Dizem, enchem-me o raio da circunfêrencia, dizem. Falam que deveria continuar. Continuar a fazer isto; ora, eu sempre fiz isso: basta olhar dentro de uma de minhas esquecidas gavetas. São como os entulhos cerebrais, sempre repletas de dizeres, estranhos dizeres, palavras e rimas que nem sempre rimam, mas falam sempre do mesmo, sempre daquilo que nunca entendi, que se entende por mim mesmo, ao menos acho que sou eu, não sei ao certo, não mais.
Dizem tanta coisa, dão tantos conselhos. Alguns mais nobres, outros dignos de serem encaminhados para a lata de lixo, orgânico ou não, é tudo a mesma merda. Tanta coisa mudou, nada mudou. Ciclos da vida, que se repetem. Ouroboros, em minhas costas impressa. Simboliza sim, a vida que é minha: a repetição de dias, lugares, pessoas. Sentimentos que nunca se vão, mesmo com tantos e tantos anos a acumularem peso em minhas costas, encher de entulho minha cachola.
Avistei hoje cedo, certa pessoa trajando farrapos, revirando o lixo alheio, em busca sabe-se lá de quê, de alimentos, de algo que possa ser o luxo da pessoa que o lixo revira. Por vezes, é assim que me sinto, revirando meu próprio lixão interno, doravante denominado cabeça, em busca de algo que preste, de algo relevbante a se dizer, de algo que algum dia me remova desta condição de mendigo de mim mesmo, de minha própria paranóia, refém de meus eternos medos, de minha eterna insegurança. Da certeza latente, perene, perpétua. Da sensação de ser sempre o inadequado, o incoerente, o estranho.
Ser estranho não é mal, diria parte incerta de minhas vozes internas. Quem quer ser apenas um ser tributável e quotidiano? Grande parte da humanidade de frangos e frangas, que tanto anseiam carro novo, bolsa nova, sapato novo, emprego mais desafiador, emprego mais rentável, casa na praia, tantas coisas, tão legais, tão relevantes. Tão imortais, que aqui ficarão enquanto a carne apodrece em um buraco escavado pelos seus sobreviventes. Enquanto os vermes de você se alimentam, lá estará sua casa, seu iPhone, seu carro. Imortais. Não é meu caso, de certa forma.
Se anseio coisas? Sim, eis que também sou frango humano, como todos que habitam este esférico galinheiro. Mas posso afirmar que tais coisas são bem diferentes. Aliás, a palavra chave aqui é esta, diferente. Humano, mas nem tanto quanto os outros? Nem tanto. Mas, aqui sempre esteve, esta nítida certeza de ser diferente. Problemas não existiriam se não houvesse dentro de mim certa porção que insiste em querer ser igual, em quere as mesmas coisa, em amar as mesmas matérias-primas, em rechaçar aquilo que tantos dizem ser dons e que muitas vezes considero maldições.
Cresço, envelheço, de dentro pra fora, de fora pra dentro, por todos os lados, em todas as células. Em todas as fibras de meu ser. Mas, até hoje não acho nada legal certas coisas que os normais de minha idade deveriam gostar. Ternos. Gravatas. Carros. Relacionamentos vazios. Status. Cresço, mas não cresço. E em um mundo como este em que vivo, me parece que os teimosos feito eu ou são vencidos pelo cansaço e pela necessidade fútil que a vida adulta exige, a exigência de que, para ser normal, para ser aceito, para ser respeitável, ter bom aspecto e ter sucesso, o primeiro passo é assassinar dentro de você toda esta vontade de apenas querer viver. Querer se divertir, querer acordar e ir para uma praia, curtir o sol, correr feito doido na areia, depois se jogar feito maluco nas ondas do mar. Crianção. Cresça! Compre carros, ternos, gravatas. Tenha relações com pessoas que você não gosta, tenha filhos. Tenha contas a pagar. Seja adulto!
