizado - o tal video fone. Gostei demais, demais, demais...

Mas eu deveria saber. Tudo que é bom dura pouco.

Na data de ontem, percebi que ela mais escrevia que falava. Já era um sinal. Mau sinal.

E hoje, fui excluído das conversas, com o argumento de que ela está a passar por má fase. E que não quer-me inflingir ...não sei. Não entendi, não aceitei. 

Não aceito.

Mas não haverá remédio. Me tornarei a virar o monstro do sótão. Sozinho, para sempre sozinho. Não a tentarei contactar, pois assim me pediu. 

Foi uma dura e dolorosa facada em meu coração. Que novamente se tornará de pedra. 

De pedra. /ele, que tinha quase se tornado um coração de verade, foi apedrejado. Petrificado. Salinizado. 

Por mais que eu pense, não consigo entender. Devo ter falado algo que a irritou profundamente ontem, pois eu estava brincalhão....talvez demais. Não sei. Não sei.

O que sei é que me dói por dentro, como se tivesse sido moído, como se fosse EU e não minha mã que tivesse um prolapso dos órgãos abdominais.

Só terei o silêncio resignado como companhia.

E mais uma vez, me torno o Sozinho no Sótão. 

Mais uma vez, sou rejeitado.

O que posso fazer?

Nada.

Nada.

Então, que assim seja. Ficarei em silêncio. Mudo, novamente, para o mundo.

Mudo. A língua me foi arrancada.

Que a morte chegue rápido, é tudo que desejo.

Que eu morra hoje mesmo, se assim puder.

Rejeitado no Sótão. Mais uma vez.

Mais uma vez.