Por mais boçal que possa ser, nunca quis tais coisas. Nunca. E apesar disto, sempre soube qual seria o custo de me recusar a deixar que me matem internamente. Sabia que seria para sempre solitário e que enlouqueceria, em certa altura do campeonato. Que abandonaria o páreo, deixaria meu luigar para uma pessoa normal, mais digna de mênção. Que desistiria.
Tal luta, de certa forma, foi-me inglória, pois a cada ano que passa, vejo que a luta sempre foi em vão. O mundo não mudará, as pessoas não se importarão, caso exista um maluco, um adultescente a menos no mundo. Ano após ano, mais matam o ser interno, e do lado de fora apenas resta uma casca de ser vivo, um adulto que não vive, existe. Por que sabe estar sozinho, e sabe que perdeu a batalha. De nada valem seus dons de criança grande para o mundo de adultos que o rodeia. Ninguém quer saber de canções ou rabiscos. Não se pode pagar por casas, carros, putas, - pagas ou não - geladeiras, sofás, IPTU, IPVA, DPVAT, ICMS, IPI, e tantos Is por aí com sonhos. Nenhuma pessoa pode se alimentar de papéis rabiscados, ainda que sejam tão orgânmicos quanto as caríssimas folhas de alface, tão saudáveis, tão verdes e frescas.
Logo, paro de escrever, paro de desenhar, paro de cantar e de tocar cordas. Paro com tudo, pois não é papel de adulto. Não é digno. Não é respeitável. O mundo venceu. Ele me diz o que devo ser - exatamente tudo aquilo que nunca quis ser. E como ainda me recuso a ser, cada dia é uma nova morte. Existem milhares de formas de se suicidar sem morrer. Viver é uma delas. Viver, desta forma, preso numa mentalidade juvenil, em um copro que deveria ser tudo aquilo que não é.
O mundo venceu. E tem vencido, sempre. Por 34 anos, ele venceu. E estou morto há exatamente tantos anos. Zumbi do mundo moderno. Cadáver adiado que não se reproduz nem se reproduzirá.
Amo tanto meus filhos, que não os quero pôr neste mundo desprovido de sentido.
Ora vejam. Cá está, mais do mesmo, a mesma repetição. O mesmo saco. "Lá está o eterno adolescente, chorando suas mágoas eternas."
E ainda me perguntam porquê parei de escrever.
Dizem tanta coisa, dão tantos conselhos. Alguns mais nobres, outros dignos de serem encaminhados para a lata de lixo, orgânico ou não, é tudo a mesma merda. Tanta coisa mudou, nada mudou. Ciclos da vida, que se repetem. Ouroboros, em minhas costas impressa. Simboliza sim, a vida que é minha: a repetição de dias, lugares, pessoas. Sentimentos que nunca se vão, mesmo com tantos e tantos anos a acumularem peso em minhas costas, encher de entulho minha cachola.
Avistei hoje cedo, certa pessoa trajando farrapos, revirando o lixo alheio, em busca sabe-se lá de quê, de alimentos, de algo que possa ser o luxo da pessoa que o lixo revira. Por vezes, é assim que me sinto, revirando meu próprio lixão interno, doravante denominado cabeça, em busca de algo que preste, de algo relevbante a se dizer, de algo que algum dia me remova desta condição de mendigo de mim mesmo, de minha própria paranóia, refém de meus eternos medos, de minha eterna insegurança. Da certeza latente, perene, perpétua. Da sensação de ser sempre o inadequado, o incoerente, o estranho.
Ser estranho não é mal, diria parte incerta de minhas vozes internas. Quem quer ser apenas um ser tributável e quotidiano? Grande parte da humanidade de frangos e frangas, que tanto anseiam carro novo, bolsa nova, sapato novo, emprego mais desafiador, emprego mais rentável, casa na praia, tantas coisas, tão legais, tão relevantes. Tão imortais, que aqui ficarão enquanto a carne apodrece em um buraco escavado pelos seus sobreviventes. Enquanto os vermes de você se alimentam, lá estará sua casa, seu iPhone, seu carro. Imortais. Não é meu caso, de certa forma.
Se anseio coisas? Sim, eis que também sou frango humano, como todos que habitam este esférico galinheiro. Mas posso afirmar que tais coisas são bem diferentes. Aliás, a palavra chave aqui é esta, diferente. Humano, mas nem tanto quanto os outros? Nem tanto. Mas, aqui sempre esteve, esta nítida certeza de ser diferente. Problemas não existiriam se não houvesse dentro de mim certa porção que insiste em querer ser igual, em quere as mesmas coisa, em amar as mesmas matérias-primas, em rechaçar aquilo que tantos dizem ser dons e que muitas vezes considero maldições.
Cresço, envelheço, de dentro pra fora, de fora pra dentro, por todos os lados, em todas as células. Em todas as fibras de meu ser. Mas, até hoje não acho nada legal certas coisas que os normais de minha idade deveriam gostar. Ternos. Gravatas. Carros. Relacionamentos vazios. Status. Cresço, mas não cresço. E em um mundo como este em que vivo, me parece que os teimosos feito eu ou são vencidos pelo cansaço e pela necessidade fútil que a vida adulta exige, a exigência de que, para ser normal, para ser aceito, para ser respeitável, ter bom aspecto e ter sucesso, o primeiro passo é assassinar dentro de você toda esta vontade de apenas querer viver. Querer se divertir, querer acordar e ir para uma praia, curtir o sol, correr feito doido na areia, depois se jogar feito maluco nas ondas do mar. Crianção. Cresça! Compre carros, ternos, gravatas. Tenha relações com pessoas que você não gosta, tenha filhos. Tenha contas a pagar. Seja adulto!
Por mais boçal que possa ser, nunca quis tais coisas. Nunca. E apesar disto, sempre soube qual seria o custo de me recusar a deixar que me matem internamente. Sabia que seria para sempre solitário e que enlouqueceria, em certa altura do campeonato. Que abandonaria o páreo, deixaria meu luigar para uma pessoa normal, mais digna de mênção. Que desistiria.
Tal luta, de certa forma, foi-me inglória, pois a cada ano que passa, vejo que a luta sempre foi em vão. O mundo não mudará, as pessoas não se importarão, caso exista um maluco, um adultescente a menos no mundo. Ano após ano, mais matam o ser interno, e do lado de fora apenas resta uma casca de ser vivo, um adulto que não vive, existe. Por que sabe estar sozinho, e sabe que perdeu a batalha. De nada valem seus dons de criança grande para o mundo de adultos que o rodeia. Ninguém quer saber de canções ou rabiscos. Não se pode pagar por casas, carros, putas, - pagas ou não - geladeiras, sofás, IPTU, IPVA, DPVAT, ICMS, IPI, e tantos Is por aí com sonhos. Nenhuma pessoa pode se alimentar de papéis rabiscados, ainda que sejam tão orgânmicos quanto as caríssimas folhas de alface, tão saudáveis, tão verdes e frescas.
Logo, paro de escrever, paro de desenhar, paro de cantar e de tocar cordas. Paro com tudo, pois não é papel de adulto. Não é digno. Não é respeitável. O mundo venceu. Ele me diz o que devo ser - exatamente tudo aquilo que nunca quis ser. E como ainda me recuso a ser, cada dia é uma nova morte. Existem milhares de formas de se suicidar sem morrer. Viver é uma delas. Viver, desta forma, preso numa mentalidade juvenil, em um copro que deveria ser tudo aquilo que não é.
O mundo venceu. E tem vencido, sempre. Por 34 anos, ele venceu. E estou morto há exatamente tantos anos. Zumbi do mundo moderno. Cadáver adiado que não se reproduz nem se reproduzirá.
Amo tanto meus filhos, que não os quero pôr neste mundo desprovido de sentido.
Ora vejam. Cá está, mais do mesmo, a mesma repetição. O mesmo saco. "Lá está o eterno adolescente, chorando suas mágoas eternas."
E ainda me perguntam porquê parei de escrever.